NATALIE NARRANDO...
Depois de ouvir nossa filha transando e ela ter ficado tão brava com a gente, Priscilla e eu conversamos sobre tomar mais cuidado. Realmente não era agradável ouvir e não tínhamos o direito de ficar com raiva ou chateada com ela, porque a colocamos em situações bem chatas várias vezes. Conversamos com ela, nos desculpamos e é obvio que não podíamos deixar de soltar uma piada no final para amenizar. Passamos a semana em casa, estávamos de folga, precisávamos descansar daquela loucura toda. Olivia chegou chorando em casa na sexta feira, ela bateu no nosso quarto já tinha tomado banho, já estava de pijama, eu via algumas coisas no notebook e a Priscilla lia um livro e fazia algumas anotações. Ela bateu na porta que estava aberta.
Eu: Oi filha... – levantei a cabeça e meu sorriso morreu – Hei, o que foi? – coloquei o notebook na mesa de cabeceira e ela veio pra cama.
Pri: O que foi Olivia? – largou o que estava fazendo. Ela não falava nada só chorava.
Oly: Hoje na escola uma garota... – soluçava – Ela estava chorando, porque ela perdeu um familiar para o covid, e tem umas meninas lá que implicam com ela a muito tempo já. Ela é do segundo ano. Ai uma das meninas que implicam com ela começou a falar que era bem feito e que esperava que a família toda dela morresse, pra ela deixar de ser sapatão. – aquilo foi um soco no meu estômago que me deu até enjoo. – Mãe aquilo foi tão cruel. E eu fui falar com a garota, porque aquilo foi muito bizarro e ela estava sofrendo muito já. Ela perdeu os avós, perdeu dois tios, e perdeu dois primos e agora ela perdeu a madrinha, e ela está sofrendo a meses com as perdas que ela vem tendo. Ai eu fui falar com ela dar meu apoio e defende-la e essa garota foi para acertá-la com uma tesoura e me acertou...
Eu: Onde ela te acertou filha? – ela levantou a blusa. Ela já tinha feito um curativo, mas aquilo estava fundo. – Meu Deus do céu Olivia isso precisa de sutura.
Pri: Eu acho que eu tenho um kit de sutura aqui. – a Pri sempre tinha um kit de emergência em casa com anestésico e tudo que precisava para suturas. Priscilla não gritou, não se espantou, e aquilo me assustava, porque o que vai vir disso não vai ser bom. Ela pegou o celular e gravou um vídeo com a Olivia contando o que aconteceu, falando o nome da menina e mostrando o machucado e avisando que ia suturá-la. Eu tirei inúmeras fotos. Priscilla guardou o celular, com certeza vamos registrar uma ocorrência. – A escola, o que a diretora falou?
Oly: Ela não viu, foi na porta da escola, ela não viu e a menina com as amigas dela correram.
Pri: A gente vai resolver isso amanhã. Vamos na delegacia fazer um boletim de ocorrência contra essa garota. Agora vamos fazer uma sutura.
Oly: Eu não estou chorando por causa do machucado mãe. Isso é o que menos importa pra mim... – soluçava – Eu estou chorando porque a maldade daquela garota foi algo bizarro de ver. Eu nunca em toda a minha vida sofri qualquer tipo de homofobia, nem por ser bissexual nem por ter duas mães, e aquela garota quase foi furada por isso. Aquela garota estava sozinha e sofrendo por uma perda e uma idiota com as amiguinhas dela, aproveitou disso, da vulnerabilidade dela para feri-la ainda mais emocionalmente e ainda pior, fisicamente por homofobia. E o que me dói mãe é que aquela menina vai fazer uma besteira e eu não vou poder fazer nada para impedir... – soluçava. – Ela disse que não aguentava mais nada daquilo, ela está sofrendo mãe.
Eu: Filha, você acha que tem a possibilidade, dela tentar algo contra ela?
