Capítulo 17

10 1 4
                                    

Uma nova reunião era iniciada no interior da gruta que acabou se tornando um escritório improvisado. Os três cientistas eram pontuais, detestavam atrasos. Cada minuto desperdiçado significava prejuízos incalculáveis. O odor de umidade era insuportável naquele lugar, mas isso não incomodava o trio de déspotas ambiciosos que tinham a mente repleta de novas ideias. A cena mais grotesca ficou por conta da virologista Kassandra Winslet, que tinha sobre sua mesa improvisada uma cabeça de zumbi. Ela ainda abria e fechava a boca, ainda com a esperança de saciar sua fome, mesmo não tendo mais o seu corpo. Kassandra colocou na cabeça decepada um boné do time de basquete Indiana Pacers, virado para trás em uma tentativa de fazer uma piada cruel.

- Olhem pra ele, gente! Parece até que ficou quinze anos mais jovem.

- Exatamente ao contrário de você, não é? - comentou o doutor Davis, quase não conseguindo segurar o riso.

- Não seja tão mal, Brandon! Você vem que poderia me dar uma mãozinha para a gente poder deixar ele mais bonito. Ops... quero dizer - gargalhou Kassandra, olhando para o braço mecânico do doutor Davis - Me perdoa, foi a força do hábito!

- Senhores, eu espero sinceramente não me arrepender de ter aceitado fazer parte dessa parceria! - interveio o doutor Mark Denver, com a expressão sisuda e sombria que já lhe era característica - Doutor Davis, suponho que tenha um motivo para me fazer largar minhas obrigações, que não são poucas, e vir me encontrar com vocês nesse ninho para ratos.

- Certamente que sim, doutor! - respondeu Brandon, sacando do bolso do seu jaleco um pendrive e inserindo em seu pequeno MacBook - Acho que se recordam de tudo o que tratamos em nosso último encontro, mas eu gostaria de compartilhar com os senhores uma descoberta que irá deixá-los no mínimo intrigados.

O doutor Delta fez uma pausa em seu discurso, como se esperasse alguma reação de sua pequenina plateia, como um respirar fundo ou alguém se inclinando de seu assento, o que obviamente não ocorreu. Após cinco longos segundos de silêncio, ela continuou, agora renunciando ao seu sorriso sarcástico.

- Muito bem, em nossa última reunião, a última pergunta que os senhores me fizeram foi: "Que garantia nós podemos ter da eficiência e combatividade do vírus Orpheu?"

A doutora Wislet comentou, brincando com a aba do boné da cabeça cadáver:

- Sim, porque pelo que pudemos ver, o Orpheu é fenomenal, mas os efeitos são um tanto duvidosos. Qual nação vai querer comprar uma arma que deixa os soldados burros e letárgicos, além de mortos?

- Exatamente, doutora! Os efeitos do Orpheu de fato são tão duvidosos quanto a minha simpatia pela senhora e, apesar de eu me odiar profundamente pelo que irei dizer, a senhora tem toda a razão. O vírus, embora tenha um fator rápido de contaminação, é muito limitado no que diz respeito a fator de combate. Depois de atingidos pelo Orpheu, em seu primeiro estágio, os soldados não conseguem se mover com rapidez e são agressivos apenas se estiverem a menos de um metro de distância de seu alvo.

O doutor Denver inclinou sua cabeça para frente e indagou, em um tom de voz extremamente baixo e carregado de indignação.

- Nossa arma tem um ponto fraco e o senhor só nos diz isso agora, doutor? O que sugere que façamos? Iremos lá fora com uma seringa na mão e coletaremos amostras dos monstros, sob o pretexto de uma campanha de coleta de sangue para voluntários?

- Acalme-se, doutor Denver! - respondeu Brandon, apontando mais uma vez para o monitor do seu MacBook - Como eu disse, essas limitações se dão somente no primeiro estágio da contaminação. À medida que o organismo do hospedeiro vai se adaptando ao vírus, ele começa a corresponder ao seu objetivo. Pouco a pouco, as células se fundem com o fator viral e o resultado, senhores, é magnífico.

CODINOME: DELTAOnde histórias criam vida. Descubra agora