Capítulo 8

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Alex Stevens sabia muito bem que não havia tempo para sentir remorso, tristeza e nem mesmo dor. Ele sabia que não foi ele que matou aquela mulher que, por algum motivo, acabou se afeiçoando. Ela tinha um nome, uma família, uma história. Certamente tinha sonhos, objetivos em sua vida. Talvez ela gostaria de um dia levar seus netos em uma viagem para outro país ou simplesmente vê-los correr e crescer até o último dia de sua vida. Apesar do acontecido, o terço continuava em sua mão e ele decidiu que iria guardá-lo consigo até o dia em que encontrasse algum familiar daquela mulher. Se esse encontro porventura jamais ocorresse, Alex iria guardar o amuleto com uma lembrança.

De repente, o silêncio no qual se encontrava o local foi novamente quebrado por gritos ensandecidos. Parecia que uma matilha de lobos selvagens estava indo ao encontro de Alex, pelo menos foi o que ele pensou. Porém, o que ele viu lhe tirou novamente o oxigênio. Os passageiros, que até aquele momento estavam caídos e mortos, corriam enlouquecidos ao seu encontro. Já não era possível contar o número de criaturas sedentas por carne humana. Alex reuniu suas forças e começou a correr em busca de uma saída daquele vale. O terreno onde ele estava era uma espécie de morro, bem abaixo da ferrovia. Se ele tentasse subir escalando, certamente os mortos-vivos o alcançariam, já que sua perna estava ferida. Alex tinha poucos segundos para pensar em uma solução e encontrar algum acesso para a estrada. Foi então que, olhando para oeste, avisou uma trilha estreita que aparentava dar acesso à cidade, ou pelo menos algum vilarejo no qual poderia pedir ajuda.

No entanto, à medida que as criaturas se aproximavam correndo, elas iam obstruindo toda e qualquer passagem possível. Alex não podia mais perder tempo. Ele tinha ainda dois cartuchos de munição para a sua Magnum. Rapidamente, ele retirou a arma de seu coldre, carregou e preparou-se para o combate. Não havia mais dúvidas... Os tiros precisavam acertar a cabeça dos monstros. Ele correu na direção da trilha e acertou com uma coronhada a cabeça da primeira criatura. Aparentemente, ela ficou desnorteada, mas não chegou a cair. Mas foi o suficiente. Alex ganhou tempo para continuar correndo e atirar contra outros dois zumbis que estavam próximos. Duas balas. A Magnum não possuía silenciador, por isso o exército de criaturas, ouvindo o barulho dos disparos, correu na direção dos ruídos. Estavam absurdamente famintos e nada parecia poder pará-los.

Alex virou-se com grande rapidez e neutralizou mais três mortos-vivos. Três balas disparadas na cabeça com precisão. A horda aumentava a cada minuto, mais e mais criaturas se aproximavam, atraídos pelo ruído dos disparos. O único alvo vivo continuava correndo trilha adentro, com o objetivo de alcançar a estrada principal. No entanto, à medida que Alex corria, mais a trilha se tornava estreita. Correr em uma mata fechada e desconhecida demandava muito mais atenção. Ele precisava fazer o mínimo ruído possível, sem constar a munição que estava escassa. E ainda havia o fato de que ele era o único sobrevivente de um acidente fatal, do qual todos os mortos levantaram-se sedentos por carne humana.

Faltava pouco mais de um quilômetro para Alex sair da mata e alcançar a estrada principal pra Westfield. Apesar de não conhecer direito a região, ele sabia que quando as clareiras começavam a ficar mais visíveis e a mata se tornava mais larga, a trilha estava no fim e o acesso à cidade estava mais próximo. Alex sentiu um alívio por saber que teria uma mínima chance de respirar e pensar em uma solução para escapar daquele pesadelo. Porém, quando esteve prestes a começar a percorrer os últimos duzentos metros de trilha, Alex foi surpreendido por uma mão gelada e firme agarrando o seu tornozelo e o fazendo tropeçar no terreno pedregoso. Ele caiu com o rosto em terra e ficou atordoado por alguns instantes. Imediatamente, Alex virou-se e antes que pudesse se levantar, deparou-se com uma criatura em estado avançado de decomposição. Um dos seus olhos estava pendurado pela córnea. Seus braços estavam com queimaduras de terceiro grau e parte do seu intestino estava exposto. O monstro avançava de maneira ameaçadora na direção do homem que acabara de derrubar. Com a queda de Alex, a Magnum acabou sendo arremessada a quinze metros de distância e a julgar pela proximidade em que estava o morto-vivo, não haveria tempo para alcançar o revólver, recarregar a munição e atirar contra a criatura. Alex mal teve tempo de olhar para a Magnum e voltar seu olhar para a ameaça, o monstro já estava praticamente em cima do seu corpo, abrindo a boca na direção do seu pescoço. Seu hálito era horrível e seus dentes estavam tão apodrecidos que esfarelavam ao serem tocados pela saliva. Alex segurou a cabeça da criatura, forçando-a para trás. Com a pressão das mãos do policial, o monstro sacudia sua cabeça e rugia como um animal enjaulado. Seus dentes pareciam querer abocanhar as mãos de Alex. Qualquer pedaço de carne de humano vivo parecia satisfazer a fome da criatura. Alex então percebeu que o monstro não desejava escapar de suas mãos, mas sim mastigá-la.

