Capítulo 44

9 1 0
                                        

A jovem Tracey Murray correu, após anos de procura, ao encontro de sua irmã Beatrice, que ainda estava ao chão, ao lado do Carnívoro, abatido pela flecha em seu crânio. Ela se agachou e lágrimas de felicidade e alívio escorreram de seus olhos.

— Finalmente te encontrei, Beatrice! Você... está bem? Está ferida?

Beatrice olhava admirada para a irmã, ainda sem acreditar que o encontro era real.

— Tracey...? Pensei que havia morrido! É você mesmo?

— Sim, irmã... quando aquela tempestade passou e nosso barco afundou, lembro de tentar salvar você, mas acabei ficando sem forças... a última coisa que vi foi aquele policial mergulhar e te levar até a praia! Você ainda estava inconsciente depois de quase ter se afogado. Ele não me viu, pois fui levada pela correnteza logo depois. Depois, tudo se apagou e só me lembro de ter acordado em um vilarejo próximo a um cais. Não fazia menor ideia de onde estava e as pessoas ali não eram nada confiáveis. Acho que o mar me levou até uma vila de ladrões. Para onde se olhava, havia territórios de gangues e, acredite se quiser, piratas.

— Mas... e como você sobreviveu a tudo isso? — perguntou Beatrice, enfim conseguindo se levantar e sentar.

— Eu decidi que iria me virar sozinha! Percorri as ruas daquele lugar por horas e horas. Como vi que nenhuma alma solidária iria me estender a mão, resolvi adquirir recursos por conta própria.

— Você... roubou?

— Só o que me era necessário! — explicou-se Tracey — Comida, roupas e... uma moto!

Beatrice a encarou durante alguns segundos e as duas ficaram em silêncio. Passados alguns instantes, Beatrice não conseguiu mais aguentar e caiu na gargalhada. Tracey foi contagiada pela alegria e também começou a rir. E então, finalmente, as duas se abraçaram. Tracey não conseguiu mais segurar o choro.

— Nós fizemos uma promessa, lembra? Nunca nos separaríamos... mas se um dia uma de nós se perdesse...

— ...a outra iria encontrá-la — completou Beatrice, lembrando com toda a clareza — mesmo que o mundo acabasse!

— Nunca me senti tão feliz em toda a minha vida, irmã! — declarou Tracey — Que bom que conseguiu sobreviver a esse inferno!

O grupo se aproximou das duas e Beatrice apontou com a cabeça para eles.

— Devo tudo a essas pessoas... todas elas!

Alex se aproximou de Tracey e lhe estendeu a mão.

— Muito obrigado por salvar Beatrice! É uma conhecê-la... sou Alex Stevens!

— Eu é que devo te agradecer! — respondeu-lhe Tracey, retribuindo o cumprimento — Sou Tracey Murray! Serei grata eternamente por cuidarem da minha irmã!

— Pra dizer a verdade, ela é quem cuida da gente! — comentou Lancelot, aliviado e bem humorado — Sou Lancelot Miller, mas pode me chamar de Lance!

— Muito prazer... Lance!

— Fico tão feliz por Beatrice finalmente ter encontrado alguém da família... em meio a tudo isso! Sou Annchi Zhang. Obrigada, Tracey!

— Você eu sei quem é! Está sendo procurada por muita gente, doutora Zhang! Mas quer saber? Não acredito em nada do que toda essa gente babaca está falando! Foi por causa do que disseram na tevê que vim para Westfield! E foi por causa de tudo isso que reencontrei minha irmã!

— Então agora são duas pirralhas! — Kai se aproximou, sorrindo, e lhe apertou a mão — Sou Kai Yagami, nunca se esqueça desse nome! Curti demais o seu arco e flecha! Onde aprendeu a atirar?

— Tive que aprender muitas coisas desde que virei uma sem-teto no subúrbio do Alabama.

— Uma ladra arqueira do Alabama... Você pode ser legal, mas fique longe da minha espada!

— Prefiro deixar a espada para quem sabe usar! — respondeu Tracey, quase não segurando o riso — Muito legal te conhecer, Kai!

— Que bom que está aqui! — exclamou Sahyd — Precisamos de pessoas fortes e com coragem! Sou Sahyd Youssef. Salamalenko!

— Malenko Salan! — retribuiu Tracey, com respeito.

— Seja bem vinda ao nosso grupo, jovem Tracey! Meu nome é Solomon Locke. Antes de qualquer coisa, gostaria que realmente soubesse de toda a nossa história, da qual Beatrice também faz parte.

Solomon e Annchi lhe contaram sobre tudo o que acontecera, desde o vazamento criminoso do vírus Orpheu até a batalha contra o crocodilo gigante. Tracey ouviu atentamente cada detalhe, sem ao menos piscar, espantada com todos os detalhes bizarros que compunham a história.

— Então foi isso o que aconteceu... a vida virou do avesso por causa da ganância humana. Por que sempre tem que ser assim? E a troco de quê?

— Há uma esperança, Tracey! — comentou Beatrice — Temos pistas que nos levam ao antivírus que pode reverter toda essa situação.

Tracey voltou-se para a irmã.

— Reverter?

— Sim... O doutor Brendon Davis, ou doutor Delta, como gosta de ser chamado, criou um antivírus no caso do Orpheu fugir totalmente ao seu controle. Ele deixou um bilhete em um quarto no hospital de Westfield que, por obra do acaso, descobrimos e estamos percorrendo por essas pistas. Após uma análise que fizemos alguns minutos antes, descobrimos que há uma grande chance do antígeno estar escondido na biblioteca de Westfield.

— Irmã, eu não tenho certeza se realmente...

— Existe uma chance, Tracey! Podemos encontrar o Eurídice e quem sabe curar Westfield desse pesadelo! Só temos que nos apressar e ficar juntos!

Tracey olhou de maneira firme para Beatrice e também para os outros membros do grupo.

— Beatrice! Pessoal! Eu sinto muito por dizer isso a vocês, principalmente quando finalmente encontraram uma suposta luz no final do túnel.

Suposta luz? O que quer dizer com isso, irmã? — indagou Beatrice, a esperança se esvaindo dos seus olhos.

— Vocês estão presos aqui em Westfield e por conta disso não possuem a visão do que realmente está acontecendo. A coisa é muito mais grave do que podem imaginar!

Annchi se aproximou dela e questionou.

— Tracey... você veio de fora da cidade. O que está acontecendo? Como algo pode ser mais grave do que essa crise?

— Doutora Zhang... Em menos de um mês, quase um quarto da população mundial sucumbiu ao vírus Orpheu. A América do Norte está praticamente morta! As ruas estão todas tomadas por esses monstros! Não há mais água potável e comida em lugar algum. Aqueles que não morreram por causa do vírus morrerão de fome, sede ou por falta de medicamentos. Não há mais médicos, bombeiros, policiais, ninguém capaz de tomar uma atitude sobre o que está ocorrendo.

Kai se aproximou e com uma expressão de pavor, indagou.

— Espere... então você está querendo nos dizer que...

— É isso mesmo, Kai! — completou Tracey, o olhando com seriedade — Não somente Westfield, mas todo o planeta já foi completamente contaminado pelo Orpheu!

CODINOME: DELTAOnde histórias criam vida. Descubra agora