Capítulo 7

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Aquele noite parecia muito mais escura e tenebrosa do que normalmente são as noites em Westfield. Em toda a sua vida, Alex Stevens jamais imaginaria enfrentar um pesadelo daquela magnitude. Ele não saberia dizer como era possível, mas estava consciente. Seus ferimentos eram superficiais, nada que já não tivesse sentido em batalhas anteriores. Ele era capaz de suportar queimaduras de segundo grau, ferimentos causados por objetos cortantes. Era capaz de ficar por vários minutos embaixo d'água, economizando o máximo de oxigênio e também já se fingira de morto, se deitando entre pilhas de cadáveres para não ser capturado pelos seus inimigos. Mas absolutamente nada se comparava àquilo. Alex sobreviveu a um terrível descarrilamento de um trem a quase duzentos quilômetros por hora. Tinha um ferimento quase imperceptível em sua perna direita. Sentia algumas dores no tórax, o que impedia levemente sua respiração, mas nada que o impedisse de se levantar e assistir a uma das cenas mais trágicas e memoráveis de sua vida.

Nenhum dos outros passageiros pareceu ter sobrevivido ao desastre. Um vagão caiu em cima do idoso que ele protegia há minutos atrás, esmagando-o sem piedade. Os outros foram arremessados a dezenas de metros de distância e não resistiram ao impacto da queda ou morreram instantaneamente ao colidirem com árvores centenárias, de tronco extremamente grosso. Alex contemplava horrorizado ao que parecia ser um cenário de guerra. Mas era diferente. Não eram soldados, nem aliados e nem inimigos. Eram somente pessoas, mães e pais de família, que voltavam do trabalho, ou dos estudos, ou apenas estavam à passeio, aproveitando os momentos de lazer em Westfield. Ele se compadeceu daquelas pessoas e caminhou na direção dos corpos. Desejou conseguir os documentos, objetos pessoais daquelas pessoas. Queria avisar pessoalmente os seus familiares e devolver os pertences a quem estivesse no seu lar. Quem sabe com esse gesto, seu coração pudesse se acalmar.

Alex se aproximou de uma senhora de aproximadamente setenta anos. Por algum motivo, o rosto da mulher não era de sofrimento. Apesar de um grave ferimento no abdômen, ela parecia dormir, como se estivesse em sua casa, com seu marido, talvez da mesma idade. Alex pensou nos seus próprios pais. Pensou em como daria a notícia aos filhos e netos daquela senhora. Inicialmente, ele não encontrou alguma carteira ou bolsa que ela poderia levar consigo, mas viu que ela segurava firmemente um terço em sua mão direita. Alex pensou que ela partira em paz, certa de que encontraria conforto e repouso, de acordo com a sua fé. Delicadamente, ele abriu a mão da mulher, dedo por dedo, para enfim pegar o terço e entregá-lo aos seus familiares. Entretanto, seu coração, que pareceu ter encontrado um pouco de refrigério naquele momento, acelerou uma oitava. A mão da idosa, que ainda estava endurecida devido ao rigor mortis, repentinamente se fechou sobre a mão de Alex. O aperto era extremamente forte, de modo que o policial sentia uma dor descomunal. Por mais esforço que Alex fizesse, não conseguia se livrar do improvável aperto em sua mão. Foi então que, só depois de um minuto inteiro tentando se soltar, pareceu cair em si e finalmente voltou o seu olhar para a mulher. E foi então que percebeu. A idosa já não descansava em seu sono eterno, pelo menos não o seu corpo. Ela tinha agora uma expressão cadavérica. Seus olhos estava leitosos e opacos. O interior de sua boca era mais negro do que a noite e seus poucos dentes pareciam querer morder o ar.

O rugido que ela emitia era amedrontador. E era diferente, porque diferente das outras criaturas, Alex manteve um mínimo contato com a mulher ainda em vida, minutos atrás, quando estava protegendo o vagão dos outros mortos-vivos. Alex continuou a fazer força para de soltar das garras da criatura, mas era inútil. Ao contrário de um ser humano vivo comum, ela não se cansava. O policial então tentou afastar a cabeça da criatura com a outra mão que estava livre, ao passo que com o seu pé direito, impulsionava o pé contra o tronco da mulher. O corpo dela parecia ter dobrado de peso e de força, pois por mais força que Alex empregasse, não conseguia afastar o monstro. Foi então que uma grande tristeza apossou-se de seu coração, pois não havia outra alternativa senão sacar a Magnum que, por um milagre, ainda estava guardada em seu coldre e com apenas um disparo, acabar definitivamente com o tormento da mulher. Alex poderia dizer que foi o tiro mais difícil que já efetuara na vida.

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