Foi muito difícil, mas consegui arrumar um táxi, estávamos no meio de uma festividade, um feriado, as coisas pareciam meio paradas. Eu segui para o hotel, e sem me preocupar muito com a organização, coloquei tudo que era meu dentro das malas, não me parecia uma novidade, a meses atrás eu estava fazendo o mesmo, só que agora eu me sinto muito mais burro do que antes.Deixei a caixa com as alianças em cima da cama, não tinham mais valor para mim, eu não precisaria mais. Foi uma tortura achar outro táxi a uma da manhã, o cara era animado, queria entender por que eu estava indo para o aeroporto bem no meio da virada do ano, mas eu não consegui falar muito, minha cabeça estava perdida, eu me sentia perdido.
Chegando no aeroporto eu me vi há quatro anos, saindo com pressa, sem planejar muito e tentando recomeçar em outro país, estava fazendo o mesmo agora, indo com o coração quebrado da mesma forma, por pessoas diferentes, assustado e com medo, porque tudo que poderia acontecer de ruim comigo já aconteceu. A passagem em cima da hora, faltando apenas meia hora para o meu voo, eu diria que a vida estava me expulsando de Seul.
[...]
Foram horas cansativas, e dolorosas, mas eu passei parte da viagem com os olhos abertos tentando ver se conseguia enxergar alguma coisa naquele escuro. Quando cheguei em terra firme o sol estava nascendo, ainda demoraria um tempo para começar a clarear, mas era possível ver alguns pontos de luz. Parei em um café 24h para tomar e comer alguma coisa, eu não consegui comer nada, nem mesmo no avião, estava enjoado, provavelmente com as coisas que passavam em minha cabeça, mas agora, eu sentia minha bateria descarregar, o que eu não dormi começava a me incomodar e eu precisava me manter acordado para pegar mais um táxi mais tarde e ir para casa.
Assim que o dia já estava claro o suficiente para começar a ter um movimento maior no aeroporto, eu achei um táxi e entrei, falei o endereço e me encolhi no banco olhando o trajeto, tudo estava levemente diferente, mas eu ainda conseguia conhecer, o mais próximo do meu lar, o lugar onde eu vivi um dos melhores momentos da minha vida.
Bater na porta às seis da manhã não era minha intenção, mas eu não poderia ficar no frio àquela hora ou eu congelaria, então eu abri o portão de cerca e caminhei lentamente com as malas pesadas na mão, dei duas batidas na porta, e um suspiro fundo saiu de mim. Quando eu estava pensando em desistir e deixar minha vó dormir, a porta se abriu, ela estava com um lindo sorriso no rosto como se estivesse acordado revigorada, e seus braços estavam abertos, para que eu me encaixasse ali e pudesse sentir o que era estar nos braços de uma mãe.
- Vovó... - eu queria me desculpar, queria falar tanta coisa, mas as palavras não pareciam querer sair, sua mão acariciava minhas costas e seu coração lento me passava todo o conforto possível.
- Eu sei, querido, eu sei, vem, vamos entrar. - Ela se separou do abraço e eu trouxe as malas para dentro. - Pode ficar no quarto de hóspedes lá em cima, eu estou ficando no quarto aqui embaixo agora, estou velha demais para subir e descer as escadas com frequência. - Voltou a trancar a porta, foi quando eu reparei que ela estava com uma camisola, pantufas no pé e um casaco fino.
- Desculpa por acordar você, não foi minha intenção, mas eu não sabia mais a quem procurar. - Coço minha cabeça bagunçando meus cabelos loiros.
- Suba e coloque sua roupa de dormir, eu vou preparar um chocolate quente, isso sempre te alegrou e vai te ajudar a relaxar. Está um pouco pálido. - Ela começou a andar para a cozinha, a casa não era grande, uma casa simples e antiga, mas muito bem-organizada.
Eu peguei as malas e subi com elas, sem contestar, fiz o que ela mandou, lavei o rosto e tirei o resquício de maquiagem borrada, eu poderia pegar um voo para Seattle, voltar com o rabo entre as pernas e encontrar uma casa vazia e solitária, ser atingido por lembranças daquela cidade e não conseguir ignorar o sentimento de traição, mas eu escolhi passar com a minha vó, porque talvez eu fosse para Seattle eu nunca mais voltaria, e isso me faria me arrepender pelo resto da vida.
Se era de alguém verdadeiro em que eu poderia confiar que me daria todo o amor verdadeiro que eu preciso, então eu estava no lugar certo, porque no mundo, essa mulher era a única que me amava incondicionalmente, e isso era possível de perceber nos pequenos atos, nos mínimos sorrisos com os olhos, e era recíproco.
Com um conjunto de moletom bem confortável, eu me sentei na cama e deixei todo o cansaço sair em forma de um suspiro, eu sabia que tudo isso era prejudicial para o meu psicológico porque eu me sentia uma bateria de celular viciado, sempre descarregado, doido para sentar-me em algum canto e dormir. As coisas estavam difíceis, muito estresse me dava tontura, pensar em pessoas que me fizeram mal me deixava enjoado e juntando isso eu ainda me sentia como uma criança birrenta, toda hora chorando, sem saber como parar ou com tanta raiva que poderia matar alguém.
Isso não era falta dos meus remédios, mas pelo que estava parecendo eu teria que aumentar a dose, afinal eles deveriam controlar meus hormônios, fazer meu corpo funcionar como de um homem comum, mas pelo jeito é muita coisa para um pequeno e simples comprimido resolver.
Eu desci e senti o cheiro de chocolate quente com chantilly e canela, o melhor chocolate quente do mundo que curava até mesmo joelhos ralados, minha esperança é que eles curem também o coração partido.
Me sentei no sofá com a minha xícara em mãos, minha vó se sentou ao meu lado e deitou a cabeça em meu ombro, como eu fazia com ela antes, agora eu estava muito grande para ela que era tão pequena.
- Vou cuidar de você querido, vou estar aqui.
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Contrato Visceral - JIKOOK - mpreg
Fiksi PenggemarNo dicionário o significado de recomeçar é começar novamente depois de uma interrupção, foi isso que aconteceu com Jimin quando teve que tomar a maior decisão de sua vida, ficar e se sentir preso em um palácio confortável pelo resto da vida ou ir e...