Entrei no quarto e encontrei Anahí terminando de arrumar sua mochila. Voltaríamos para as nossas casas naquela tarde, o que causava um misto de alivio e preocupação. Alivio por finalmente voltar para casa aonde não teria que enfrentar encontros indesejados com minha mãe e Victoria, e preocupação pois não queria deixar meu pai lá, doente como estava. Mas uma coisa meu pai tinha me dito e estava certo, eu tinha um milagre particular e cuidaria dele:
- Tá tudo bem? - Ela perguntou, parando de mexer na mochila.
- Não... - Admiti.
- Não gosto de te ver assim - Ela caminhou em minha direção me dando um abraço, que aceitei feliz.
- Eu preciso falar com a minha mãe.
- Então faça isso. - Ela disse como se fosse a coisa mais simples do mundo.
- Não vai ser uma conversa fácil...
- Eu não disse que seria, mas é uma conversa necessária.
- Por que você não vai no meu lugar? - Brinquei.
- Eu? - Ela riu.
- É! Você hipnotiza ela com esses lindos olhos azuis e eu tenho certeza que a conversa vai ser muito mais agradável do que comigo lá.
- Sinto muito te decepcionar, mas eu tentei esse truque quando chegamos e não funcionou... Foi a primeira vez que falhou, pra falar a verdade. - Ela disse divertida.
- Ah! Então você admite que me hipnotizou?
- Claro! E foi justo, não?
- Não sei. Foi?
- Foi. Quando eu te vi, você me deixou encantada, sendo assim, ter te hipnotizado foi muito justo!
- Eu não vejo como posso ter te encantado. Na verdade, Annie, você sabe, eu tenho muita dificuldade em entender o que você faz ao meu lado, porque você me apoia tanto... Eu não vejo nada que eu possa te oferecer, e tenho medo que na hora em que você se der conta disso, você vá embora.
- Alfonso! - Ela bufou em tom ameaçador. - Eu não gosto quando você fala desse jeito. Quantas vezes vou ter que dizer? Quantas mil vezes vou precisar repetir? Eu-Te-Amo! E o que eu preciso é simples e você já me dá, o que eu preciso é que você sinta o mesmo por mim. Será possível que você nunca vai aceitar que alguém possa te amar apenas pelo o que você é? O qual quebrado te deixaram por dentro?
- Calma, Annie!
- Calma o caramba! Dá próxima vez que você falar desse jeito, eu perco a cabeça!
- Certo! - Eu apertei mais o abraço. - Vou tentar me controlar.
- Como pode. Um homem forte, lindo, bem sucedido desse, se menosprezando dessa forma!
- Eu falei, calma, Annie. - Apertei ainda mais.
- Vá falar com a sua mãe!
- Como é?
- É uma ordem! Eu quero que você vá agora falar com ela, só assim eu me acalmo o bastante. Vá e enfrente a fera.
- Certo... - Não entendi a mudança no rumo da conversa, mas fui.
Bati três vezes na porta da suite principal dos meus pais, aonde eu tinha certeza que estaria minha mãe. Quando ela autorizou eu entrei. Eu esperava ter paciência suficiente para falar com ela:
- Alfonso? Aconteceu alguma coisa? - Ela disse, sentada na cama, encostada na cabeceira e com uma bandeja de café da manhã.
- Aconteceu! Bem debaixo do seu nariz e você nem se deu conta!
- Alguma coisa com a sua amiga? Ou com Victoria?
- Esquece a Victoria mãe! Eu to falando é do meu pai.
- O que tem seu pai? - Ela parecia totalmente alheia, eu quase não acreditava.
- Você não sabe mesmo? Mesmo? Não percebeu nada?
- O seu pai anda meio estranho de uns tempos para cá, devo admitir. Mas deve ser coisa da idade.
- Estranho como?
- Agora cismou de trabalhar em casa, não sai mais para nada, se tranca naquele escritório...
- Mãe... O meu pai... - Eu tive que juntar todas as minha energias para dizer aquilo. - Ele está doente! - Falei em um fio de voz.
- Doente? - A expressão dela não mudou. - Então por que não procurou um médico? De que adianta ficar trancado no escritório?
- Será que é por que ele está com Huntington? - Falei de uma vez, e a expressão dela ainda não tinha mudado.
- Huntington? - Ela depositou a bandeja do seu lado, na cama. - Impossível! Eu teria percebido.
- Pelo jeito não.
- Eu não sei muito sobre essa doença. - Agora ela parecia pensativa. - O que você sabe?
- Bem... - Comecei. - A doença limita os movimentos voluntários de quem a possui, até que a pessoa só se movimenta involuntariamente. Aos poucos ela não consegue mais levantar, mastigar, falar.... É degenerativo e incurável.
- E a quanto tempo seu pai descobriu essa doença?
- Cerca de dois meses.
Ela ficou em silencio por longos minutos, ainda pensativa... Ela não parecia triste, indignada, preocupada ou solidaria, ela estava apenas pensativa. Eu tentava imaginar no que ela pensava tanto, mas não conseguia, ou melhor, não queria:
- E então? - Resolvi quebrar o silencio.
- E então o que?
- Ele vai precisar do máximo de ajuda possível daqui pra frente.
Agora a expressão no rosto dela mudou. De pensativa para fria. Nada de bom sairia dali e eu sabia disso:
- Ajuda? - Ela disse. - E quem me ajuda?
- Você tá falando sério?
- O seu pai nunca foi santo, Alfonso. Você era o que menos gostava dele. Agora, depois de doente se santificou? Me poupe! - Ela levantou da cama.
Senti um ódio terrível dela por ter dito aquilo. Lembrei que tinha dito algo semelhante a Anahí e senti ódio de mim mesmo:
- ELE É O SEU MARIDO! - Gritei, soltando um pouco da fúria que tomou conta de mim.
- ELE É SEU PAI! - Ela disse no mesmo tom. - Cuide dele você, então!
- Qual é? - Ri sarcasticamente. - O que você vai fazer? Pedir o divorcio? Logo após ter renovado os votos na frente de dezenas de pessoas? Hellen Herrera vai ser bem recebida na sociedade depois dessa, pode apostar! - Aplaudi, irônico.
- Eu preciso me trocar. Saia do meu quarto... Volte para a sua namorada.
- HA! Ela não é mais minha "amiga"?
- Cala essa boca, Alfonso... Me deixe em paz. Já tenho problemas demais.
- Eu vou. Mas essa conversa não acabou aqui!
Sai batendo a porta, mas me sentindo realmente mal. Ela não iria ajudar meu pai e eu iria embora naquela tarde... Tudo parecia errado e fora do eixo...
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Sexy e Doce: A Namorada Perfeita.
RomanceAdvogado, rico, de família rica, bem-sucedido, poderoso, amedrontador, ríspido e sem tempo pra perder! Esse ERA Alfonso Herrera. Uma parada em uma certa manhã em um certo café e tudo mudou. Ela era encantadora e perfeita demais. Talvez Anahí fosse u...