Serafim

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Segunda-feira após o expediente

Ponto de vista de Flávio

Foi muito bom resolver as coisas com Afonso. Mesmo que eu não tivesse esbarrado em Martin, eu teria ido falar com Afonso e Seiji. Nós somos como uma família no escritório e eu não queria de forma alguma estragar isso. Martin foi para casa ontem de manhã porque ia visitar sua afilhada, Amanda. Ele até me pediu para ir junto, mas como está tudo muito recente e não somos oficialmente namorados, eu preferi esperar mais um pouco. Além disso, eu tenho Serafim, que depois que Martin foi embora, ficou miando pela casa à procura dele. 

Eu tenho o gato mais traidor que existe. Eu o adoto, dou casa, comida, almofada e o que ele faz? Se engraça com meu namorado. Droga! Eu acabo de chamar Martin de namorado! Será que eu vou cometer deslizes na frente dele? E se ele não gostar? 

Estava passando pelo mercado perto de casa quando me lembro que preciso comprar ração para o sem vergonha do Serafim. Faço as compras rápido e aproveito para comprar meu "jantar". Um pacote de pão e outro de salami, além de uma garrafa de suco. Hoje não estou animado para fazer comida. Martin disse que ia me ligar hoje depois do trabalho. Ele havia mandado SMS logo de manhã, dizendo que estava com saudades. Eu respondi, mas depois foi tanta correria, fora o "flagra" que Alessio e Daichi aprontaram para Seiji e Afonso. Foi nessa hora que eu agradeci a todos os santos por não ter dado certo com Afonso. Eles são ótimos mas, se fosse comigo, eu ia morrer de vergonha, mesmo sendo apenas pessoas conhecidas. Afonso parecia tirar esse tipo de situação de letra, enquanto Seiji, bem, digamos que se Seiji fosse um avestruz, ele teria enfiado a cabeça em um buraco. 

Assim que eu chego em casa, fico totalmente chocado. Serafim havia "assassinado" a minha almofada preferida! 

- Serafim, seu gatinho malvado! O que foi que você fez? Isso é por causa da comida ou por causa do Martin? Você sabia que essa era minha almofada favorita? Claro que sabia! Foi de propósito não foi? Seu malvadão! Vem aqui me dar um beijinho, vai?

E ele me olha com o desdém de sempre e mia como resposta. É, esse é o Serafim. Meu peludão mal humorado que parece me odiar. Mas assim que eu abro o pacote de ração, adivinha quem sobe na bancada da cozinha? O peludão malvadão, claro. Eu acaricio sua cabeça enquanto "brigo" com ele. 

- Agora você vem, não é safado? Você só pensa em comida! E em destruir! Vou ter que limpar toda a sala agora. Eu que só queria assistir um bom filme comendo meu jantar. Obrigado bagunceiro!

Assim que eu acabo de falar, a campainha toca. Droga, será que Serafim incomodou os vizinhos? 

- O que foi que você aprontou, gorducho? Os vizinhos já vêm reclamar, viu só? Vou jogar você no lixo... Mentira, malvadão. Você sabe que eu te amo...

Eu vou abrir a porta, pronto para me desculpar pelo incômodo que Serafim possa ter causado, mas paro surpreso ao ver Martin, carregando duas sacolas.

- Oi Flávio! Não vai me convidar para entrar?

- Desculpe! Eu só fiquei surpreso! Entre, por favor. 

Na pressa de sair do caminho para dar passagem para Martin eu quase piso em Serafim, que mia entre sentido e zangado, me olhando aborrecido. 

- Você e Serafim estavam fazendo guerra de travesseiros? Que bagunça! 

A esta altura, Serafim está se esfregando nas pernas de Martin, ronronando e demandando atenção. 

- Serafim está chateado comigo. Certamente porque você foi embora ontem de manhã. Já que ele pouco se importa comigo. 

- Mas eu estou de volta. E posso passar a noite aqui, se você quiser. Aliás, Serafim é bem mais simpático que você. Ele pelo menos mostra que sentiu minha falta. Eu não ganho nem um beijo?

A esta altura, ele está com o corpo quase grudado no meu, o rosto encostado em meu pescoço, me causando arrepios. No instante seguinte estamos nos beijando com paixão. Até que um Serafim irritado começa miar, chamando nossa atenção. 

- Nós precisamos dar um jeito em você, Serafim. Você é um gatinho muito ciumento. Eu gosto de você, mas gosto de Flávio também. Muito. Você vai me deixar ficar com ele?  Se você deixar, vai poder me ver quase todos os dias. Que tal?

- Martin, você acha mesmo que essa bola gorducha de pêlos vai entender você? 

- Tenho certeza que sim! Não é mesmo, gorducho?

E Serafim mia para ele, como se realmente entendesse e concordasse com Martin. Vai entender...

- Vamos comer? Eu trouxe comida chinesa, você gosta? 

- Gosto muito, Martin. Você parece que adivinhou. Eu comprei pão e salami. E pensei em comer assistindo filme. 

- Se você quiser, podemos assistir um filme. 

- Acho que eu prefiro coversar com você. 

Assim, nos sentamos à mesa e começamos a comer, continuando a conversa. Surpreendentemente Serafim ficou quietinho na sua cesta sem incomodar.

- Eu senti sua falta. 

- Eu também senti a sua. Mas eu precisava ver minha afilhada. Você gosta de crianças?

A pergunta me pegou totalmente de surpresa. 

- Gosto sim. Minha irmã mais velha tem dois meninos, de cinco e de três anos. Eu costumo ficar com eles quando minha irmã e cunhado querem sair. Você tem sobrinhos?

- Meus sobrinhos são adolescentes já. Mas eu ficava muito com eles quando eram menores. Agora eu tenho Amanda e dois de meus amigos de escola serão pais em alguns meses. Vou poder reabrir a creche do tio Martin. 

- Creche do tio Martin?

- Bom, se você aceitar ser meu namorado, será a creche dos tios Martin e Flávio. 

- Perdão, como? Eu acho que não entendi...

- Eu quero namorar você, Flávio. Se você me quiser, eu sou todo seu.

- Eu quero, Martin. Como eu quero!

Quando ele me abraça, eu me esqueço de tudo. E para minha surpresa, Serafim não nos interrompe e se comporta como um perfeito bichano. Aparentemente eu subestimei o talento de Martin com animais. 


Ponto de vista de Afonso

- Amado, quer vir comigo hoje para casa?

- Melhor não, Afonso. E se o Alessio resolver pegar no seu pé? 

- Verdade, amado. Mas eu tenho um plano. Você tem o telefone da Maja?

- Tenho. Mas no que você está pensando?

- Eu vou virar o jogo. Mas para isso eu preciso de Maja e de Arthur. 

- Então vem para minha casa comigo. Lá você me conta tudo...

- Está bem. Vou só mandar uma mensagem para o Alessio.

A caminho da casa de Seiji eu conto todo o meu plano. E enquanto Seiji liga para Arthur, eu ligo para Maja...



N/A

Amores, depois do capítulo de mais cedo, achei que precisávamos de coisas fofinhas e engraçadas. E nada melhor do que o gorducho Serafim (espero que não tenha sido apenas eu a me apaixonar por ele), um pedido de namoro e um plano travesso de Afonso. Amanhã saberemos mais sobre o plano mirabolante que precisa de Arthur e da própria Maja. Espero que gostem do capítulo! Amo vocês! 

Ah! E adoro a música dos saltimbancos. Bem apropriada para o capítulo. 

Turbilhão (Livro 4 da Série Akai ito)Onde histórias criam vida. Descubra agora