💋Uma dose em Seul💋

698 139 9
                                    

Foi um grande desafio como eu já havia previsto, eu havia recebido uma apostila com o resto das matérias, de tudo, até nos meus cursos complementares e eu passei dia e noite estudando para finalizar aquilo em tão pouco tempo, Sara insistia que não era uma boa ideia, ela sabia que a Coreia me assustava, estava tentando ser a amiga mais superprotetora que eu já vi, mas eu tentava ver o lado positivo das coisas, mesmo que eu não ganhasse dinheiro suficiente como ganhei trabalhando para Oliver, mesmo que isso aconteça eu ainda poderia mostrar meu valor e então o meu nome poderia trazer a valorização que eu precisava.

Eu passei nas provas, não cheguei a tirar 10 em nenhuma, mas pela primeira vez, isso não me abalou, talvez porque meu cérebro já estava ocupado com outras coisas e todo o meu corpo parecia em alerta quando fechei todas as malas e apenas esperei o dia chegar.

[...]

Quando o dia chegou eu não consegui dormir, passei toda a noite acordado imaginando como seria e tentando criar a coragem que me faltava, Seul não era Seattle, era como se Seattle perto de Seul fosse um peixe-palhaço e Jungkook estava entrando no meio daquele oceano vasto de tubarões e bichos piores.

Como a viagem seria longa, Jeon não quis que ficássemos em um avião comercial, então escolheu um jatinho confortável para nós dois, mas diferente do que foi da última vez que viajamos juntos, eu não estava tão relaxado, e quando o avião subiu eu sentia como se tivesse medo de voar, o frio que deu em minha barriga quando ele subiu, a pequena turbulência, qualquer barulho que eu ouvia, tudo para mim estava sendo um sacrifício.

- Eu sei que está com medo, receoso, mas eu estou aqui, ok? Como seu namorado também, não só como o seu mais novo patrão. Se quiser, podemos começar a trabalhar para adiantar tudo ou então eu posso te dar um remédio para dormir e isso vai te fazer se sentir melhor por um tempo. - Seu rosto iluminado dizia que ele queria que eu escolhesse a primeira opção, mas eu não poderia escolher aquela, não mesmo, não quando uma enxurrada de lembranças parecia querer corromper o meu cérebro.

- Eu quero o remédio, por favor. Eu posso trabalhar o dobro depois, mas agora eu acho que o único jeito de me acalmar é esse. - Sentia uma dormência em um certo lado do meu corpo, então eu tinha certeza de que o remédio melhoraria tudo porque eu já havia passado por isso antes, milhares de vezes desde que me descobri e principalmente quando me assumi de fato.

Comecei a ter crises de ansiedade desde muito tempo, quando a adolescência chegou e eu vi que era de homens que eu gostava o medo por não ser aceito, e toda a pressão que eu estava envolvido começaram a me causar alergias, uma forma da minha ansiedade se manifestar, eu não era alérgico a nada, mas as manchas e coceiras apareciam em momentos em que eu menos esperava e eu não poderia descrever o quanto isso era uma tortura. Quando eu me assumi e passei por todos os tipos de médicos e exames que meus pais encontraram, foi me receitado um remédio para ansiedade, como eu contei sobre a minha vida para o psiquiatra, ele deixou claro que a minha grande amiga estava comigo a mais tempo do que pensei e nas pequenas coisas.

Em minha infância eu não conseguia ficar parado, em minha cabeça passava tantas coisas e tantas histórias que isso me deixava nervoso às vezes, foi quando eu me viciei na leitura, ela acalmava meus pensamentos e me levava para um lugar diferente a cada dia, também tinha a clássica mania de mexer as pernas e quando meu pai mandava parar porque isso era sinal de insegurança eu escalava meus dedos e às vezes, discretamente, me arranhava. Eles nunca souberam disso, o quanto era difícil para mim e mesmo que na época eles me tratassem com um príncipe, no fundo, eu sabia que não podia confiar, tanto que não contei. Os ataques de pânico começaram no avião, o primeiro que tive foi dentro da cabine privada, sozinho e só parou quando eu tomei o remédio, depois disso a cada situação que eu me via perdido logo já estava jogado em um canto tentando controlar minha própria cabeça.

Então sentir a dormência em meu corpo como se estivesse derretendo, a falta de ar e a dificuldade de pensar racionalmente e achar que vai morrer a qualquer momento, era sentimentos comuns para mim.

[...]

Pousamos no aeroporto de Seul, uma pista privada ligada ao aeroporto, Jungkook não era um ídolo, mas foi recebido como um e eu não estava esperando, na verdade havia esquecido disso. Saímos do portão de desembarque sendo surpreendidos pelos flashes em nossos rostos, eu travei, não consegui sequer me mexer, eu sabia que não estava preparado.

- Está tudo bem, estou aqui. - Jeon Proferiu para mim e tirou os óculos que estavam em seu rosto e depositou no meu, me protegendo das câmeras mesmo que isso fosse inútil, mas o que foi útil o suficiente para acalmar meu coração acelerado foi sua mão segurando a minha e me levando para fora do aeroporto, deixando claro que estávamos juntos, era oficial, para Coreia e para o mundo.

Eu era gay, um gay assumido não só em um país onde eu era um desconhecido, mas na minha casa, onde todo o conhecimento girava em torno da minha família e consequentemente de mim, talvez seja um dos passos cruciais para a minha verdadeira liberdade.

- Eu estou muito ansioso para organizar a decoração daqui, conhecer os designers. Eu sinto que isso é o começo de um grande império. - Abriu os braços como se fosse voar e depois me abraçou. - Eu aluguei um carro, então como meu estagiário, sabe que precisa me levar até o meu hotel. - Sorri e revirei os olhos entrando no banco do motorista.

- Sim, senhor, o levarei para montar o seu grande império.

Contrato Visceral - JIKOOK - mpregOnde histórias criam vida. Descubra agora