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— Patrick, liga pro médico! — ela disse se mordendo de dor tentando se levantar.

— O que foi, pelo amor de Deus? — perguntei desesperado.

Sai da jacuzzi, ajudei ela a se recompor, ela não tirava a mão da barriga de jeito nenhum e também não me respondia.

Com uma mão ela segurava na barriga e na outra apertou a minha com força enquanto eu caminhava com ela até a primeira cadeira aparecer.

— Responde por favor, o que você tá sentindo? — pedi desesperado discando o número do médico.

— Pontada, muita dor. — ela disse respirando e inspirando com os olhos fechados.

Assenti engolindo seco o medo e avisei ao médico. Ele mandou eu correr pro hospital com ela que a equipe que ele confiava chegaria em minutos.

Eu conseguia enxergar a dor que ela estava sentindo em seus olhos, mas sabia que o silêncio dela significava a força que ela estava fazendo pra lidar com aquilo e pra não se desesperar.

Peguei o primeiro vestido dela que eu vi pela frente e desci correndo pra vesti-la, além de pegar a bolsa de maternidade da Scarlet que trouxemos por precaução.

Eu estava com tanto medo, meu coração doía tanto, eu não queria esses sentimentos ainda mais no que podia ser o nascimento da minha filha, mas era inevitável.

Chegamos no hospital no mesmo segundo que a equipe do nosso médico de confiança, eu desci do carro o contornado pra pega-lá e o médico veio correndo pra me ajudar.

— O que aconteceu? — ele perguntou passando um braço dela pelo pescoço.

Eu o conhecia de uma das consultas que tivemos com o doutor Diego, ele era marido do cara, eu sabia que era médico, mas não sabia que seria ele quem ajudaria. Até me aliviei um pouco porque esse era da confiança mesmo.

— Não sei, ela abaixou pra pegar o protetor que caiu no chão e gritou. — expliquei nervoso.

— Pode me dizer o que você sente, Alicia? — ele perguntou acenando pro carinha trazer a maca.

— Ela não fala! — disse. — Só fica respirando.

— Ok, você tá certa Alicia, mas eu preciso saber quais são suas dores, pode dizer pra mim? — ele dizia calmamente pra ela enquanto andávamos com a maca por um corredor

Ela respirou fundo balançando a cabeça positivamente freneticamente.

— Então, vamos lá, o que você tá sentindo? — ele tornou a perguntar assim que paramos no quarto.

— Tô sentindo dores pelo corpo todo, na barriga, nos seios e pontadas também. — sua voz estava trêmula. — E... e eu senti algo saindo de dentro de mim.

Pronto. Foi o suficiente pra eu me desesperar e querer andar de um lado pro outro pronto pra socar uma parede, não é atoa que ela não olhava pro médico enquanto falava, e sim pra mim.

— Puta que... — eu me segurei.

— Tudo bem, vai ficar tudo bem. — ele disse. — Alicia, você e nem o seu marido perceberam, mas seu vestido está cheio de sangue.

Nós arregalamos os olhos juntinhos e foi aí que eu senti o baque, o desespero, o temor.

— Isso significa que nós precisamos fazer uma cesária de emergência, tudo bem? — ele falou acenando pra enfermeira no canto do quarto.

— Mas ainda faltam duas semanas! — contestei aflito. A mulher foi ajeitando a Alicia que nem se mexia direito.

— Sim, mas creio que o senhor sabia que poderia acontecer algo parecido, visto que trouxe a bolsa da neném de vocês. — ele apontou. — Vamos deixar a enfermeira prepara-lá, eu também vou e enquanto isso você avisa quem tiver que avisar.

— Eu não vou ficar com ela na hora do parto? — perguntei.

— Sim, mas dá tempo de você avisar, ok? — ele disse tocando no meu ombro e eu assenti.

Eu queria falar com ela, queria dar a mão pra ela, mas ele me fez sair junto com ele pra ela ser preparada.

Ao invés de ficar igual um louco andando pelo corredor completamente aflito, resolvi ligar pro pessoal que estava vindo pra cá. Eles ficaram desesperados, óbvio e avisaram que já estavam chegando.

Em cinco minutos eles saíram com ela do quarto a levando pra sala de cirurgia, eu acompanhei, me limpei e vesti todo o traje.

A cesária começou e eu de tão nervoso só queria tagarelar, tagarelar e tagarelar, mas entendia que se ela estava tão calada, tinha um motivo e eu não queria incomodar.

Só sei que dentro de mim estava um mix de emoções, boas e ruins, com vontade de ver a Scarlet, mas querendo que ela aguardasse mais lá dentro e nos desse tempo.

— Você me ama? — Alicia levantou o olhar pra mim e eu continuei acarinhando sua cabeça.

— Mais do que tudo. — disse agachando pra ficar na altura de seu rosto.

— Você mantém sua palavra de tudo aquilo que me prometeu? — ela disse vermelha e eu consegui enxergar aquela gotinha descendo por sua bochecha.

— Não é hora de falar disso, Ali. — falei me segurando pra não chorar também. Os últimos meses era só isso que eu sabia fazer.

— Essa é a hora, Patrick. — ela disse sorrindo com a voz carregada de emoção.

— Eu já disse que prometo, você não precisa falar. — eu falei beijando a testa dela.

— Diz pra Scar que eu amo ela muito? — a voz dela estava tão baixa que eu tinha que estar bem próximo pra escutar, mas quando eu ouvi isso, parecia que não tinha mais chão abaixo de mim.

— Para com isso, você que vai dizer isso a ela! — disse confiante engolindo o choro.

O choro da Scarlet invadiu a sala, era tão alto e parecia tão saudável. Olhei pro médico e o vi sorrir com o olhar pela máscara olhando pra minha bebê.

— Eu estou tão cansada! — ela disse baixo de uma forma inaudível.

Eu não escutei, a emoção de ver a Scarlet e pensar que ela poderia dizer que a amava pessoalmente me fez correr pra enfermeira que a limpava e pega-lá no colo pra dar nos braços de Alicia.

Mas o meu mundo desabou, a única coisa que tomou força eram os meus músculos do braço que seguravam minha filha que acabara de nascer.

Quando olhei pra minha mulher e ela não estava mais acordada, eu desabei de chorar. Eu ajoelhei no chão com Scarlet no colo sentindo um vazio enorme no meu peito.

O caos de ver a enfermeira buscar Scarlet do meu colo, a equipe médica correndo pra mexer em Alicia e aquele maldito som que mostrava o coração fez eu me soltar do cara que me segurava por trás tentando me levantar e correr até a Alicia.

— Nós vamos casar hoje, Ali. Por favor, não faz isso comigo, você é forte! — eu disse tremendo de pavor, mas ela não me respondia.

Ela nem sequer movia um músculo. Ela estava completamente desacordada, inativa, desaparecida e a minha alma também.

— TIREM ELE DAQUI! — foi a última coisa que escutei antes de tudo apagar.

Era uma vez, AliOnde histórias criam vida. Descubra agora