Oly: Eu tenho certeza mãe, e eu não sei onde ela mora, ela não tem amigos na escola, eu estou preocupada e eu não posso fazer nada. – chorava. A Olivia tinha uma colega de escola a alguns anos, o nome dela era Aisha, elas estudavam na mesma sala quando estavam na sétima serie. Ela tirou a própria vida, por causa do bullying que ela sofria por causa do peso dela. Olívia foi uma das pessoas que tentou ajuda-la e isso a afetou tanto que ela precisou de terapia e faz terapia até hoje, porque ela sempre sentiu que poderia ter feito algo mais. Meses após a morte de Aisha, os pais encontraram uma caixa de sapatos quando desfaziam das coisas dela, e nessa caixa tinham várias cartas e alguns bilhetes, e um deles era para a Olivia dizendo que ela era um ser de luz muito raro, de uma bondade que não se via mais. Que ela enxergava somente as coisas que eram realmente importantes, e agradecia muito pelo carinho dela, pela amizade, por ter feito tudo para que ela se sentisse bem, para ajuda-la e se desculpava por não ter conseguido seguir em frente. Olivia era uma garota que tinha pavor de maldades com outras pessoas por qualquer motivo, com animais também, ela sempre achava pecado jogar comida fora e sempre dizia para pegar somente o que for comer, porque muita gente passa fome, ela não gosta de pisar onde tem flores porque mata as flores, inclusive ela tem um canteiro com várias flores diferentes que ela não deixa nosso jardineiro cuidar, ela diz que é o jardim dela e ela mesmo gosta de cuidar. Tudo isso a machucava muito. Racismo, homofobia, maus tratos, depredação, desperdício, humilhações.
Eu: Vamos tentar encontra-la ok? Vamos tentar fazer alguma coisa por ela. Agora se acalma bebe um pouco de água – dei água pra ela que estava na mesinha do lado.
Pri: Agora deita filha, deixa a mamãe dar uns pontinhos ai, antes que isso infeccione. – a Pri colocou as luvas limpou deu anestesia, limpou o ferimento, passou uma solução antibiótica que tínhamos em casa e deu três pontinhos... Dei um remédio pra ela pra dor e ela dormiu no meio da nossa cama. Eu não conseguia dormir e nem a Pri então descemos fizemos um chá e nos sentamos na sala. – Eu vou até a policia de manhã, essa garota precisa ser responsabilizada.
Eu: Precisamos encontrar a menina, se ela fizer alguma coisa a Olivia vai se sentir mal de novo por não ter conseguido ajudar e vai ser aquele desafio de novo.
Pri: Sim, vai... – na manhã seguinte fomos a delegacia, a Olivia falou quem era a menina, mostramos o vídeo, registramos a ocorrência e fizemos uma grande descoberta. Ela já tinha nove boletins de ocorrência por homofobia e agressão. Dessa vez, ela já poderia ser julgada porque já tinha completado 16 anos o que nas outras 9 vezes não foi possível então ela seria presa. Na segunda feira fui até o colégio a garota que foi ofendida estava lá e muito triste por sinal. Eu e a Olivia falamos com ela, e eu ofereci a ela e a família dela ajuda psicológica por tudo que estão vivendo nos últimos meses e pelo que aconteceu. A gente ia arcar com tudo. Ela chorou muito e aquilo partiu meu coração. Ela era uma aluna bolsista, e uma menina linda, incrível, família simples e boa e precisavam de ajuda.
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Coração partido pela Olívia e pela garota...
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NATIESE EM: ENTRE O AMOR E O ORGULHO - RECOMEÇOS.
Fiksi PenggemarMeu nome é Priscilla Álvares Pugliese, tenho 32 anos sou chefe de cirurgia no maior hospital de Boston, o Massachusetts General Hospital. Minha especialidade hoje é cirurgia fetal e a cirurgia geral e pediátrica. Moro em Boston a quase 2 anos, desde...