Subi pra minha sala e mesmo que Patrick estivesse próximo ele não falou nada como das últimas vezes, apenas ficou me encarando sério enquanto me acompanhava com a cabeça até o segundo andar.
Tentei ignorar ao máximo, depois da tarde boa e do beijo melhor ainda eu estava bem feliz pra dar aula para minhas alunas. Como era primeiro dia delas, fiz minha apresentação e dei aula livre, fizemos umas danças, deixei que elas improvisassem e assim fechamos as aulas. Elas me adoraram.
Teve uma sequência de mais duas aulas e eu fiquei chocada com a procura de ballet na academia e a quantidade de alunas. Se não fosse pelos problemas eu e Alana iríamos perturbar aos donos da academia por um espetáculo.
— Tchau professora! — Daphne, uma aluna, acenou ao sair da sala. Era a última.
— Tchau amor, até quinta! — acenei de volta com um sorriso no rosto.
Como todo dia comecei a organizar minhas coisas, guardar minha sapatilha, desligar som e tudo que eu esperava era que eu tivesse paz ao sair daqui, pudesse ir embora e fim, não ter que aguentar a perturbação por parte de Patrick, mas quando vi a sombra pela porta já sabia que vinha estresse.
— Quero falar com você! — ele disse abrindo a porta e vindo na minha direção.
— Já disse que não tenho nada pra falar com você, aliás, cansada de repetir. — respondi sem saco.
— Tá, mas eu quero falar! — ele falou autoritário parando na minha frente.
Arqueei as sobrancelhas colocando a minha bolsa no ombro e o ignorei passando em direção da porta.
— Caralho Alicia, eu também tô apaixonado por você. — ele disse e suspirou.
Eu virei de volta pra ele, ele ainda tava de costas.
— O que? — perguntei.
Só podia ter ouvido errado. Meu coração tava batendo com tanta força e rapidez que eu temi desmaiar.
— É isso Alicia, eu tô apaixonado por você. — ele se virou pra mim. — Te ignorei porque depois de termos nos acertado você veio com aquele papo louco de continuar ficando com Daniel, queria o que? A única coisa que eu podia fazer era me afastar.
— Mas é que ele disse... ele disse que você não ia continuar comigo, que você tava brincando, que não se apegava a ninguém. — gaguejei nervosa.
Ele suspirou. — ele sabe que eu nunca gostei de ninguém, e por isso eu não faço a mínima ideia so porquê e como eu sei que tô apaixonado por você, mas é verdade, Ali. — ele se aproximou colocando a mão no meu rosto.
— Isso não justifica você ter beijado a Rebeca, ter me ignorando depois de eu vir te dar apoio, nada disso justifica o seu modo de tratar as pessoas. — me afastei andando confusa pela sala.
— Beijei a Rebeca da mesma forma que você beijou o Daniel ontem, todas as vezes e não duvido nada que beijou hoje também, não beijou? — fiquei calada sem olhar pra ele.
— Tá, mas e seu modo de tratar as pessoas? — cruzei os braços.
— Eu preciso de ajuda, eu sei. Mas olha essa porrada de coisa que eu passo na minha vida, Alicia, eu cresci nessa confusão, eu fico tomado de raiva, de ódio e não sei como controlar. — ele disse todo confuso.
Me dava pena inclusive, mas isso não era problema e nem fardo meu. A confusão que era a cabeça dele estava a minha agora com tudo isso.
— E você quer ajuda como? — olhei nos olhos dele.
— Sei lá.. de uma psicóloga, de você.
— Minha ajuda? — franzi a sobrancelha. — Como eu vou te ajudar, Patrick?
— Cacete Alicia você é a pessoa mais paciente que eu conheço e a única que eu quero tão perto de mim, isso não é ajudar? Me dando umas alertadas, umas broncas... — ele disse se aproximando.
— Mas pra isso a gente precisaria estar juntos, sabe.. você sabe como. — fechei os olhos balançando a cabeça negativamente.
