Era uma vez, Ali

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JADE

Nossa vida de colorida passou a ser preto e branco.  Nos primeiros dias, ninguém se encontrou. Ninguém se falou, ninguém ao menos deu um "alô" pra avisar que estava ali. Não, todos nós vivemos uma espécie de quarentena de luto.

Eu cheguei a pensar que jamais seríamos os mesmos, que nunca mais seríamos amigos e nunca mais nos reencontraríamos, afinal, que sentido teria?

Só que todos percebemos ao mesmo tempo que sozinhos estávamos vulneráveis, a dor era maior, a saudade destruía, cortava o peito e a memória dava um nó na garganta.

Matheus e Eduarda foram os primeiros a aparecerem. Nós não dávamos um sorriso um pro outro, nada. Só nos olhávamos sem ter o que falar nos enchendo de chocolate, mas era suficiente saber que estávamos juntos.

Depois Sarah veio até nós, fizemos um jantar em memória da nossa grande amiga. Não foi um jantar legal, foi triste, mas tentamos falar de coisas boas que lembravam dela.

Patrick desapareceu do mapa, simplesmente sumiu. Nem com Sarah ele falava. Nós entendíamos, ninguém imaginava a dor que vinha de dentro dele.

Até que do nada ele apareceu na nossa porta com Tina num braço, Scarlet no bebê conforto no outro e pedindo por Sophia. Seu rosto estava inchado, o cabelo grande e a barba maior ainda.

Por fim, mudamos. Nossa vida mudou, tudo mudou. Percebemos depois de perder que Alicia era uma peça chave na vida em particular de cada um e era lindo. O dia que sentamos pra falar sobre essas coisas foi lindo.

Na minha vida ela tornou meus problemas com minha família mais leves. Como, Jade? Quando a conheci tinha acabado de me transferir da faculdade que eu estudava por ter batido na garota, ela apareceu e foi minha amiga. Não quis saber de problemas, não se meteu nos meus erros nem nos meus acertos, apenas trouxe luz. Era tão incrível estar com ela, que quando eu sofria, logo em seguida eu parava de me importar pela vibe boa que ela me passava e assim nunca mais sofri tanto com algo, só fui contornando os problemas.

Então se eu fosse dizer algo sobre ela, seria exatamente o que o Patrick disse na missa de sétimo dia "Alicia é luz" e é uma Alicia que te preenche e é uma Alicia que te faz vibrar só de estar por perto.

No final das contas ela se foi, mas deixou muita coisa importante pra trás e principalmente os melhores sentimentos.

Ela nos deixou as duas crianças mais amadas do nosso grupinho, Tina e Scarlet. Ela nos deixou um amigo que se tornou o melhor amigo de todo mundo, o Patrick, o cara era realmente foda. Se tornou foda. Estava sempre do nosso lado pra tudo. Nos deixou um grupo que se formou a partir dela que só iluminava os nossos dias e o mais importante, nos deixou o aprendizado de ser feliz independente de qualquer situação, porque tudo na vida passa.

Eu desejaria mais Alicia's ao mundo.

A vida de todos mudou. A mãe se casou de novo e o marido se tornou o maior porto seguro dela, além das netas, é claro.

Daniel e Laura estavam grávidos, sim, completamente grávidos. Laura não curtiu muito a ideia, mas depois que o baby Heitor nasceu foi tudo flores. Claro que a grande advogada não deixaria sua carreira pra trás, então Daniel que ficou de licença maternidade (contém ironia e risos) e super certíssima.

Matheus e Eduarda se tornaram os melhores tios do mundo, os bichinhos se tornaram tão fodas como arquitetos (e ainda pegaram um projeto milionário que depois eu conto melhor) que todo mês era uma viagem foda com os sobrinhos. Claro que separadamente, ninguém aguenta tanta criança que tinha nessa família juntas.

Phelipe cada vez melhor no mundo da medicina, estudando tanto e descobrindo tantas coisas, que eu diria que ele merecia levar o prêmio "harper avery" pra casa. E eu estava esperando terminar esse livrinho aqui, que se antes era mais sobre a Alicia, virou totalmente sobre ela.

Sarah continuou do jeitinho dela, sempre amiga, carinhosa, prestativa, e uma mãe sensacional, a diferença é que agora ela também dedicava parte de sua vida pra outras duas crianças: Tina e Scarlet e sinceramente, eu achava isso lindo.

Na vida do Patrick realmente tudo mudou. O avô deles infelizmente faleceu e mesmo de longe deixou uma herança milionária pra ele e pro irmão. E o que o lindo fez? Deu o projeto milionário nas mãos de Eduarda e Matheus que era nada mais nada menos que uma academia de talentos sensacional localizado no centro do Rio de Janeiro.

O lugar ficou incrível. Ficou foda num nível imensurável. Era luta, danças, aula de música, de tecnologia, se duvidar até de magia. E adivinhem o nome? A grande academia e mais desejada do Rio de Janeiro: Ali.

Claro que ele também se mudou pra pertinho da gente e os nossos encontros eram mais frequentes do que um dia na vida podíamos imaginar.

Ou seja, tudo mudou e tudo passou. O que não passaria e o que não esqueceríamos nunca era dela, da nossa eterna melhor amiga, da nossa fiel escudeira e dos seus ensinamentos deixados.

Pra sempre seremos Alicia.

FIM.