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MARATONA 4/6

Alicia estava pálida, o braço dela colado no meu apertava com uma força que eu também não sabia que ela tinha e eu conseguia a sentir tremer.

Dei um passo à frente na direção daquele babaca, mas ela esticou o braço na minha frente me impedindo e se soltou de mim.

— O que você quer aqui, Rodrigo? — ela perguntou tentando manter a voz firme.

— Não posso andar mais pelo Rio de Janeiro, Alicia? — ele me olhou de cima a baixo.

— Suave então, vamo embora, galera? — Matheus disse puxando a Duda.

— Assim tão de pressa? Você ainda é bundão desse jeito, cara? — ele riu sarcástico.

Eduarda lançou aquele olhar que só ela sabia dar de ódio correndo nas veias pra ele enquanto os outros dois não estavam entendendo muita coisa.

— O que você quer aqui, Rodrigo? — Alicia repetiu.

— É o seguinte, Alicia. — ele ficou sério e ajeitou a postura. — Vim te levar embora, chega dessa palhaçada.

— Levar ela o que? — agora eu que ri debochado.

— Qual foi mano, se mete não, valeu!? Já se meteu demais na minha vida desde quando chegamos aqui. — ele disse sem olhar no meu olho.

— Irmão, pega teu rumo e volta pra onde você veio. — falei encarando ele.

Meu sangue começou a esquentar, essa era a merda. Jade tinha puxado Alicia pra perto do Phelipe junto com Duda e Matheus veio pro meu lado.

Eu não queria desapontar a Alicia em relação a minha mudança, mas esse cara não podia me tirar do sério assim e eu deixar barato.

— E você acha que você é quem pra decidir se eu levo ou não minha namorada? — ele cruzou os braços.

Eu gargalhei debochado. — Moleque, você é doente da cabeça? Você tem problemas mentais? Alicia não é tua namorada há muito tempo, namorado dela sou eu e se você não ralar da minha frente agora tu vai arrumar um problema. — disse colocando o dedo na cara dele.

— Ahhh, namorado? — ele disse surpreso direcionando o olhar pra Alicia. — Tá namorando o moleque que se meteu na nossa briga? É?

Ele ameaçou ir pra cima dela, mas eu entrei na frente.

— Vai embora, Rodrigo! — ela mandou com a voz trêmula.

Ele continuou olhando pra ela até direcionar o olhar pra mim e me encarar.

— Mete o pé mano. — Matheus disse.

Ele só soltou um riso debochado e virou as costas. Ficamos parados enquanto o via atravessar a rua.

O cara me lembrava muito o Vinicius e por isso meu sangue ferveu tão rápido, além do fato de que só de me lembrar do babaca com a Alicia na oficina me deixava com raiva.

— Caralho, esse é o teu ex? — Jade perguntou assustada.

Alicia assentiu ainda em choque.

— Bora pro carro que esse cara é doente demais. — Matheus disse.

Nós fomos andando em total silêncio até o carro, Alicia realmente não esboçava nenhuma reação e eu não sabia que ela tinha tanto medo assim desse cara.

— Gente, ele não é perigoso não? — Duda perguntou.

— Ele é garganta amor, fala e não faz. — Matheus respondeu.

— Sei lá, eu ficaria com medo. — ela deu de ombros. — Ele confundiu você com o seu irmão do lance da oficina.

— Foi o Patrick mesmo que me ajudou, eu só não contei pra vocês que eu me enganei. — Alicia falou pela primeira vez.

— Mentira? — Jade riu.

— Não, fui eu mesmo. — confirmei.

Eles ficaram rindo e voltamos pra casa no silêncio. Iríamos dormir uma última noite na casa da família deles e eu e Alicia subimos direto.

Ela foi tomar banho na frente e nem falou nada. Fiquei a esperando na cama.

— Tá assim por quê? — perguntei vendo ela sair do banheiro enrolada na toalha.

— Assim como? — se fez.

— Quieta? Retraída?

— Pensei que fosse óbvio, né? Eu pensei que nunca mais o veria e simplesmente ele aparece na minha frente, me achou como? Claro que eu fiquei em choque. — ela falou.

— Mas você pode ficar tranquila. Tu acha que eu vou deixar você ficar andando assim na rua sozinha com esse louco por aí? Tá doida. — falei.

— Ah não? E você vai ser o que? Meu guarda costas? — ela riu pegando roupa na mochila.

— Se for preciso... — dei de ombros.

— Isso não existe, Patrick. Eu vou ter que conviver com isso, você não vai ficar atrás de mim. — ela disse vestindo a calcinha.

— E se acontecer alguma coisa contigo? — perguntei bolado.

— Bom, eu não posso deixar de viver, né? — ela deu de ombros vestindo meu blusão e deitou na cama.

Ela me deu um beijo molhado e rápido e virou pro lado pra dormir. Fiquei maior tempão matutando aquilo e depois fui pro chuveiro, precisaria de um banho bem gelado pra me deixar dormir menos bolado do que eu já estava.

ALICIA

Foi muito difícil ver Rodrigo na minha frente dando de cara com minha nova realidade: amigos que amo, namorado que me faz feliz e uma vida nova realizada.

Eu tive medo. Não medo pelo meu físico, e sim nas coisas que ele poderia estragar. Fiquei em choque, não conversei bem com o Patrick, confesso e por isso ele ficou bem neurótico depois daquele dia.

Nós estávamos um domingo sem se falar. Voltei pra casa e ele foi pra dele e não trocamos nenhuma ideia pelo celular, silêncio total. E só daria de cara com ele hoje no trabalho.

A casa de Phelipe era bem mais longe do meu trabalho do que a minha antiga, então eu saia de casa mais cedo atrás do ônibus e ainda tinha que andar um pedaço pra chegar na academia.

Foi nessa caminhada que senti uma mão apertar em volta do meu braço, eu congelei mais uma vez, eu conhecia aquele toque pesado. Com minha outra mão eu puxei o fone de ouvido da minha orelha e me virei com força.

— Me solta! — eu gritei.

— Para de gritar. — ele mandou sussurrando.

— Me solta, Rodrigo! — eu berrei.

Ele fez careta de ódio e pegou no meu outro braço.

— Cala a boca, sua escrota. Você achou mesmo que eu ia deixar barato você ter me largado e construído outra vida? Hein...

— Você é completamente louco! — disse me balançando pra ele me soltar. — Eu nunca trocaria minha vida por você, aliás, não trocaria nenhuma outra vida por você.

— Ah é? Mas e a força? Você acha que você não vem? — ele disse tentando me arrastar.

Eu me prendi com toda força ao chão, forcei meu corpo a cair pra ele não conseguir me arrastar, até que vi do outro lado da rua José atravessando.

— JOSÉ!? — eu berrei desesperada. — José, pelo amor de Deus.

Era uma vez, AliOnde histórias criam vida. Descubra agora