HIGH ENOUGH, Jasper Hale

Ursos são agressivos

Tá comentando, vadia?

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Mordisquei a tampa da caneta e encarei aquelas questões desgraçadas de física sem conseguir entender as palavras dançando na minha frente, tal como alguém que tem dislexia. Não conseguia me focar de jeito nenhum por mais que apertasse meus ouvidos como se fosse espremer meu cérebro.

Por sorte, tenho dois dias para fazer isso e assim que me recordo desse detalhe divino, jogo o caderno de lado e me deito em minha cama de barriga para cima. Qual o sentido disso tudo?

Eu estou tão zangada com o universo e entediada que poderia muito bem enfim aceitar o convite dos rapazes para pular de cabeça de um penhasco com o risco de quebrar o pescoço ao me bater nas pedras. Eu nem sei nadar, diga-se de passagem. A escola está me matando, não vejo a hora de me formar, mas então terei logo que embicar em alguma faculdade que eu nem gosto tanto para orgulhar meus pais mesmo que isso me faça infeliz para o resto de minha medíocre existência. Me jogar de um precipicio ou virar prostituta não me parecem ideias tão ruins, no fim das contas. Em um, eu morro rápido, no outro eu me divirto um pouco, pego alguma doença e depois me mato porque, Deus me livre, que porra eu iria querer viver tendo AIDS?

Eu preciso urgentemente de um hobbie.

Olho para o relógio na minha mesa de cabiceira e vejo que já passou da meia noite. Agora é março. Oba, grande merda.

Quando estou me preparando para ir dormir, batidas ecoam em minha porta e Bella coloca a cabeça por entre a pequena fresta que abre. Franzo a testa, confusa com sua visita nesse horário.

— Ei, Jacob ligou mais cedo, queria saber se você quer ir com a gente no cinema no próximo domingo— ela sussurrou alto, provavelmente por causa de nosso pai. Eu me enfiei no quarto assim que cheguei do trabalho, pulando o jantar para fazer a tarefa de física, mas não foi mais do que uma incrível perda de tempo.

— Tô tranquila— fiz careta, dispensando. Ela recolheu os lábios e assentiu, estava indo embora quando um sorriso maléfico surgiu em meu rosto— Aposto que Jake vai ficar muito feliz em te ter só para ele mais um dia— provoco. Bella revira os olhos e fecha a porta, como sempre ignorando todas minhas provocações com relação á paixonite aguda do mais novo para com ela.

Ah, se Jacob não fosse tão criança e Bella não estivesse com tanto ódio de todos os homens na face da terra, eu poderia achar eles fofinhos juntos. Vi muitas vezes a interação entre eles, Bella sente o mesmo efeito que eu, ela fica mais leve quando vamos para perto dos Black, como se eles fossem estrelas que espantam a escuridão e crueldade do mundo. Jacob traz a tona aquela minha irmã que gagueja e cora quando tem muita gente a olhando e eu gosto disso. Bella ficou ótima com mais confiança, mas essa máscara.... não é ela a maior parte do tempo. Isso me entristece porque eu gostava do meu cunhado e passei a odia-lo por tê-la deixado segui-lo mata adentro. Mas talvez ele nem tenha visto.

Não consigo ver o altruísmo em sua decisão de ir embora, mas já aconteceu e o melhor que podemos fazer é seguir em frente. Essa é uma das milhares de coisas que tanto eu quanto Bella ainda temos que aprender. Dia dezenove farão seis meses, eu não quero lamentar esse coração partido para o resto de minha vida. Caralho, eu preciso fazer alguma coisa para sair dessa fossa.

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Papai acabou de se sentar na mesa quando seu walkie-talkie deu sinal de vida, anunciando mais um ataque de animal nas redondezas. Eu dei mais uma mordida na batata cozinha em meu garfo antes que ela acabasse caindo de volta no meu prato. Solto um resmungo irritado e dou minha atenção para o mais velho que não a pediu.

— Os ataques de animais voltaram?— perguntei-lhe, surpresa. Meu pai suspirou.

— Aparentemente sim— ele balançou a cabeça, Bella também havia parado de mastigar para prestar atenção no que era falado— Esse animal foi embora por um tempo, mas está de volta. Estamos cuidando de relatos de pessoas que viram ursos correndo perto das montanhas, mas não achamos nada. Não faz sentido, se um urso estivesse atacando as pessoas, o estrago seria bem maior nos corpos.— ele pensou em voz alta, logo ficando alheio á nossa presença. Troquei olhares com Bella, mas não falei nada.

— Alguns alpinistas alegaram terem visto esse urso. Eu os atendi hoje, na loja— Bella disse.

Um urso nas redondezas? Mas os ataques são da mesma forma que eram quando James e seus amigos estiveram por perto... Eu levei a mão para minhas costelas. Era impossível lembrar de James e não lembrar da forma como ele me segurou e me quebrou como se eu fosse um pacote de bolachas bem frágil.

Agora temos que lidar com vampiros e ursos agora? Uau. Jasper me disse que me deixaria segura, mas talvez ele não cumpra essa promessa também...

— Pode ser mais de um urso, não sei— Charlie disse, tirando-me dos meus devaneios.— Por isso vou ajudar a guarda florestal a achar essas coisas e acabar logo com essa história.

— Não!— eu disse, papai me olhou confuso com minha explosão.— Não, pai, é perigoso demais! E se o urso te achar primeiro?

Papai sorriu de escárnio.

— Caterine, eu não vou estar sozinho. Não sou louco.

— Isso não deveria ser seu trabalho— Bella pontuou— É pago para prender pessoas, não bichos.

— Pai, não se meta nisso— pedi.

— Meninas, vocês sabem de alguma coisa que eu não sei?— ele cerrou os olhos castanhos, desconfiado.

Eu quis contar. Quis muito, mas sei que ele não acreditaria, não sem ter como provar que o sobrenatural existe, mas como ele iria reagir?

Papai está caçando um vampiro, como fazer ele recuar e não avançar mais porque os vampiros bonzinhos não estão perto para dizermos que nem todos são assassinos?

— Ursos são muito agressivos— Bella resmungou e baixou a cabeça, talvez pensando da mesma forma que eu. Baixo o olhar para meu prato e cutuco a batata com o garfo.

— Estarei armado e cercado por outros homens igualmente armados. Ficarei bem, não se preocupem— disse ele, esticando as mãos sobre a mesa para pegar nossas mãos. Meu pai precisa saber a verdade, mas como? Meu Deus, eu só me vejo em becos sem saída.

Será que balas podem matar um vampiro? Pelo meu pai, rezo para que sim. Aperto a mão do mais velho e troco olhares com minha gêmea. Ela com certeza está pensando o mesmo que eu.

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