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Nós recuperamos a pose, dei só uma ajeitada no meu cabelo e sequei minhas lágrimas.

Precisávamos avisar o pessoal que não rolaria mais casamento e por decisão minha eu mesma falaria e contaria totalmente a verdade.

Eu sentia o quanto Patrick estava arrasado e Sarah preocupada. Com certeza eu também não estava bem, mas consegui com Deus a força necessária pra encarar tudo de frente.

Quando Sarah apareceu no alto das escadas e desceu, todo mundo olhou sorrindo e animados, mas foi só perceber ela cabisbaixa e os sorrisos desmancharam e nós aparecemos descendo também.

— Preciso da atenção de vocês! — disse séria.

Matheus desligou o som franzindo a sobrancelha e todos se voltaram pra mim. Sarah se juntou a eles.

— Tem certeza que quer fazer isso? — Patrick sussurrou no meu ouvido.

Eu assenti apertando a mão dele com força e sorrindo fraco o passando segurança.

— O que foi, filha? — minha mãe deu um passo à frente e colocou a taça de lado.

— Nós não vamos mais casar. — falei. Todos fizeram um som de interrogação e Sarah fez sinal de calma pra eles. — Antes de contar o verdadeiro motivo pra isso, eu também preciso dizer algumas coisas.

Olhei pro lado e enxerguei minha filha sentada no chão no colo de Karine, irmã do Matheus. Karine estava prestando atenção em mim, mas ali com as crianças.

Eu queria desabar, eu não tinha visto minha Tina depois de ter tido a notícia, mas fechei os olhos, prestei atenção na minha respiração e voltei minha atenção ao Patrick.

— Isso é muito doloroso pra mim e eu sei que pra você também, eu queria deixar o momento menos pior pra nós dois e dizer o que eu tinha programado pra dizer no minuto seguinte de dizer "aceito".

— Não precisa... — ele disse baixo e eu vi uma lágrima cair lentamente no seu rosto.

Eu levei minha mão até sua bochecha e a enxuguei fazendo carinho.

— Quando me decidi vir morar pra cá, eu era a pessoa mais ansiosa do mundo, estava vindo por influência do meu melhor amigo e por uma vida mais independente, a maneira como vim não foi das melhores, tive que aguentar surtos atrás de surtos durante boas horas de viagem ao lado do meu ex doido... — ri de nervoso. — e nesse caminho, chegando aqui, conheci esse ser. Ele me ajudou sem ao menos me conhecer, me defendeu daquele cara que um dia eu disse "eu te amo" e depois sem nem me dizer o nome foi embora. Eu o denominei para os meus amigos de anjo da guarda, foi engraçado. Eu só sei que a minha maior vontade era dizer obrigada pra ele mais algumas vezes, até que eu o encontrei de repente no corredor da faculdade ou a menos achei que encontrei. Sim, eu o confundi com o irmão. E mais uma vez, foi tão engraçado. — Daniel e meus amigos riram, mas também pareciam preocupados. — Depois fui na casa deles, e de verdade, eu fiquei em choque. Existiam dois!? Como assim? E como eu confundi? Afinal, quem conhece sabe que um não tem absolutamente nada a ver com o outro. Mas ok, eu segui minha vida, detalhe: ficando com o Daniel. Esse aqui me tratava que nem um ogro, gostava de implicar comigo, mas também era ignorante e puta merda aquela história de a gente gosta dos que maltratam será mesmo que é verdade? Tá, ele não me maltratou, mas me deixava intrigada, até que ele me deu um emprego e sem querer, um tempo depois, magoamos um grande amigo e irmão, principalmente porque pelo menos eu me apaixonei por ele bem rápido. Enfim, aonde eu quero chegar? Eu demorei pra perceber, mas o meu anjo da guarda também é o amor da minha vida. É o cara que eu não me incomodo de dividir minhas contas, dividir afazeres e dividir carinho. É o cara que me deu o maior presente da minha vida. — apontei pra Tina com os olhos cheios de lágrima. — É o cara que eu passaria minha vida inteirinha. E por último, é o cara que eu diria sim mil vezes em um altar, uma praia, ou seja lá onde for. Eu te amo de todo o meu coração e acredito que todos saibam disso.

— Eu também te amo, meu amor! — ele disse com o olhar repleto de medo.

— Mas a vida não é fácil. Quem disse que seria? E hoje cedo eu descobri algo que muda todo o rumo da minha história, pelo menos por enquanto. — soltei uma mão da dele e me virei pra todo mundo. — Eu descobri portar um câncer de mama e...

Minha mãe levou a mão na boca e instantaneamente a vi chorar, assim como Matheus, Karine e o tio Rafael, afinal, eles tinham passado por muito por conta dessa doença.

— E eu não poderia de jeito nenhum ignorar e casar, até porque eu não quero prender o grande amor da minha vida assim sem saber do amanhã, apesar dele querer. — sorri pra ele.

Eu dizia com muita calma, mas é óbvio que dentro de mim eu estava sentindo um aperto no coração enorme e estava muito triste.

Os quatro vieram me abraçar assim que terminei de falar e de todos, o que eu mais escutava chorar, era claro que a minha mãe. E isso acabava comigo.

— Você vai ficar bem? Diz pra mim que vai, minha filha. Eu não vou aguentar te perder. — ela disse segurando meu rosto e soluçando.

— Ela vai ficar bem, May. Não a deixe nervosa! — tio Rafael a segurou.

— Eu vou ficar, mãe. Confie nele. — disse e ela assentiu sem conseguir parar de chorar. Por pouco eu também não suportaria.

— Alicia, quero que você saiba que você vai travar essa batalha e o seu final vai ser diferente do que o que a gente passou. Eu confio muito na sua força e na sua energia. — Karine disse com a mão no meu ombro, eu assenti pra ela.

— Ô minha amiga... — Matheus não conseguia nem falar, apenas me puxou pra um abraço de novo.

Todo mundo me abraçou e disse palavras reconfortantes, eu me senti um pouco mais aliviada por sinal, mas eu sabia que ninguém estava.

Minha mãe não parava de chorar abraçando o namorado dela, os meus amigos estavam em choque e o meu namorado nem falar falava, parecia avoado.

— Vamos? Eu levo vocês em casa! — Sarah chegou perto pra falar.

— Sim Sa, obrigada! — sorri pra ela em agradecimento.

Ela foi chamar Patrick que estava em um canto sozinho e também chamou Sophia. Sophia estava grandinha já, eu sabia que também carregava tristeza com ela só de ouvir aquilo tudo e eu com certeza quando estivesse melhor sentaria pra conversar com ela.

— Vamos com a mamãe? — estiquei meus braços pra Tina que agora estava no colo de Luís. Ela rapidamente abriu o sorrisão dela e se esticou pra mim. — Gente, obrigada por estarem aqui, eu vou embora agora, mas quero que aproveitem o jantar por mim. Boa noite!

Era uma vez, AliOnde histórias criam vida. Descubra agora