CODINOME: DELTA

Capítulo 15

O distrito de Rainbow Land não era tão grande se comparado aos outros bairros próximos ao centro de Westfield. Entretanto, tinha uma tranquilidade que poderia ser invejada até mesmo pela burguesia do país. O trânsito era pouco intenso naquelas ruas e o comércio, que se resumia a estabelecimentos que poderiam se contar nos dedos, era suficiente para atender a população. Porém, o que mais agradava Alex Stevens naquele pequeno bairro era o parque da rua de baixo, onde sempre que lhe era possível, levava sua esposa Annete e a pequena Amber para passar os poucos, agradáveis e preciosos momentos em família. O parque não era muito extenso, mas com toda a certeza era bem cuidado. A grama era quinzenalmente aparada, as poucas flores do local eram bem cuidadas e os brinquedos onde as crianças se divertiam eram rigorosamente limpos e sua manutenção estava sempre em dia. As melhores fotos da família, onde Alex sorria a ponto de seus olhos brilharem, foram tiradas naquele parque.

Naquele dia, entretanto, o silêncio não representava tranquilidade. O ar era extremamente pesado e o cheiro de morte podia ser sentido a casa metro quadrado. Alex saiu do carro hesitante, assim como Annchi e Beatrice. Um frio lhe percorreu a espinha ao ver que a porta da sua casa estava escancarada. Nenhum dos três membros do grupo pronunciou nenhuma palavra desde que chegaram ao bairro até que Alex sacou de maneira tola sua Magnum e correu até a porta da sua casa, ao que Annchi lhe gritou:

- Alex!

Como se desperto de um transe, o policial virou-se para a companheira, que estava ainda ao lado do carro. Ele suava frio e seus olhos estavam marejados de lágrimas. Foi a primeira vez que Annchi Zhang e Beatrice Murray viram o lado humano e paterno de Alex. Os mortos-vivos não eram nada comparados ao desafio que estava por vir. Annchi se aproximou do homem e lhe disse em um timbre de voz.

- Vamos entrar juntos, tudo bem?

- Eu acho que elas saíram... minha esposa e minha filha... Elas fugiram! Devem estar escondidas em algum lugar, sim, eu tenho certeza!

A voz embargada de Alex revelava claramente que a única coisa que ele não tinha naquele momento era certeza. E Annchi sabia disso. Porém, a única resposta que conseguiu lhe dar foi:

- Esperamos que sim! Posso ir na frente?

Alex assentiu com a cabeça e procurou manter a concentração. Beatrice se aproximou e em um gesto fraterno, o abraçou com seu braço esquerdo, deixando a mão esquerda para apoiar no peito de Alex.

- Vem, eu vou com você!

Alex assentiu mais uma vez, com um sorriso.

Com a Ruger em punho, Annchi entrou na casa. O cenário era o menos desejado possível. A sala de estar de Alex estava em uma total desordem. A estante foi derrubada, sua televisão e suas medalhas de honra estavam espalhados pelo chão. Havia cacos de vidro por toda parte e vasos quebrados em diversos cantos do cômodo. Havia um varão de cortina jogado ao chão e em uma de suas extremidades, havia sangue coagulado. Próximo à porta, eles encontraram um cobertor lilás, também jogado ao chão. Uma luta aconteceu ali e Annete tentou fugir com Amber. Assim como o esposo, Annete provavelmente resistiu bravamente ao ataque dos Carnívoros, pegou Amber em seu colo e correu para buscar ajuda.

Annchi Zhang percorreu a sala e sinalizou com o dedo indicador nos lábios para os companheiros fazerem silêncio. Alex se recompôs e se dirigiu para a cozinha. Mais sinais de luta se faziam presentes. A gaveta de talheres estava ao chão. Facas foram lançadas em direção à extremidade oposta. Não havia nenhum sinal de sangue no chão ou nas paredes, o que significava que Annete não conseguiu acertar nenhum monstro. Porém, a parte boa era que ela também não fora atingida. Assim como na sala, não havia ninguém na cozinha. Nenhum sinal de pessoa, viva ou morta. Também não havia nada nos banheiros e no quintal dos fundos. Com determinação, Alex subiu cuidadosamente os degraus da escada que dava acesso aos quartos. Não havia nenhuma gota de sangue nos degraus.