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Ela soltou a frase e saiu do escritório pisando fundo. Soltei a Rebeca e fui correndo atrás dela.

— Alicia, espera. Espera cara, para de andar. — pedia enquanto seguia ela.

— "Alicia, espera?" — ela se virou com raiva.

— Você não vai dar atenção a isso, né? — Rebeca perguntou debochada atrás de mim. A ignorei.

— Você é um babaca. — Alicia disse com todas as letras. Balancei a cabeça negativamente. — E eu sou uma idiota.

— Idiota por quê, Ali? — me aproximei dela.

— Ali? Ali é o caralho, Patrick. Você tá me ignorando, eu cheguei a pensar que era pelo seu momento, com tudo que aconteceu, mas foi pra isso... pra isso... — ela apontou sarcástica pra Rebeca.

— Garota, eu tô te escutando ta? — Rebeca avançou e eu coloquei a mão na frente dela.

— Mano, Rebeca, vai embora por favor! — pedi olhando pra ela.

— Sério? — ela me olhou com os braços cruzados. Eu só assenti voltando a olhar pra Alicia que respirava ofegantemente.

Rebeca soltou uma risada sarcástica, mas cheia de raiva porque eu conhecia bem ela e foi embora.

— Você me usou. — ela me empurrou. — Me usou pra provocar teu irmão. — me empurrou de novo.

— Me usou pra me fazer dizer que gostava de você. — continuou me empurrando com lágrima no olho.

— E quando ele ficou sabendo de nós dois você mudou, porque não te satisfazia mais. Você me usou porque você é um babaca.

Ela me empurrou mais uma vez, eu segurei os braços dela.

— Não te usei, Alicia. Você tá viajando. — disse.

— Viajando? Eu deveria ter escutado o Daniel, eu fui uma imbecil, uma burra, uma inocente. — ela falou mais alto.

— Escutado o Daniel? — soltei ela franzindo as sobrancelhas.

— Sim, escutado o Daniel. — me encarou reafirmando.

— Só podia ter dedo daquele moleque nisso. — balancei a cabeça negativamente bufando.

— E é com isso que você tá preocupado, né? — ela me olhou com raiva. — Sério Patrick, continua me ignorando, eu vou te ignorar e é isso. Não quero mais nada de você além do meu emprego.

— É assim? — perguntei e ela assentiu decidida.

— É foda admitir que sente algo por alguém que no fundo só queria brincar com você, acho que eu tinha que aprender que a vida não é tão linda assim. — ela disse com um sorriso debochado no rosto e saiu andando.

Eu não pude fazer nada, muito menos ir atrás, eu não tinha o que falar. Odiava o fato de ter magoado a expectativa dela com o mundo, mas era assim que o mundo era.

Eu não a usei, pelo contrário, se eu tivesse usado seria mais fácil e mais normal pra mim, o caso é que eu me envolvi. Mas me sentia perdido, sem entender o que sentir e o que fazer.

Me subiu uma puta vontade de sair socando tudo, gritando com ódio por aí, só que apenas suspirei e voltei pro meu escritório.

Fiquei tentando pensar sobre o que o Daniel tinha falado pra mina, mas não tinha nem como eu perguntar, não tinha esse direito. O fato é que eu nem sei como vou lidar com não falar com ela, mas agora não tinha mais jeito.

Liguei pra Sarah pedindo pra ficar com Sophia hoje, porque ela era a única pessoa no mundo que me fazia esquecer dos problemas e quando ela consentiu deixei a moto em casa e peguei um uber pra buscá-la.

ALICIA

A expectativa que eu tinha do mundo por alguns segundos caiu no meu conceito, só que logo recuperei. Não ia me sentir assim por um simples moleque que apareceu na minha vida por acaso.

Tinha tanta coisa boa pra viver ainda, último semestre de faculdade, formatura, curtir meu casal de volta juntos, me divertir por aí com Jade e Phelipe, visitar minha mãe, dar minhas aulas e quem sabe continuar me divertindo com o Daniel.

Sai da academia deixando cair lágrimas, mas logo dei aquela respirada funda e limpei meu rosto. Hoje era sábado, não ia ficar assim.

Cheguei em casa, os três lindos estavam na mesa filando um rango e eu aproveitei pra acompanha-los.

— Não sei porquê o Matheus não mora logo com a gente, não sai daqui nunca. — disse colocando um pouco de arroz no prato.

— Quatro nessa casa não dá. — Matheus balançou a cabeça negativamente.

— Gente, eu juro que eu vou começar a procurar um lugar pra eu ficar e vou desocupar o sofá de vocês. — Jade disse receosa.

— Amiga, nossa casa é sua casa, não precisa ter pressa. — Duda disse.

— Mas Jade, se tu quiser mais conforto, o Phelipe mora sozinha num apê grandão. Conversa com ele, se pá tu nem precisa pagar nada. — Matheus sugeriu.

— É, posso falar com ele, mas ele vai ficar dando pitaco na minha vida. — ela revirou os olhos.

— Nada que ele tenha errado, né querida? Porque ele sempre esteve certo quanto ao Leandro. — o defendi e ela me mandou língua.

Nós rimos.

— Mas sério, por que com oito anos de namoro vocês não moram juntos logo? Vem pra cá Matheus, se eu sair melhor ainda. — ela perguntou curiosa.

— Acabamos de voltar, Jade. Não precisamos ter pressa com nada. — Eduarda respondeu.

— Se bem que acho que esse é o próximo passo, né? — ele deu um cheiro no pescoço dela que riu com as cosquinha.

— Hummmm, tão namorando, tão namorando... — comecei a brincadeira e Jade me acompanhou.

— Idiotas! — ele disse tacando um grão de arroz em mim.

— Seu nojento. — reclamei.

— E o Patrick, amiga? Ainda te ignorando? — Eduarda perguntou.

— Aí, não quero falar sobre esse assunto. Qual é a boa de hoje? — estampei um sorriso animado no rosto.

— Eita, deu merda. — eles se entreolharam. Fiz muxoxo. — Enfim, tem nada não, a não ser que a gente vá pra algum barzinho na Olégario.

— Por mim pode ser. Queria beber e beber. — falei.

— Então vamos só nós, chama o Phelipe e avisa que a tropa tá de volta. — Eduarda falou.

— Nada de casal hoje lá. — Matheus disse.

— Isso é pra eu não chamar Livia? — Jade riu. — Porque assim, não sei se vocês sabem, mas vocês são o maior casal dos casais.

— Não importa, nós somos a exceção. — Matheus se vangloriou se achando. — Hoje é só a tropa!

Então ficou decidido que nós iríamos pro barzinho, cuidei da louça com a Jade, os pombinhos foram cochilar e depois eu e Jade colocamos um biquíni pra partir pra piscina do condomínio.

Era uma vez, AliOnde histórias criam vida. Descubra agora