CODINOME: DELTA

Capítulo 39

Pela primeira vez desde que o pesadelo começou, Annchi Zhang conseguiu vislumbrar uma possibilidade de virar o jogo a seu favor. O bilhete do Doutor Delta, embora enigmático e com mínimos traços de sanidade, proporcionou um fio de esperança para o grupo, para Westfield e para o resto do mundo. Existia um antídoto, que possuía até mesmo um nome. Eurídice foi criado e concluído até onde se sabia. Entretanto, ao contrário do Orpheu, ele estava oculto, escondido em um lugar específico. As dúvidas eram comuns a todos os membros do agora formado grupo de sobreviventes. Se Brandon Davis e a equipe de virologia da Ômega criaram o Orpheu e o estimaram, caracterizando-o como um vírus sem falhas, por que se preocupar em desenvolver um antígeno? E mais do que isso, por que escondê-lo? E mais ainda, a quem estava destinado o bilhete? Era fato, a partir de então, que o Doutor Delta tinha um medo, um ponto fraco. Ele sabia que, em algum momento, o Ômega poderia sair de seu rígido controle. Annchi segurava o bilhete em suas mãos e o releu várias vezes, como se esperasse encontrar um código secreto naquelas palavras. Releu em voz alta na primeira vez e nas próximas, meditou as palavras em sua mente. Alex Stevens enfim quebrou o silêncio.

- Mas por que esse bilhete está justamente aqui, no hospital? E por que ocultá-lo dessa maneira?

- Isso de fato é curioso - comentou Solomon Locke, olhando para cima, tentando buscar uma lógica em uma realidade onde qualquer coisa poderia acontecer a qualquer momento - O hospital foi o único refúgio que nós encontramos. O único lugar onde havia suprimentos e segurança. Se os homens responsáveis pela criação da infecção estiveram aqui alguma vez, não faz sentido tudo isso ao nosso redor estar intacto e toda essa estrutura e medicamentos ainda estarem imaculados.

- Acho que não é tão complicado assim - interveio Kai - O hospital deve ter sido a primeira fonte de recursos ou talvez o primeiro quartel general daqueles desgraçados. Com certeza algum virologista da Ômega esteve infiltrado no hospital, ajudando a administrar as pesquisas e desenvolvimento do vírus.

Annchi, ainda segurando o bilhete, caminhou em direção ao espelho quebrado.

- Não no desenvolvimento do vírus... mas na criação do antígeno. Eurídice foi desenvolvida longe dos limites do laboratório da Ômega. E foi exatamente no mesmo período.

- Então provavelmente essa carta foi endereçada diretamente à pessoa que desenvolveu o Eurídice - comentou Sahyd - Teve que ser uma carta. E-mails ou malas diretas seriam facilmente descobertas pelo FBI ou quem qualquer autoridade pertinente.

- Nada foge aos olhos do FBI - argumentou Alex - Se houvesse dados criptografados, mensagens eletrônicas ou até mesmo telefonemas, seria muito fácil rastrear. Mas um bilhete... em pleno século vinte e um? E vindo de um dos mais respeitados laboratórios de pesquisa e desenvolvimento dos Estados Unidos? isso com certeza passaria despercebido por qualquer início de investigação.

- E tem outra coisa aí, bem no final do bilhete - sugeriu Beatrice, pegando cuidadosamente o bilhete das mãos de Annchi - Não sei se perceberam, mas há um enigma no último parágrafo. Vejam: Estamos otimistas a ponto de dizer que o antígeno só será utilizado no dia em que a lua e o sol combinarem seu brilho em um mesmo ponto.

Kai deu de ombros e comentou:

- Isso não é um enigma! Um desmiolado como aquele cara deve ter dito isso para se fingir de imperador ou qualquer coisa parecida.

- Receio que não! - protestou Annchi - O Doutor Davis pode ser sádico e extremamente diabólico, mas de modo algum é desmiolado. Não se esqueçam de que estamos falando do virologista mais brilhante da Organização Ômega. Se palavras como essa estão aqui, com toda a certeza elas significam algo relevante.

Alex se aproximou de Annchi e indagou:

- Está dizendo que esse bilhete seria uma pista? Como uma caça ao tesouro?