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PATRICK

Hoje pra aliviar meu estresse dei a sorte de Leandro passar no Rio de Janeiro na vinda dele pro Brasil e como sempre marcamos uma boa lutinha básica, precisava descarregar.

A semana toda entrei no ritmo estressado, me tranquei no escritório ficando apenas eu e as papeladas, deixei para os moleques minhas turmas pra eles darem aula e só saia pra treinar.

O dia todo com minha cabeça quase explodindo de tantos pensamentos que rondavam por ela. Eu não conseguia me conformar de jeito nenhum com o término com a Alicia e encontrei outra forma de lidar com isso, que era a raiva, já que eu não fazia muito o tipo de ficar triste pelos cantos.

Alicia terminou comigo e fim, não quis conversar, não quis nada e ainda se demitiu por meio do Matheus e fugiu, ou seja, perdi mesmo a mina e não esperava que fosse dessa forma, mas foda-se, iria viver minha vida como sempre vivi.

— Fala aí mano!? — Leandro entrou direto no meu escritório.

Eu levantei rindo da minha cadeira, ô saudade que esse moleque fazia. Apertei a mão dele com força e o abracei batendo em suas costas.

— Veio de fora do país perder? — provoquei.

— Nunca deixa de ser convencido não? — ele riu.

— Felizmente não, na luta eu me garanto. — bati no peito e voltei pra trás da minha mesa. — Tua mina veio aí também?

— Sim, mas foi visitar a família. — contou. — Tem notícias da Jade?

— Namorando em uma e pensando em outra? — arqueei a sobrancelha com um sorriso provocativo. — Que eu saiba ela também está fora, em Nova Iorque, a trabalho.

— É, eu vi pelo instagram.

— Perguntou por quê então? — ele ficou calado. Eu ri. — Ah, já sei. Ela tá namorando ainda com o Phelipe.

— Hum, beleza, que ela seja feliz. — ele deu de ombros.

— Aham, deixa ela lá e você fica na sua com tua mina. — aconselhei.

— Tô na minha, rapa. — ele riu. — E Alicia?

— Tá pra lá também. — ri, mas depois engoli a seco.

— Fala a verdade, tá mal pra caralho, né não? — ele fez careta.

— Tô nada Leandro, eu fico mal quando? — dei de ombros. — Tô fora, terminou já era.

— Sei. — ele debochou e eu mandei o dedo do meio.

— Foda-se mulher, eu quero é saber de luta. Tá em forma mesmo? — perguntou.

— Tá de sacanagem? — fiz cara de tédio.

— Não mano, é sério. Veio um olheiro comigo pra te ver. — ele contou.

— Hum, mole. Não esquece que foi eu que fui convidado no teu lugar, viu filhote?

— Joga na cara mermo. — ele riu.

— Tu é bom, mas eu sou melhor. — pisquei pra ele.

Ele mandou o cara vir porque ele tinha passado em outro lugar antes e eu dei uma aquecida enquanto ele não chegava.

Não que eu tivesse pretensão de aceitar quaisquer proposta, mas não custava nada mostrar minhas habilidades. Eu sabia que eu era bom.

Eu e Leandro treinamos juntos antes, como sempre eu acabei com ele e chamei José pra lutar comigo quando o cara chegasse, que não demorou muito.

Leandro nos apresentou porque não era o mesmo olheiro que me notou que inclusive era sogro dele hoje e eu subi no ringue com o José. Eu gastava o José, mas o cara era bom também, quem sabe o cara não notasse ele.

— É, tá foda ganhar de você. — José disse depois de eu o mobilizar e bateu no chão.

Sorri vitorioso e olhei para os dois, o cara tava anotando em um prancheta e Leandro balançando a cabeça positivamente em aprovação.

Estiquei a mão pro José levantar e descemos do ringue parando de frente pros dois.

— Bom, muito bom. — o cara assentiu. — Seu nome, por favor?

— José. — ele respondeu olhando pra mim e pro Leandro com as sobrancelhas franzidas.

— Tem algum lugar por aqui que nós quatro podemos conversar mais a sós? — perguntou olhando em volta.

— Tem sim, meu escritório. — falei.

Acompanhei a todos até lá, dei uma diminuída no ar, sentamos no sofá e o cara decidiu ficar em pé.

— Como conversei com o Leandro, meu chefe está a procura de novos lutadores com um bom potencial pra formar a equipe dele. — assentimos. — Acredito que vocês se encaixem bem no perfil pra isso, estão claramente convidados a se juntar.

— Tô dentro demais! — José sorriu bobão batendo uma mão na outra e esfregando.

— Porém, assim como o Leandro, a vida de vocês será viajar, então tem muito a que se pensar. — ele complementou.

— Continuo dentro, onde assino? — ele perguntou animado.

— E você, Patrick? — ele o ignorou me olhando.

Eu não sabia sinceramente o que eu queria e como faria isso. Tentei refletir rápido o que me prendia aqui e além da academia e minha filha, bom, tinha a Alicia.

Só que Alicia não podia ser um obstáculo pra mim, não podia. Ela foi embora, não falou mais comigo e por que eu não poderia fazer o mesmo? Eu entendia o porquê de ela ser um receio, ir embora pra tão longe significava dar um fim mesmo a qualquer possibilidade de volta.

Mas não tinha volta, eu sabia. Eu também precisava fugir pra esquecer tudo que nós vivemos, pra conhecer coisas novas, pra explorar minhas habilidades e me dar bem com isso. Foda-se mulher, assim como Leandro falou, e bora viver!

Tava cansado de viver só na raiva, no estresse, na insatisfação, ela me fez sair disso e me fez voltar também, talvez isso seria um chance de eu me livrar de vez disso tudo por mim mesmo.

— Meu único problema é a academia, preciso achar alguém de confiança pra chefiar ela. — disse.

— Tá maluco, já pensei em alguém aqui e agora. — franzi a sobrancelha pro José. — Luís po, tu sabe que ele é competente pra caralho e sempre te ajudou na burocracia.

— Ah é, verdade, mas ele precisa aceitar po, não dá pra ser assim. — disse.

— Se ele aceitasse, você iria? — o cara perguntou.

— Se ele aceitar... — respirei fundo. — sim.

— Ótimo! — o cara exclamou e pegou o celular discando algum número.

Eu, José e Leandro fizemos um hi-5 engraçado pra caralho. José foi atrás do Luís pra eu conversar com ele e Leandro avisou que iria com o cara em outro lugar.

Enquanto Luís não chegava fiquei pensando agora no meu único problema: minha filha. Não era como os outros caras que usavam da desculpa "eu tenho que trabalhar" e sumiam. Porra, eu era agarradão na minha bebê e não aguento muito tempo longe dela não, mas Sarah sempre me apoiou em relação a isso, da outra vez mandou eu ir e eu que não aceitei.

Eu sabia que tinham outras possibilidades como mandarmos ela pra me visitar e eu mesmo vir, mas poxa, eu sei que ela sentiria falta.

Dei uma ligada pra Sarah contando, ela me encorajou, me deu vários conselhos e no fim decidi que iria sim, só precisava de um dia especial antes de ir com Sophia pra fazer ela ficar bem com isso e eu também.

Era uma vez, AliOnde histórias criam vida. Descubra agora