— Sei, e é isso mesmo que eu quero. — ele segurou minhas mãos.
— Não, não, não. — tirei minhas mãos da dele e ele franziu a sobrancelha. — Hoje eu beijei o Daniel.. e... e foi diferente.. não sei o que eu senti, não sei como eu tô, não sei. — disse toda confusa gaguejando e tentando me afastar, mas ele andava pra frente conforme eu ia indo pra trás.
— Diferente assim? — ele me puxou com toda força do mundo fazendo nossos corpos não estarem nem a 1cm de distância.
Nosso rosto estava frente a frente, ele estava olhando para os meus olhos, eu molhei os lábios olhando pra boca dele e sentindo sua respiração se misturando com a minha.
Ele colou nossos lábios iniciando um beijo calmo, lento e dessa vez, diferente do Daniel, veio um sentimento além de mim. Me subiu um calor, uma emoção, uma loucura doida dentro de mim, eram como borboletas na barriga.
Ele mordeu meus lábios e eu soltei um sorriso em meio ao beijo. Ele me encheu de selinhos e depois afastou o beijo.
— Eu quero que você seja minha. — ele sussurrou acarinhando meu rosto com o nariz.
— Sua? — repeti em choque.
— Eu sei que tem toda essa história do feminismo, mas não é minha completamente, é que eu quero que você esteja comigo. — ele explicou se afastando mais um pouco.
Eu ri fraco. — eu entendi.
— E aí? — ele me olhou esperançoso.
Respirei fundo. Era a segunda, terceira, sei lá que vez que eu cedia a ele, mas o que eu podia fazer? Ignorar meus sentimentos? E se ele estivesse disposto de verdade?
— Não sei, tenho medo de você fazer tudo isso de novo. — disse receosa.
— Caralho Alicia. — ele segurou meu rosto fazendo ficarmos olho a olho. — Eu. to. completamente. apaixonado. por. você. — disse pausadamente. — Se ligou? E quero que você esteja comigo em todas as fases, na merda que der isso daqui — olhou em volta — e na minha procura por melhorar.
— Tá falando sério? — perguntei.
— Óbvio que eu to. — ele disse sorrindo pra mim. — Pera aí!
O telefone dele começou a tocar alto pela sala, ele puxou do bolso e eu consegui ler pelo visor "Laura".
"oi; tudo; agora?; como assim?; calma Laura, nesse momento?; caralho, e se der merda?; a Alicia tá aqui; tá, vou te esperar!"
Ele estava com a feição preocupada e eu mais ainda na tensão de escutar.
— O que foi? — perguntei nervosa.
— Foi emitido um mandado de prisão contra meu pai, ele não tá em casa, Laura disse que ele deve ter sido avisado e tá vindo pra cá. — ele disse nervoso segurando meu braço pra sair da sala.
— Calma Patrick, pera. E daí? — perguntei sendo arrastada porta a fora.
— E daí que não importa o que falem eu sei que esse cara é louco e você não pode estar aqui. Ele não vai me machucar, mas a você pode pra me ferir. Vamo, eu vou chamar um uber pra você, Laura tá vindo pra cá com a polícia. — ele disse parando no meio da escada.
— Eu não vou! — prendi meu pé contra o chão. Ele arqueou as sobrancelhas. — Vou ficar aqui com você!
— Alicia, esse cara é louco, vãobora. — me puxou mais uma vez, mas eu me mantive firme. — Pelo menos fica no meu escritório, por favor.
— Tá, mas embora eu não vou. — cedi e ele assentiu descendo comigo.
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Era uma vez, Ali
Hayran Kurguautora: juwebs_ Quando Tina, a filha mais velha de um casal, completa 10 anos de idade, seu pai conta a história do grande amor da sua vida... e uma história de amor nunca foi tão difícil de ser contada: uma mulher sonhadora, dois amores, alguns ami...