MARATONA 5/6
Ele arregalou os olhos vendo a cena e atravessou sem nem olhar para os dois lados. Na hora Rodrigo me soltou e saiu correndo pra longe e eu fiquei largada ali no chão.
— O que aconteceu? — ele perguntou me ajudando a levantar.
— É o meu ex. — disse.
Instantaneamente comecei a chorar, eu não tinha nem me preparado pra isso, as lágrimas só escorriam desesperadamente.
José sem saber o que fazer, visivelmente (coitado) me puxou para um abraço meio sem jeito onde eu desabei de chorar no ombro dele, algo que por muito tempo eu não fazia.
Fiquei uns minutinhos assim, até que enxuguei minhas lágrimas me recuperando e fomos caminhando em silêncio até a academia.
— Meu Deus, que que aconteceu? — Patrick disse desesperado largando as luvas de luta no chão e correndo na minha direção. — Por que você chorou? E por que José tá vindo com você?
Eu apontei com a cabeça pro escritório dele e ele assentiu. Mandei um "obrigada" só com os lábios pro José que piscou pra mim e nós fomos pro escritório.
— Rodrigo acabou de me abordar na rua. — contei.
— Que!? Aqui? — ele franziu as sobrancelhas.
— Sim, ali no sinal que atravessa. Ele segurou meu braço e disse que me levaria a força, só que José chegou na hora. — falei.
— Não, não, não. — balançou a cabeça negativamente. — Porra, que que eu faço agora? Como ele tá descobrindo por onde você anda, Alicia? Não posso te deixar andar sozinha na rua. Eu vou matar esse cara.
— Não fala isso, amor. — larguei minha bolsa e segurei o rosto dele. — Não vai matar ninguém, isso vai passar, ele vai desistir.
— Não Alicia, melhor você ficar lá em casa, nós podemos vir juntos pra cá, você comigo, não confio mais em te deixar sozinha. — disse ele relutando.
— Amor... — suspirei. — Eu sei que é complicado, mas como eu te falei não posso ficar refém, tenta me compreender.
— Vai ficar contando com a sorte? — cruzou os braços.
— Não, mas ele vai parar, tenho certeza. — falei com convicção.
— Hum, sei. — ele fez muxoxo.
— Confia! — fiz carinho na bochecha dela. — Te amo.
— Te amo, mas você é muito teimosa. — disse dando um selinho muito do mal dado em mim.
— Ah, eu? — ri. Ele assentiu. — Para de graça e me dá um beijo direito.
Ele revirou os olhos, segurou meu queixo com força e enfiou a língua na minha boca, literalmente. Foi um beijo mais prolongado, mas ele realmente queria se fazer de difícil então se afastou rápido.
— Vou subir, tenho que dar aula. — avisei pegando minha bolsa de volta.
— Vai lá. — ele disse me vendo ir até a porta apoiado na mesa. — Só quero dizer que eu não concordo com essa atitude de ver no que dá.
— Relaxa! — pisquei pra ele e sai do escritório.
PATRICK
Não concordava nem um pouco com o fato de Alicia ficar por aí com esse maluco descontrolado a seguindo. Não era seguro e também não entendia o porquê dela não aceitar ficar perto de mim.
Mas também larguei de mão sobre pensar no assunto, não ia ficar batendo cabeça e nem brigando, porque Alicia podia te ganhar no bom humor, mas também ganhava na teimosia, justamente no que ela reclamava de mim.
Ela terminou de dar aula, eu também dei a última do dia e nós fomos comer na rua. Ela insistiu em conversar sobre outros assuntos, então nem tocamos na história do ex.
Depois fiquei com ela no ponto de ônibus mesmo ela batendo pé que estava bem, eu fiquei. Só voltei pra academia depois de ver ela sentadinha segura lá.
— Porra, demorou pra caralho, quase treinei sem você. — José disse assim que eu cheguei.
— Aí talvez você teria alguma chance de ganhar. — brinquei com ele rindo.
— Tomar no cu vai, chefinho? — ele sorriu falso e subiu no ringue.
— Então bora! — disse pegando minha luva e subi com ele.
