Eu não conseguiria dizer quantos sorrisos involuntários eu soltei enquanto comia a minha pizza, olhava para aquele número em minhas mãos e me perguntava se ignoraria por um tempo como costumava usar nas minhas técnicas de sedução, ou se mandava rapidamente. Estava dividido e odiava ter que lidar com isso, optei pelo mais natural, se der errado não vai ser isso que vai acabar com tudo.
"Um passarinho deixou uma saborosa pizza em minha casa com esse número, acho que era para eu agradecer. (;"
"Não, era apenas para saber que sua sexta terminou muito bem"
Respondeu quase que imediatamente.
"Poderia ter vindo comer comigo, eu não sei se deixaria você comer muito porque eu não consigo resistir a uma boa pizza."
Pego a caixa vazia e jogo no lixo bebendo um pouco de água antes de me jogar na cama.
"Ainda estou no trabalho, então por estar pensando muito em você achei que poderia lhe presentear por isso. "
"Nossa isso ficou muito ruim kkkkk"
"Eu não sou assim, juro"
Ele era um dos poucos que conseguia me arrancar uma risada sincera pelo telefone, só perde para vídeos de crianças caindo, ou stand UP.
"Bom, a pizza eu não conseguirei lhe dar, entretanto, sinta-se à vontade para passar aqui. Se não estiver tão cansado."
"Não precisamos ficar aqui presos, podemos apenas caminhar, se você for se sentir melhor, o inverno é a melhor época para isso"
A resposta não veio depressa como as anteriores, o que me fez questionar se havia feito certo, mas logo em seguida o meu rosto de dúvidas e frustração mudou para um sorriso frouxo e bochechas coradas.
"Ok, vamos ver se você é uma boa companhia para uma caminhada. Lhe avisarei quando estiver em frente ao seu apartamento"
"Ok (:"
Eu não sabia quanto tempo ele iria demorar, poderia chegar em cinco minutos ou em uma hora, a questão é que eu parecia perdido, na verdade, eu estava perdido, com todas as letras. Eu nunca cheguei na fase espontânea, ou eu parava na foda causal, ou na fase em que você quer se tornar outra pessoa com medo ficar sozinho, de qualquer forma dessa vez eu não podia errar.
[...]
Quando a mensagem chegou, apenas peguei o meu casaco de frio e um cachecol, já estava pronto sentado no sofá, perdi as contas de quantas vezes eu escovei o dente, chequei meu cabelo e verifiquei se não estava fedendo.
- Achei que os papéis haviam engolido você, ou lhe prenderam na cadeira. - Brinco sorrindo para ele assim que o vi encostado em seu carro do outro lado da rua.
- Seria uma cena interessante, acho que eles chegaram a tentar. - O sorriso aberto que estava mais presente à medida que ficava cada vez mais natural falar com ele.
- Devo confessar, gosto de você de terno, mas com essa roupa de caminhada você não fica nada mal. - toquei em seu peito e me estiquei para ao menos deixar um beijo de leve em seus lábios, mas ele apenas me afastou e virou o rosto para o lado.
Não era a primeira vez que passava por aquilo, logo lembrei o motivo pelo qual eu estava ali. Ele ainda estava dentro do armário, é claro que não me beijaria em público e isso explicaria muito o casaco de gola alta e o boné preto.
- Me desculpa. - Sussurrou, mas eu logo dei de ombros e segurei sua mão puxando-o para a calçada e iniciando a caminhada.
- Não tem problema, eu deveria ter imaginado. É uma pessoa pública, sei como é ter que viver assim. - coloco as mãos no bolso da calça moletom para disfarçar o quanto eu estava apertando-as ali.
Não estava com raiva dele e de seu medo, vivi com esse medo durante anos até eu finalmente me assumir, apenas sentia raiva do mundo, da sociedade, algum filho da puta há muito tempo jogou na roda que amor só serve se for entre homem e mulher e agora após centenas de anos as pessoas ainda são obrigadas a viverem escondidas e com medo, isso é injusto para a porra.
- É, não faz muito tempo que comecei com isso, o mundo corporativo me dá medo, um deslize na minha vida pessoal e logo a minha vida profissional é extremamente afetada. Não é justo né. - Olhou para mim com um semblante tranquilo ao ver que eu não estava com raiva dele.
- Isso é verdade, ao ter muito dinheiro você ganha de presente a grande falta de privacidade, e isso leva as pessoas a acharem que podem mandar em sua vida, ou acabar com ela. - Dou de ombros.
- Como conseguiu? Sabe, se libertar desse medo? - mesmo que ao meu lado estivesse um homem 7 anos mais velho que eu, Jungkook ainda parecia um adolescente cheio de dúvidas, não o julgo, às vezes as pessoas passam a se entender tardiamente.
- Sempre fui uma pessoa a ferro e fogo, não gostava de viver preso no armário, mesmo que o meu fosse em uma mansão bem grande e luxuosa, no fundo a sensação de sufocamento é o mesmo. Foi um dos motivos que vim para cá, além de me descobrir e estudar. Tinha uma vida muito agitada na Coreia, além disso mesmo que seja um ótimo lugar, ser uma pessoa pública lá acabava com qualquer um. - Olho para os meus pés.
‐ Não tenho lembranças da Coreia, fui trazido para cá pelo meu pai, era um bebê. Um filho fora do casamento. Não faço a mínima ideia de quem foi minha mãe biológica, mas sei que a melhor coisa que meu pai fez foi me apresentar para mulher que não me deu a vida, mas me deu amor. - Seu sorriso estava de volta, e mesmo no escuro, eu conseguia ver o brilho nos olhos o acompanhando.
- Então essa é a história, me questionei um pouco isso quando conheci sua mãe, ela não tinha se apresentado como Jeon e vocês são diferentes, eu não entendi ao certo. A única coisa que ficou bem claro para mim foi o quanto ela amava a família. - Por algum tempo toda a situação que nos enquadravam no início do passeio havia sumido, o assunto mudou naturalmente.
Era bom conversar assim com alguém, onde podemos falar alto e nos empolgarmos sem sermos repreendidos e até mesmo ter o famoso silêncio confortante.
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Contrato Visceral - JIKOOK - mpreg
FanfictionNo dicionário o significado de recomeçar é começar novamente depois de uma interrupção, foi isso que aconteceu com Jimin quando teve que tomar a maior decisão de sua vida, ficar e se sentir preso em um palácio confortável pelo resto da vida ou ir e...