Eu sou uma pessoa ruim.
Talvez seja difícil pra maioria das pessoas simpatizarem comigo, mas não dá pra culpá-las. Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?
Sala de ciências do terceiro andar.
Eu abri meus olhos pra ter um daqueles momentos. Um daqueles momentos em que eu podia olhar o rosto dele de perto, porque normalmente, eu não podia encará-lo fora daqui. Ele tem cílios compridos e as sardas são tão claras que é quase como se nem existissem.
- Tá me beijando de olhos abertos?- Ele parou de me beijar pra perguntar.
Eu quase não entendi o que ele disse, com "Sucker's Prayer" tocando na minha cabeça. Eu sei que nem de longe é uma boa música pra beijar, mas tem 3 minutos e meio, então é bom pra ter noção do tempo.
- Sim.- Respondi afastando meu rosto e tirando o fone de ouvido que estávamos dividindo.
Ele sorriu. Ficava irritantemente perfeito quando sorria.
- Você é estranha.- Ele disse afastando o cabelo do meu rosto.
Ele se inclinou, me abraçou pelo abdômen pra descansar a cabeça no meu peito. Eu gostava quando ele fazia isso, porque o cabelo dele ficava na altura do meu rosto. Estava tão comprido que as ondas estavam começando a se formar. Era tão macio.
- Como está o time?- Perguntei.
Eu senti ele suspirar aborrecido.
- Está uma merda.- Ele disse se afastando e se apoiando na cadeira atrás dele.- Os novatos estão me deixando louco, não ligam pra nada, eu já tô arrependido de ter aceitado ser o capitão esse ano sabia?
- E o que vai fazer se não for o capitão?- Eu perguntei enquanto descia da bancada.
- Que isso June? Você sabe que eu jogo bem, eu não iria perder o destaque, eu só ia me livrar desse estresse...
- Você ganhou a bolsa pra Notre Dame, não foi?Foi aceito mais cedo, isso não é pra qualquer um. É uma boa faculdade. - Comentei arrumando o cabelo dele.
- Eu sei que é...- Ele parecia uma criança arrependida de ter falado.
- Boas faculdades querem mais do que um bom jogador...- Segurei o rosto dele para que olhasse nos meus olhos- ...elas querem capitães, pessoas assertivas, estratégicas, você conquistou isso, não jogue fora.
Ele apanhou os meus óculos que eu havia deixado na mesa mais cedo e os colocou no meu rosto:
- Eu não nasci pra ser um líder June...
- Um monte de políticos também não...- Peguei a jaqueta dele na cadeira e a entreguei- mas eles estão aí...no poder...empobrecendo os pobres...enriquecendo os ricos...você só quer entrar na faculdade, não seja dramático.
Ele sorriu mais uma vez erguendo o meu queixo:
- Como que eu vou sobreviver à faculdade sem você?
Afastei meu rosto e não contive uma risada:
- Deve ter muitas garotas inteligentes em South Bend, pode pedir pra elas uma sessão de aconselhamento. Todo mundo adora você.
- Não é só sobre ser inteligente...você é insubstituível...sabe disso.
Sempre que ele falava assim comigo, eu imaginava aquelas palavras entrando por um ouvido, passando por uma fragmentadora e saindo pelo outro ouvido. Eu não queria levar aquilo pro meu coração. Mas ainda assim...
- Eu saio primeiro ou você sai?- Perguntei mudando de assunto.
- Ah...deixa eu ir primeiro, o pessoal do time deve estar me procurando.- Ele disse arrumando a jaqueta e indo na direção da porta.
- E... a Saylor também não é?- Eu o provoquei de longe, eu sabia que ele não gostava que eu falasse o nome dela enquanto estávamos juntos, fazia ele se sentir culpado.
Ele parou na porta, mas não se virou:
- A gente se vê June.
E saiu
- A gente se vê Peter.- Falei mesmo que ele não me ouvisse.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Pessoas Ruins
Teen Fiction"Eu sou uma pessoa ruim, talvez seja difícil pra maioria das pessoas, simpatizarem comigo, e eu posso culpá-las? Elas nem me conhecem e já me odeiam, imagina se soubessem?" June Mallard não tem uma vida muito confortável, e apesar de passar o tempo...