Cap. 63

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Meu pai estava no escritório. Parecia mais abatido do que na noite anterior. Abri um pouco a porta e me inclinei para a frente, pedindo licença. Ele apenas fez um gesto para que eu entrasse, sem tirar os olhos dos papeis sobre a mesa. 

Eu sempre vi Bart Herrera como um homem impiedoso e indestrutível. Um homem capaz de tudo. Ele ficou muito rico sendo advogado de políticos, magnatas e mafiosos, e ainda mais rico investindo em terrenos e imoveis que esses mesmos clientes compravam por preços minúsculos demais para ser por vias legais e vendiam por preços tão pequenos quanto, pois a necessidade de se livrar rápido do rastro das fraudes era grande. Depois meu pai apenas vendia pelos preços que realmente valiam, e o resultado? Uma conta bancaria astronômica. 

Agora, porem, ele não se parecia em nada com o homem que eu costumava ter medo quando criança. Ele me encarou por apenas um segundo e eu pude ver que ele estava com olheiras, parecia mais magro do que a última vez que eu o vi. Ainda estava vestido com o pijama e comecei a me perguntar se ele também não estaria doente. Só me faltava mesmo uma epidemia de gripe naquela casa:

- Pai? - Chamei. - Está muito ocupado? Se você quiser eu posso voltar depois.

- Sente-se, Alfonso. - Ele apontou para uma cadeira na sua frente, sem desviar a atenção dos papeis. Me sentei, tentando captar alguma coisa. Ele estava me escondendo algo. 

- Eu queria te agradecer por ter defendido a Anahí e a mim no jantar, ontem. 

- Não tem porque agradecer. Sua mãe e Victoria estavam sendo inconvenientes com vocês. 

- Mas eu sempre achei que você fosse a favor de Victoria. 

- Eu era. Fui durante muito tempo, mas também já faz tempo que eu entendi que você não a suporta. E pra ser franco, eu também estou começando a não suportar. - Era obvio que algo estava errado. 

Eu não disse mais nada, mas também não me movi. Eu estudava meu pai, na esperança de descobrir o que estava errado. Percebi algumas coisas erradas. A primeira foi um movimento que ele fez com o ombro, como um tique, e que teria passado despercebido se eu realmente não estivesse prestando muita atenção a ele. A segunda coisa foi a caneta que ele segurava, e que ele simplesmente soltou como se estivesse pegando fogo, e voltou a pega-la novamente. Depois disso ele levou a mão esquerda até a testa, ainda olhando para os papeis, e escondendo seu rosto. Eu percebi o que era. Ele estava chorando:

- O que você tem? - Eu perguntei sem conseguir parar de olha-lo.

- Não é nada. - Ele disse com a voz rouca. Tentando controlar o choro. 

- Eu não acredito. 

- É melhor você sair, Alfonso! Eu quero ficar sozinho. 

- De jeito nenhum! - Eu disse, frustrado. - Não sem antes você me dizer que merda tá acontecendo. 

- Você não quer saber.

-Eu quero. Eu sou seu filho. Ainda que são sejamos os mais próximos do mundo, ainda somos pai e filho! - O choro dele se descontrolou. Fiquei abalado ao vê-lo daquele jeito. Um nó se instalou na minha garganta. Seja o que fosse não era bom. - Se você não me disser o que é, eu vou descobrir sozinho e vai ser pior. Você sabe que eu descubro, sempre!

- Eu estou doente. - Ele sussurrou, e por mais baixo que ele tenha dito, aquilo atingiu meus ouvidos como se ele tivesse gritado com toda força. Não precisava ser gênio para saber que deveria ser grave.

- Doente como?

- Eu tenho a Huntington. - Nesse momento perdi a fala, perdi o chão, perdi tudo. 

Não conhecia muito sobre a doença, mas sabia que era incurável e degenerativo. A maioria dos diagnósticos eram feitos em homens de meia idade, e meu pai estava com 48 anos. Sabia também que alguns dos sintomas eram a perda dos movimentos voluntários da pessoa e espasmos e movimentos involuntários cada vez mais frequentes, até que a pessoa não consegue mais se movimentar por conta própria. Isso acabava levando a pessoa a ter outros problemas, como levantar, se equilibrar, até mesmo engolir ou mastigar. A pessoa também acabava ficando com o raciocínio lento e até a memoria era afetada. E os portadores dessa doença acabavam falecendo em alguns anos, por conta de engasgos, asfixia ou acidentes. 

Eu tinha um nó na garganta, no estomago, minha cabeça girava:

- Merda... - Eu disse em um sussurro. - Merda... 

Sexy e Doce: A Namorada Perfeita.Onde histórias criam vida. Descubra agora