Capítulo 33

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Um ano antes...

O orfanato de Westfield era considerado por muitos a última esperança para crianças e jovens que perderam os pais ou então foram abandonados pelos mais diversos motivos. Fosse por falta de condições financeiras de uma mãe solteira, fosse por arrependimento tardio de uma gravidez que sempre foi indesejada e que acabara tomando todo o tempo de uma mulher que desejava aproveitar o máximo da juventude ou até mesmo por uma criança que fugiu de casa sem planos traçados e que não desejava voltar por medo da violência e dos maus tratos dos pais. A despeito do que se esperava, era um orfanato improvisado. Tratava-se de uma casa simples, de quatro cômodos e apenas um banheiro. A cozinha precisava de uma reforma e o teto necessitava de uma pintura, pois a umidade havia tomado conta por completo.

No entanto, a falta de condições e as necessidades financeiras não eram capazes de desanimar a jovem Beatrice Murray, que amava crianças, especialmente órfãos e se dedicava de corpo e alma para que o modesto instituto funcionasse de forma mais decente possível. Beatrice cuidava com amor e carinho de dezoito órfãos, incluindo Dylan, que era uma espécie de braço direito. Além de ajudar a cuidar dos mais novos, ele também administrava as despesas da casa quando Beatrice estava ausente. Dylan era muito bom com números e um ótimo negociador nas ocasiões em que era preciso comprar comida, medicamentos e roupas para as crianças. Era o único que tinha total acesso no que dizia respeito à alma de Beatrice. Somente ele possuía a permissão de vê-la chorando. De alguma forma, Dylan conseguia dizer as palavras certas para consolar Beatrice nos momentos de dores mais profundas. Ela confiava nele, sabia quando algo não estava bem, mesmo sem que ele dissesse uma palavra.

Certa ocasião, uma grave doença atingiu Dylan. Era um tipo raro de gripe, que afetava a circulação e os ossos, causando febre alta e alucinações em alguns momentos. Os dias foram passando e a enfermidade de Dylan foi se agravando. O menino já não conseguia se manter de pé e estava perdendo peso muito rápido. Não conseguia se alimentar devido à fraqueza e sentia fortes dores por todo o corpo, a ponto de fazê-lo chorar de agonia. Beatrice não sabia mais o que fazer para aliviar a dor do menino. E para agravar ainda mais a situação, todo o dinheiro já havia sido usado para comprar os alimentos do mês. Em um momento de completa desolação, Barbara, uma das órfãs, propôs entre lágrimas.

- Tia Beatrice... podemos vender algumas de nossas roupas para comprar um remédio que ajude o Dylan. Todos nós estamos de acordo. Beatrice ergueu os olhos e se voltou para as crianças, que assentiam todos juntos com a cabeça. Barbara prosseguiu:

- E se nossas roupas não forem suficientes para pagar o remédio, nós podemos ficar alguns dias sem comer. Não tem problema, a gente aguenta. Só não deixe mais que o Dylan sofra desse jeito.

Mesmo com uma profunda tristeza, Beatrice sorriu e respondeu.

- Não será preciso vender nenhuma peça de roupa de vocês, meus anjinhos. Por sorte, eu tenho um pedido bem grande para uma importante empresa gráfica e vamos conseguir o remédio para ajudar o Dylan. Vou ganhar um pouco mais de dinheiro do que o normal e... tudo vai ficar bem. Eu só vou precisar trabalhar durante a noite e finalizar tudo até amanhã pela manhã.

Com a voz embargada de tristeza, Barbara perguntou.

- Tia Beatrice... então quer dizer que você não vai dormir?

- Se vocês, pequenos, são capazes de ficar um dia sem comer... eu posso ficar uma noite sem dormir.

Dylan estava deitado na cama, mas não conseguia dormir. A febre estava absurdamente alta e seu corpo doía incessantemente. As crianças ao redor choravam assustadas, temendo pelo pior. Eles soluçavam e abraçavam Dylan, como se quisessem aliviar a sua dor ou aplacar a sua febre. Infelizmente, Beatrice nada podia fazer naquela noite a não ser molhar um pedaço de pano e colocar na testa de Dylan para que a febre pudesse abaixar um pouco. Ela se aproximou do garoto e carinhosamente afastou as crianças ao redor.

CODINOME: DELTAOnde histórias criam vida. Descubra agora