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Sabe... desde muito tempo eu dizia a mim mesma que o meu sonho era ser mãe e que independente da idade, da fase, de qualquer momento eu receberia a notícia da gravidez de forma mais especial do mundo.

Não foi diferente. Quando eu sentei no chão e comecei a chorar, relembrei meus sonhos e um sorriso enorme se formou no meu rosto, mas não dava pra esconder o medo que apareceu na minha mente.

Eu não podia ter certeza apenas com um teste de farmácia, mas quando eu li "grávida" eu tive certeza que eu estava esperando um filho, ou quem sabe, uma filha.

Ao mesmo tempo que eu agradecia por essa benção, eu me lembrei do momento, algo que eu não faria antes, mas me entristeci. Não tinha Patrick comigo, não tinha nem a minha mãe.

Esperei eu parar de tremer pelo menos um pouco, limpei minhas lágrimas e me levantei voltando pro meu quarto. Peguei meu celular com pressa e iniciei uma ligação que seria essencial pra mim, porque apesar de estarmos vivendo momentos diferentes, ele ainda era meu melhor amigo.

Ligação
Matheus: Ali?
Alicia: Oi. — disse com a voz carregada de emoção.
Matheus: Tudo bem? Como foi o shopping hoje?
Alicia: bem, mas eu preciso te contar uma coisa. E preciso ter a segurança que você não vai contar pra ninguém.
Matheus: é algo grave, Alicia?
Alicia: você pode vir aqui amanhã de manhã?
Matheus: não, você tem que me contar agora. Me ligou, agora fala.
Alicia: não posso falar algo assim por telefone, Theu. Por favor, preciso que você venha aqui.
Matheus: tá, então tô indo agora.
Alicia: agora? mas são 22 horas da noite.
Matheus: e daí? vou pegar um uber aqui.

Ele simplesmente desligou na minha cara e mandou mensagem avisando que estava vindo. Enquanto isso fiquei sentada na minha cama pensando sobre o que tava acontecendo.

Eu estava meio em choque, sem cair a ficha ainda e tentando não criar expectativa, me animar ou me desesperar. Mas sem pensar muito, eu já tinha tomado uma decisão.

Meu antigo apartamento era longe daqui, então eu tive muito tempo pra encarar a parede e tentar me entender. Fiquei quase meia hora calada e pensativa, sem nem tocar em celular.

Ele me ligou avisando que tinha chegado e como eu não queria criar alarme, só disse pra Jade e pro Phelipe que ia buscar o açaí que eu pedi lá embaixo. Eles estranharam porque normalmente subiam, mas ok.

— Fala agora! — Matheus mandou assim que eu apareci.

— Calma, vamos sentar primeiro. — falei.

Ele revirou os olhos e bufou impacientemente e fomos pra um ambiente do condomínio que tinham uns bangalôs.

— Como veio sem Duda desconfiar? — perguntei pra enrolar.

— Falei que ia ficar um pouco com você, ué. Ela já teve a tarde dela. — ele deu de ombros. — Agora fala, Alicia!

Nos sentamos um de frente pro outro, eu respirei fundo sentindo meus olhos começarem a marejar e peguei na mão dele que parecia preocupado.

— Eu acabei de fazer um teste de gravidez e... e deu positivo. — eu gaguejei.

Ele arregalou os olhos boquiaberto. — Alicia... eu não acredito.

— É verdade, toma. — entreguei o teste na mão dele que eu desci escondido.

— E como você tá tão calma assim? — ele perguntou indignado.

— Eu não tô calma, mas você sabe que sempre foi meu sonho independente de qualquer coisa e eu tô tentando ser racional e calma. — disse sincera.

— Meu Deus Alicia, você precisa contar pro Patrick!

— Não! — disse decidida e ele franziu as sobrancelhas. — Não por agora e eu preciso confiar em você.

— Claro que você pode confiar em mim, mas o que você vai fazer? É um filho, Alicia, ele precisa saber e tudo vai mudar. — ele opinou.

— Eu preciso pensar sozinha, Matheus. Eu preciso pensar com clareza, do que eu quero pra essa criança e a vida que eu quero dar pra ela.

— Mas ele é o pai!

— Sim, mas eu não faço a mínima ideia de qual seria a reação dele e eu tenho medo de me assustar e por isso quero acalmar os ânimos primeiro e ter certeza.

— E o que isso quer dizer? — ele franziu o cenho confuso.

— Quer dizer que eu preciso de uma pessoa que me acalma, que me transmite paz, que me ajuda em tudo e que me apoia, eu preciso dessa pessoa perto de mim e eu...

— Não, eu não vou deixar você voltar pra São Paulo agora e deixar todo mundo sem saber. Eu não vou aceitar isso! — ele balançou a cabeça negativamente.

— Eu preciso da minha mãe, Theu. — disse com a voz trêmula. Daí que o choro começou vir.

— Você tem a gente, você pode trazer ela, ir pra São Paulo não é solução.

— É sim, pra mim é, mas isso é temporário, é apenas pra eu ter certeza e tomar as decisões com ela, você sabe que ela me ajuda demais. — apertei a mão dela.

— Poxa Alicia, eu queria fazer parte desse momento da sua vida. — ele disse chateado.

— E você vai. Eu juro que é temporário e preciso da sua ajuda. — ele assentiu. — Eu vou amanhã de ônibus, vai comigo até a rodoviária?

— Claro que vou!

— E mais duas coisas, ninguém pode saber e você precisa dizer ao Patrick que eu me demiti.

Ele arregalou os olhos. — Não, e se ele me perguntar o porquê?

— Você enrola. — disse como se fosse fácil.

— Tá. — ele concordou. — Desculpa por não te abraçar, não te parabenizar, é que eu fiquei preocupado, mas eu te amo e tô muito feliz por você.

Ele disse me fazendo sorrir e me puxou pra um abraço. Nós ficamos um tempo no aperto um do outro e eu pude agradecer por ter ele comigo.

Essa era minha decisão e ninguém mudaria isso. Eu precisava da minha mãe perto e cuidando de mim, me dando os melhores conselhos e me apoiando, era ela e ninguém mais. O depois era só depois.

Era uma vez, AliOnde histórias criam vida. Descubra agora