Nós costumávamos fazer apostas no final da noite na luta, era eu e ele, ele e Luís, Luís e eu e as vezes alguns alunos mais velhos também topavam e a gente se divertia.
Ficamos nessa brincadeira até quase uma hora da manhã, academia já fechada e a gente lá, era sempre assim. Fui tomar um banho por lá mesmo, troquei de roupa, fui pro escritório guardar umas papeladas e na preguiça sentei pra mexer um pouco no celular.
Eu sempre fazia isso, era fácil ir embora, pegar a moto e partir, mas cadê que a preguiça deixava?
Fui falar com minha gata no whatsapp e nada, era estranho, nunca dormíamos sem falar um com outro antes, a não ser que ela tivesse muito cansada o que era bem possível.
Larguei a preguiça de lado, peguei minha mochila no armário, a chave da moto no compartimento da frente e fechei a academia. Quando eu ia subir na moto, meu telefone começou a tocar sinalizando que era a Jade.
Ligação
Patrick: alô?
Jade: Oi migo, deixa eu te falar, Alicia tá com você né? Ela não responde minhas mensagens.Meu coração acelerou na hora.
Patrick: Como assim Jade? Deixei a Alicia no ônibus umas três horas atrás, é um tipo de brincadeira de vocês duas?
Jade: Que? Não, ela realmente não chegou.
Jade: O que tá acontecendo?
Jade: ela não tá com ele? (phelipe atrás)
Patrick: Caralho Jade, vou desligar.
Jade: Não, pera, fala. O que aconteceu?
Patrick: Aquele ex dela. Eu não vou falar muito, tenho que encontrar ela. Tchau.Desliguei na cara dela. Não podia perder tempo, eu não fazia ideia do que fazer, fiquei simplesmente desnorteado e me sentindo culpado.
Avistei os moleques no barzinho do lado da academia que direto eles ficavam, desliguei a moto, desci dela e corri neles.
— Ué, pensei que não fosse vir depois da surra. — José falou e eles riram.
— Mano, a Alicia desapareceu. — disse nervoso e o sorriso deles desmancharam na hora.
— Como assim desapareceu, Patrick? — Luís perguntou sem entender.
— Não sei, ela não chegou em casa. — disse procurando o número do Matheus na minha agenda pra perguntar dela.
— Já tentou ligar pra ela? — Bené perguntou. Ele não era da academia, mas sempre bebia com eles.
Eu balancei a cabeça negativamente. — Jade disse que ela não responde e realmente minha mensagem não chegou pra ela até agora.
— Vou tentar aqui. — ele falou e eu assenti colocando o telefone no ouvido tentando o Matheus.
Ele também não sabia de nada, inclusive deixei mais dois desesperados. Nada com Alicia também. Comecei a ficar perdido, o desespero tomar conta e principalmente o ódio.
— Caralho, eu vou matar esse cara! — eu disse engolindo a seco tomado pelo ódio com a mão na cabeça.
— Não tem nenhum jeito de achar ela? — José perguntou.
— Que jeito teria, mano? — respondi grosso. Ele levantou as mãos em sinal de rendição. — Caralho...
Arregalei os olhos ao lembrar que a única coisa que eu a convenci de fazer era compartilhar a localização dela comigo pelas mensagens do celular.
— Eles estão aqui perto em botafogo. — disse.
— Bora lá! — Bené disse colocando dinheiro em cima da mesa pra pagar e se levantando.
A minha sorte é que Bené tava aqui de carro. Entramos no carro os quatro, coloquei no gps pra ele e ele pisou fundo.
Não conseguia nem falar nada, muito menos explicar o que eu tava sentindo. Era uma mistura de culpa e ódio, nada me curaria mais do que quebrar a cara dele e nada me impediria.
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Era uma vez, Ali
Fanfictionautora: juwebs_ Quando Tina, a filha mais velha de um casal, completa 10 anos de idade, seu pai conta a história do grande amor da sua vida... e uma história de amor nunca foi tão difícil de ser contada: uma mulher sonhadora, dois amores, alguns ami...