Alex dobrou suas pernas com grande dificuldade para próximo de seu tronco. As pernas do zumbi estavam fracas, pois sua força estava concentrada em sua cabeça, que tentava se livrar da prisão formada pelas mãos de Alex. O policial, aproveitando a breve fragilidade da criatura, impulsionou o corpo um pouco para trás e com isso conseguiu fazer com que seus pés alcançassem a barriga do monstro. Concentrando suas forças nos pés, Alex empurrou o zumbi para trás e com isso ganhou tempo e espaço para se levantar e buscar a Magnum. Entretanto, antes que Alex começasse sua nova corrida contra o tempo, outra criatura que passou despercebida pelo olhar de Alex, saiu do outro lado da mata e agarrou o homem por trás.

- Maldito! - gritou o homem, segurando o braço do monstro e o lançando por cima do seu próprio corpo, derrubando-o no solo. O breve contratempo foi suficiente para que o primeiro zumbi voltasse ao ataque e agarrasse Alex pelos ombros. A Magnum continuava jogada no mesmo lugar, longe deles. Com um forte empurrão, Alex afastou o monstro e olhou ao redor em busca de algum instrumento improvisado para combate. Foi quando, atentando-se para o seu lado direito, deparou-se com uma comprida lasca de árvore centenária que possuía uma ponta afiada. Rapidamente, Alex pegou a lasca e correu na direção do monstro que acabou de afastar. Devido ao estado avançado de decomposição, a cabeça da criatura estava flácida, o que permitiu que Alex a perfurasse com a lasca de madeira e atingisse o cérebro do monstro. Por um curto período de tempo, a Magnum deixou de ser uma arma indispensável. O segundo morto-vivo correu furioso ao encontro de Alex, que se virou imediatamente e atingiu a criatura no olho esquerdo atravessando com a lasca a córnea da criatura e também perfurando o cérebro. A esperança e o alívio de Alex duraram apenas alguns segundos. O barulho da batalha atraiu a horda que estava próxima ao local onde os vagões caíram. Cerca de vinte criaturas se aproximavam de Alex, que estava somente com uma lasca de madeira e uma Magnum com munição insuficiente.

Não era preciso toda a sua experiência para constatar que uma batalha contra a horda seria totalmente imprudente. Alex então alcançou a Magnum e retomou a corrida para a avenida principal. Mal havia alcançado os primeiros dez metros quando ele ouviu dois disparos próximo de onde ele estava. Um humano. E com certeza se encontrava em apuros. Os tiros vinham do lado oeste da mata. Mais disparos, dessa vez acompanhados de gemidos de mortos-vivos. Alex não teve mais dúvidas. Correu para auxiliar quem quer que estivesse encurralado pelas criaturas e fazer valer o seu dever como policial. Ele foi treinado durante toda a sua vida a não ignorar uma situação de perigo. Fazia parte do seu código de honra. Se ele saísse da mata sem ao menos tentar ajudar a pessoa e ela sucumbisse aos mortos por causa de sua omissão, ele jamais se perdoaria. Preferia enfrentar a morte a desertar de qualquer batalha. Ele correu e recarregou a Magnum com o último pente de balas. Ouviu agora com muito mais clareza o rugido das criaturas e o barulho de mais dois disparos. A pessoa já deveria estar ficando sem munição e naquele momento toda ajuda seria bem vinda, ainda mais vinda de uma pessoa que também portasse uma arma. Foi então que Alex finalmente avistou no centro de uma clareira um monstro sem a metade do rosto, a boca aberta de forma amedrontadora e com os braços esticados. E na sua frente, com a arma empunhada com determinação, estava uma jovem mulher oriental, usando um jaleco branco rasgado e com a perna esquerda gravemente ferida. Ela não tinha chances. Alex tinha pouco tempo para ajudá-la a se livrar do monstro e fugirem daquele lugar, pois os barulhos dos disparos sem dúvida alguma foram ouvidos pela horda que chegaria à clareira em poucos minutos.

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