Capítulo 56

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Naquele instante, toda a sina do mundo parecia ter desaparecido para Annchi Zhang. A noite estava silenciosa e os olhos da virologista estavam fechados enquanto sua mãe lhe contava sobre os eventos que envolviam a sua ausência de quase vinte anos. Annchi só conseguiu olhar Mia nos olhos depois que ela terminou de falar.

- Então acha que pode vir aqui, no meio de toda essa loucura, se justificar dizendo que tudo não passou de um plano para me manter perto e protegida?

- Annchi, não se trata somente disso. Eu...

- Você sabe por quanto sofrimento passei naquele inferno de laboratório e também na minha vida pessoal? Eu simplesmente não sei como ainda estou aqui! E agora o fim do mundo chegou e pelo visto o planeta inteiro está pensando que eu causei toda essa merda! E onde você esteve esse tempo todo?

- Eu também não me orgulho por ter... vivido nas sombras! Posso parecer egoísta, Annchi, mas se você conseguiu sobreviver até aqui, é uma prova do quão forte você é eu sempre tive certeza disso!

- Eu posso ser forte como você diz, Mãe, mas em todo o tempo estive sozinha. Precisei de você, precisei de... alguém! Tive uma pessoa que pude chamar de melhor amiga e hoje em dia ela quer a minha cabeça em uma bandeja. De nada adiantou eu conseguir estabelecer minha carreira como cientista se o resto da minha vida foi um fracasso! Passei todos esses anos acreditando que aqueles bandidos também te mataram! O vovô... você enganou o vovô também?

- Annchi, isso não...

- Responda, Mãe! O vovô partiu acreditando que você estava morta? Me responda, você me deve isso!

Mia baixou a cabeça procurando uma resposta que fosse mais adequada, se é que poderia haver uma resposta. Porém, quando ela levantou a cabeça para argumentar com a filha, um ruído de caminhonete se aproximando foi ouvido por elas. O barulho foi aumentando à medida que o veículo se aproximava rapidamente. Mia virou-se na direção do sim.

- Mas o que é isso?

- Droga! - praguejou Annchi, correndo para mais perto da entrada do hospital - São soldados do Exército. Vieram atrás de mim, por causa do pronunciamento do doutor Davis.

- Vão atrair os mortos por causa do barulho da caminhonete! Preciso impedi-los!

Mia começou a correr, mas Annchi a deteve com sua voz.

- Tarde demais! Veja... vindo do bosque!

Mia olhou na direção em que Annchi apontava e viu a horda gigantesca emergindo das trilhas escuras próximas ao hospital. As criaturas foram atraídas pelo barulho do motor potente e vagaram incansavelmente seguindo o som. Aparentemente, Bruce Anderson e Frank McCalister não perceberam o bando que os acompanhava e atraíram os mortos vivos até o hospital.

- Esses filhos da puta não se cansam de atrapalhar ainda mais a minha vida! E o pior de tudo é que eu deixei a munição lá dentro!

- E o que tem isso? - protestou Mia, ainda olhando para a caminhonete - Aquilo é um veículo militar. Eu vou derrubar alguns monstros e distrair os idiotas do carro enquanto você verifica se encontra alguma munição!

Sem esperar uma resposta, Mia inseriu o silenciador em sua ponto 45 e atirou na direção do para-brisas blindado da caminhonete. Imediatamente, o sargento Bruce e o capitão Frank McCalister saltaram do veículos, disparando na direção de Mia. A agente correu na direção do estacionamento para se proteger das balas. De sua trincheira improvisada, ela atira novamente na direção dos militares, ganhando toda a atenção deles enquanto Annchi corria por trás em direção à caminhonete em busca de munição para a sua Ruger. Ela quase não acreditou que, em meio ao apocalipse, uma porção de sorte surgiu no seu destino. Quando abriu a porta direita do veículo e checou o porta-luvas, viu que lá estava uma caixa com projéteis para Ruger. De imediato, Annchi abriu a caixa e recarregou o pente de sua arma. Isso vai atrasá-los um pouco, ela pensou. Annchi correu em direção à horda e abateu três criaturas sequencialmente. O sargento Bruce ouviu os disparos e instintivamente olhou para trás. Essa distração quase lhe custou a vida, pois nesse momento um disparo de Mia atingiu o chão ao seu lado, a menos de cinco centímetros de onde ele estava. Frank continuava atirando e protegendo seu perímetro. Mia viu que a filha já estava no controle da situação com os Carnívoros. Agachada, ela correu para trás de uma coluna, se ocultando da vista dos soldados. Bruce e Frank continuavam atentos ao menos movimento. Cessaram o fogo, se levantaram e caminhavam lentamente, com as armas em punho. Aflito, Frank se dirigiu a Bruce.

- Senhor... os monstros estão se aproximando!

- Sim, eu vi. Só que aquela mulher sumiu do visual e não podemos dar as costas. Um de nós precisa se encarregar daquelas coisas.

- Entendido! - respondeu Frank, assentindo com a cabeça e virando o corpo para a retaguarda - Vamos dar cobertura um ao outro!

Nesse momento, um dos Carnívoros escapou da mira de Annchi e correu sedento para os dois soldados que estavam a menos de vinte metros de distância. A coisa em vida aparentemente tinha sido um atleta na casa dos seus vinte e poucos anos. Embora fosse possível ver seu estado avançado de decomposição, podia-se notar que ele tinha um corpanzil de alguém que prezava por manter uma vida ativa de exercícios. A Criatura era tão rápida que Frank não teve tempo sequer de mirar em sua cabeça. O morto-vivo saltou para cima do soldado, derrubando-o ao chão. Frank debatia o corpo freneticamente para que os dentes da criatura não atingissem qualquer parte do seu corpo que estivesse exposta.

- Frank! - gritou Bruce, alarmado, voltando sua pistola automática na direção do monstro. O problema era que, tanto ele quanto Frank estavam em uma luta tão intensa que Bruce tinha grandes riscos de acertar o companheiro.

- Tente agarrá-lo e sair da mira, Frank! Eu vou atirar!

- Eu não consigo! - gemeu Frank, já quase sem ar - Ele é forte demais!

Nesse momento, o cérebro da criatura explodiu após um disparo e quase toda a massa encefálica respingou no rosto de Frank. O monstro, sem cabeça, caiu inerte em cima do soldado que, enojado, empurrou o corpanzil sem vida imediatamente para o lado e passou a mão em seu rosto para se livrar da podridão. Quando ele e Bruce olharam na direção de onde veio o disparo, viram que a mulher vestida de preto já estava atirando novamente, desta vez em mais três Carnívoros que vinham correndo logo mais atrás, um deles quase tropeçando no cadáver que havia acabado de cair. À medida que abatia os monstros, a mulher corria junto à outra atiradora, esta bem mais conhecida. A procurada doutora Annchi Zhang já estava ficando sem munição novamente e acertava as criaturas mais lentas com um violento chute, derrubando-os ao chão. Confuso sobre o que fazer, Frank questionou o seu superior.

- Senhor, aquela não é a doutora Annchi Zhang?

- É a própria, capitão! A captura dela pode esperar. Somente nós dois não vamos conseguir conter o bando. E não adianta tentarmos fugir, já estamos encurralados!

- Podemos pegar o carro e tentar passar por cima deles, Sargento! O que acha?

- Aquela mulher salvou sua vida, Frank! - esbravejou Bruce, olhando nos olhos do capitão - Com toda a certeza, aquele lunático do doutor Davis jamais faria algo assim. Vamos, recarregue a sua arma! Precisamos agir!

CODINOME: DELTAOnde histórias criam vida. Descubra agora