Era uma vez, Ali

19

No terceiro estrondo eu por um impulso filho da puta do meu corpo sai correndo em direção aos barulhos que davam diretamente no escritório do meu chefe.

Eu abri a porta sem pensar racionalmente no que eu estava fazendo e me deparei com uma cena horrível. Ele tava em cima de um cara aparentemente mais velho o segurando pela camisa quase que o enforcando.

— Patrick!? — eu gritei apavorada. Ele não me olhava assim como no primeiro dia que apareci aqui. — Por favor, solta ele.

Ele estava de costas pra mim, mas eu conseguia enxergar o rosto do cara vermelho sem conseguir respirar.

Sem respostas eu avancei mais ainda. Segurei nas costas dele o tentando puxar pra longe, mas a força dele era incomparável com a minha.

— POR FAVOR! — eu berrei mais alto.

Ele largou o cara e se expeliu pra trás, só assim consegui ver a cara dele, totalmente transtornado, também muito machucado, com a bochecha sangrando, lágrimas escorrendo e o lábio cortado.

Eu respirava ofegantemente a todo custo, eu odiava, com todas as minhas forças, tudo que vinha de brigas, discussões e etc. Sempre fui da paz, feliz, sem nenhum problema com ninguém.

— Cansei de você! — o cara se levantou da mesa ajeitando a roupa.

— Você cansou de mim? — Patrick riu sarcástico.

O cara não se deu o trabalho de responder, apenas se virou me dando um sorriso falso e saiu andando pra fora do escritório.

O sorriso sarcástico formado no rosto do Patrick se desfez no minuto que o cara saiu e eu engoli a seco. Eu só podia ser a única maluca que se meteria na briga do chefe, só podia.

— Você tá bem? — fiz a pergunta mais idiota que eu poderia ter feito.

— Tô. — respondeu seco voltando pra arrumar a mesa com pressa, ele nem me olhava.

— Mas você tá todo machucado. Melhor eu pegar um gelo! — eu insisti andando na direção dele.

— Caralho Alicia, eu tô bem. — ele falou mais alto se aproximando de mim.

Eu arregalei os olhos no susto. — Desculpa, eu só queria ajudar. Vou indo, fica bem.

Tava completamente envergonhada por toda a situação que eu tinha passado, desde me meter até forçar um cuidado com ele.

— Espera! — ele segurou meu braço antes de eu sair pela porta. — Eu aceito o gelo. — deu um sorriso de lado quase imperceptível.

E era exatamente isso que me encucava nele. Esse jeito ogro completamente maluco, que as vezes, só as vezes mostrava o quão isso era só um lado dele.

Os momentos que o vi com um sorriso sincero no rosto não mentiam. Ele me ajudando, com a filha, o dia que me entrevistou, eu via que ele não era tão difícil como queria que parecesse.

Assenti mordendo o lábio inferior de receio. Sai pela sala a procura da cantina que eu já tinha visto de relance, não demorou muito até eu achar, peguei e também cancelei o uber.

A sorte era que tinham saquinhos de gelo no congelador da geladeira, provavelmente pelo fato que deviam ter vários casos que precisassem disso numa academia.

Antes de chegar no escritório encontrei ele sentado no tatame com a cabeça afundada entre suas pernas. Ajeitei a bolsa no meu ombro e me ajoelhei ao lado dele.

— Toma, encontrei esse saquinho. — dei na mão dele que levantou o rosto na minha direção. — Tá feio o negócio aí, hein. — fiz careta sentando de vez.