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ALICIA

Sarah me buscou na clínica de carro pra irmos pra casa onde aconteceria a festa. Eu fui completamente calada, sem falar um pio, sem mover um músculo, apenas existindo.

Por sorte na hora que chegamos ninguém nos notou pelo caminho diferente que fizemos pra subir pro quarto que eu me arrumaria.

— Tá bem?

Sentei na ponta da cama, assenti com o olhar fixo na parede e senti meu olho encher de lágrima.

— O que foi, Ali? Você não falou nada o caminho inteiro, tô achando estranho faz muito tempo, mas achei que era nervosismo. — ela disse ajoelhando na minha frente e apoiando os braços na minha perna.

Eu balancei a cabeça negativamente não querendo falar e limpei as lágrimas que rolaram involuntariamente pelo meu rosto.

— Vou chamar Eduarda então! — ela ameaçou se levantar, mas eu a puxei.

— Não, por favor, não. — minha voz saiu quase inaudível.

— Então desabafa comigo. — ela pediu preocupada. — É nervosismo?

— Sarah... — sussurrei e ela me olhou prestando atenção. — Eu tô com câncer.

Ela levou a mão na boca e arregalou os olhos, eu consegui enxergar os dela também se enchendo d'água.

— Eu não posso me casar. — disse deixando o choro vir de vez.

Que dor! Que dor quando eu descobri isso, que dor quando eu escutei sozinha os meus riscos, que dor! Eu perdi o meu pai pra essa maldita doença, me cuidei tanto, me mantive bem e agora isso.

Na hora que minha médica viu um caroço no meu seio esquerdo ela achou estranho e pediu pra eu marcar outros exames, eu não consegui, tive que perder a tarde inteira no hospital até que descobri.

Eu sabia que Patrick estava nervoso, eu sabia que ele sentia que tinha algo de estranho acontecendo, principalmente pelo fato de que eu não o respondi o dia todo bem no dia do nosso casamento.

— Não, pera! Você descobriu isso hoje? — ela disse tentando se acalmar.

— Sim, quase agora. — disse soluçando. — Eu não posso fazer isso com ele Sarah, eu não posso prendê-lo a mim.

— Mas Alicia ele te ama independente de qualquer coisa e nós vamos te ajudar a se curar, você tem uma energia tão positiva que é isso que você vai atrair pra você, confia! — ela pegou na minha mão.

— Você não entende qual é dessa doença, Sarah. — engoli o choro. — Meu Deus, o que vai ser de mim? o que vai ser do Patrick? o que vai ser da minha filha? — perguntei desesperadamente.

— Alicia!? — ela se levantou e segurou meu rosto com força me fazendo olhar pra ela. — Você vai ficar bem! Se preciso, eu junto todos os meus amigos com dinheiro pra pagar o melhor tratamento do mundo pra você e eu vou te acompanhar sempre.

— Eu não vou conseguir lutar contra isso! — disse com muito medo.

Tudo que se passava na minha cabeça era minha família e no meu pai. Minhas forças pra lidar com essa doença se esgotou no minuto que meu pai morreu, eu não acreditava que eu conseguiria sozinha.

— Claro que vai! — ela disse certa e confiante. — Você é a mulher mais otimista que eu conheci na vida, não fala isso de forma nenhuma.

Sorri pra ela em meio ao choro.

— Você que é incrível, Sarah. Obrigada por estar aqui comigo, por me ouvir. — disse. — Só que eu não consigo me casar agora e nem vou conseguir.

Era uma vez, AliOnde histórias criam vida. Descubra agora