Capítulo 145

520 43 5
                                    

PRISCILLA NARRANDO...

Depois de toda aquela loucura, teríamos um natal em família, pelo menos com parte da família, mas cheio de muito amor e gratidão por estarmos bem, com saúde, unidos. Apesar de tudo que vivemos esse ano, vamos encerrá-lo com gratidão por estarmos vivas e não corrermos mais perigo com o Rodrigo por perto. A Olivia ficou mal por algumas semanas, mas aos poucos foi se adaptando novamente ao dia a dia. Nossa família chegou no dia 22, uma parte de manhã outra mais tarde. Natalie, eu, Manuella e Maddie vamos fazer plantão dia 23. Natalie não quis comemorar o aniversario dela com tudo que tinha acontecido, ela só quis ficar com a gente. Comigo e as filhas em casa sem fazer festa, sem bagunça, só curtindo nossa presença. E foi um dia agradável. No dia 23 chegamos para o plantão de manhã e pouco depois deu entrada uma criança com o mesmo nome, idade e cardiopatia do nosso filho. Ele chegou no ponto extremo da doença e precisava ser operado. Natalie e eu nos encaramos... Era uma coincidência muito absurda, até a aparência do menino lembrava o nosso filho. Nós duas estudamos muitos anos uma maneira de salvar crianças com essa cardiopatia e conseguimos chegar num ponto de consenso que dava uma chance muito maior de vida com qualidade para a criança, chance que nosso filho e muitas outras crianças não tiveram. Nossa residente seria nossa filha Manuella, a assistente dela seria a Maddison, a Dani operaria com a gente. Era a primeira vez que Natalie e eu operamos com nossas duas filhas. Só faltou a Olivia para o quadro ficar completo. Começamos a cirurgia as 11 da manhã depois de uma oração. E na minha oração pedi a Deus que guiasse minhas mãos e minha mente, e que a vontade dEle fosse respeitada e que meu ego acima de tudo fosse silenciado naquele momento. Foi um sentimento muito louco, porque ao mesmo tempo em que eu sabia quem era aquela criança, eu tinha a sensação que eu estava curando meu filho. Depois de quase 10 horas, o fim...

Eu: Checa as funções dele.

Manu: Vou checar o reflexo de Babinski. – ela chegou. – Estão normais. Reação imediata. – Diorio já estava ali para checar as funções cerebrais dele.

Diorio: Reações oculares normais. E de acordo com o eletroencefalograma ele não perdeu a atividade cerebral nenhum segundo. Segue ativa e normal. - Tinha um otorrino ali também, para a checagem final, nada podia dar errado.

Marcos: Acuidade auditiva também está normal.

Dani: Ele está bem. O coração dele foi reparado, vamos fazer um eletro agora, e os pulmões também. Ele está bem.

Nat: Ele está...

Eu: Tira... Tira a minha máscara...

Nat: Priscilla?

Eu: Tira a minha máscara... – uma enfermeira tirou e eu vomitei. Era desidratação e cansaço e também emoção. Tudo que a gente estudou, colocamos em prática e conseguimos fazer. Aquela criança estava viva, estava saindo da cirurgia sem nenhuma sequela. Enquanto todas as crianças com a mesma condição sempre saia com alguma sequela grave ou morria no dia seguinte, ou até mesmo na cirurgia. Fizemos todos os exames e ele estava bem. Fomos falar com os pais.

Nat: Você está bem amor?

Eu: Sim, estou... – falamos com os pais dele, que estávamos muito otimistas com a recuperação dele e as próximas horas eram muito importantes. Os deixamos entrar e vê-lo rapidamente. Logo foram pra casa. – Bom trabalho meninas...

Manu: Bom trabalho mãe... Vocês duas arrasaram muito e vocês duas estudaram muito pra que isso fosse possível – sorriu emocionada.

Maddie: É verdade. Vocês fizeram um trabalho lindo aqui hoje. Parabéns. – nos abraçaram.

Eu: Obrigada minhas meninas.

Nat: Obrigada meus amores...

Dani: Eu tenho certeza que deu certo. Vocês se empenharam muito, são anos de reparação do passado e vocês conseguiram fazer aqui o que nenhum medico conseguiu até hoje. – abraçamos a Dani a agradecemos também e fomos pra minha sala. Eu e Natalie. A gente sentou e chorou. Não dissemos nada, só choramos. Aquilo dentro do nosso coração foi como salvar nosso filho. Tínhamos encerrado aquele ciclo a muitos anos, mas parece que faltou um ponto final... A certeza de que outras crianças poderiam ter vida e não o mesmo destino que ele e muitas outras tiveram. Puxei a Natalie para o meu colo e dei um beijo nela.

Eu: Eu te amo. Você é uma mãe maravilhosa, você foi uma mãe maravilhosa para o Matteo. Jamais se esqueça disso ok? – segurava o rosto dela.

Nat:Eu te amo tanto... –me beijou – Tanto... – me beijou denovo e me abraçou. Ficamos ali na nossa bolha por um bom tempo. A gente foicontinuar os atendimentos, já era noite. A gente comeu bem tarde foi descansarum pouco depois voltamos a atender. De manhã fomos ver o garotinho e ele estavarespondendo super bem, o coração estava ótimo, os pulmões também, a atividadecerebral dele estava intacta. Aquilo era inédito. O conselho reuniu antes doalmoço quiseram falar com a gente, pediram para publicarmos um artigo sobre issoe depois que o bebê estivesse bem, faríamos um pronunciamento. Aquele estudomudaria vidas. Fomos pra casa, passamos para ver a criança que estava bem eisso era incrível. Nosso natal seria ainda melhor. Nossa casa estava supermovimentada, nossas mães cuidando da comida, o cheiro estava maravilhoso. Asmeninas já tinham ido embora então contaram da cirurgia pra elas. A Olívia jáassistia ao vídeo da cirurgia ela amava ver nossos vídeos de procedimentos. OsDVD's tinham sido gravados para nós. Nossa família estava emocionada com anossa conquista, com o nosso êxito. 

NATIESE EM: ENTRE O AMOR E O ORGULHO - RECOMEÇOS.Onde histórias criam vida. Descubra agora