Cap. 22

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Eu ouvia ela falar, como um menino que ouve história de heróis e monstros. Com fascinio:

- Conta mais... - Pedi. 

- Eu não sei o que mais poderia contar... 

- O Chris? Você disse que se conhecem desde criança... O que ele significa pra você? 

- O Chris é meu irmão, sabe? Irmão de alma! 

- Você demonstra sempre certa preocupação ao falar dele. E naquele dia, aquela senhora, Carmen certo? Ela também parecia preocupada. 

- É que todos nós amamos demais o Christian. 

- E ele também não quer sair do café? É tão feliz lá quanto você? 

- Não... O café é da tia e ele ajuda lá, assim como a Jenny. Na floricultura do tio ningué ajuda, ele diz que "mais ajuda quem não atrapalha" - Ela riu de leve. - Mas não... O Chris não é tão feliz lá quanto poderia ser se fizesse o que ele realmente ama. 

- E o que seria? 

- O Chris é formado em pedágogia. Ele tem 25 anos. Ele gostaria de poder ensinar crianças entre 8 e 12 anos. Segundo ele é quando as pessoas formam suas personalidades, e assim ele poderia ensinar a serem pessoas melhores, nem que fosse só um pouco. 

- E por quê ele não faz isso? 

- Ele fez. Depois que se formou conseguiu um emprego em um colégio e foi ensinar a 5° serie de lá. Ali ele estava feliz, realizado. Era tudo o que ele queria nessa vida. 

- E o que mudou? 

- Ele foi demitido depois de uma reunião de pais e mestres. Era mais uma festa de confraternização. O Chris então resolveu levar o namorado dele, foi ai que todos;, diretor, professores e pais, ao ver que tinha um professor homossexual ensinando os alunos, demitiram ele na semana seguinte. Ele nunca tinha escondido deles, ele só não achava que a informação fosse assim tão relevante, mas era... Infelizmente era.

- Isso é horrivel! 

- Eu sei... O Chris nunca desistiu... Continua tentando, mas depois de ter sido demitido, e apesar de o diretor não assumir que o motivo da demissão foi esse, em toda entrevista de emprego que ele vai, ele faz questão de dizer que é gay; e desde então, nunca mais ele conseguiu lecionar. Eu gostaria de pensar que é coincidência, mas eu sei que não é... 

Foi a primeira vez que eu a vi triste. Aquela garota do sorriso e alegria sem fim estava triste. Eu fiquei triste também, mas junto a tristeza me veio raiva. Raiva do mundo, por ele ser uma m#rda. Raiva das pessoas por serem preconceituosas. Raiva do mundo e das pessoas por terem conseguido tirar o sorriso daqueles lábios e alegria daqueles olhos: 

- Ele deveria ter processado todos eles. - Eu disse. 

- O Chris? Não! ele acredita em um mundo melhor, aonde as pessoas consigam se entender sem precisar de força, ofensas ou processos... 

- Mas a realidade é que o mundo é uma m#rda. Se ele continuar apenas com a boa vontade dele, ele é quem vai sofrer, sabe por quê? Porquê o mundo vai continuar sendo sim, uma m#rda! As pessoas são crueis e alguém tinha que dizer ao mundo, a m#rda que ele é!

Só então ela parou de olhar para teto e me encarou, voltando a sorrir: 

- Vamos fazer isso! - Ela disse. 

- Isso o que?

- Dizer ao mundo a m#rda que ele é!

Ela se levantou da cama me puxando junto com ela. Fomos até a janela, ela abriu, e me encarou:

- Pronto? - Ela perguntou. 

- Pronto? Como assim pronto?

- Veja... - Ela puxou o ar pra dentro dos pulmões e então soltou um grito. - MEEEEERDA!

- Anahí! - Eu a repreendi. - Ta maluca, garota? 

- Sua vez agora! 

- Eu não vou gritar, nem insista. 

- Você deveria, é libertador e você parece tenso. 

- Não! 

- Qual é Alfonso? Você não vai me deixar gritando MEEEEEEERDA aqui sozinha, não é? 

- Eu vou. 

- Alfonso... Por favor... 

- Não... 

- Por favor... 

- Tá! - Me rendi, afinal, não ia conseguir falar não para aqueles olhos por muito tempo. 

- É só gritar o mais forte que puder. 

- Certo... - Puxei o ar. - MEEERDA. - Soltei. 

- De novo, e dessa vez mais forte o com mais vontade....

- MEEEEEEEEEEEEEEEERDA... - Soltei de uma vez. - Melhorou pra você agora? 

- Muito. - Ela riu - Agora vamos nós dois. Preparado? No três! Um... Dois... 

- MEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEERDA. - Gritamos juntos. 

- ISSO.... MEEEEEEEERDA. - Alguém gritou da rua. 

Caimos na cama dela gargalhando da situação. Era demais pra mim, ri como nunca ri na vida. Ri pelo que tinha feito. Ri porque ela estava rindo. Ri porque me sentia feliz:

- Sabe, Alfonso? - Ela disse entre os risos. 

- O que? 

- Eu nunca tinha contado nada do que te contei hoje, pra ninguém antes... - Parei de rir em um instante. Aquilo que ela disse significou demais pra mim. 

- Acho que é porque eu devo estar me tornando alguém...

Sexy e Doce: A Namorada Perfeita.Onde histórias criam vida. Descubra agora