Capítulo 14

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Beatrice Murray soube do que acontecera com Westfield, a Organização Ômega, assim como também soube o que ocorreu a doutora Annchi Zhang e ao policial Alex Stevens nos últimos vinte e cinco minutos que passou no banco de trás da Dodge Ram. Diferente do que Annchi pensou, Beatrice não a culpou de forma alguma pelo que aconteceu às crianças do orfanato de Westfield. Ela era uma jovem extremamente inteligente. Apesar da pouca idade, possuía um profundo senso crítico de qual situação. Aprendera com a mãe desde muito cedo a conservar a empatia em seu coração. Soube na infância que, fossem bons ou ruins, todas as pessoas tinham sentimentos e que era preciso administrar sabiamente a sua própria personalidade. Beatrice parecia saber enxergar a essência das pessoas, mesmo que não as conhecesse. Alex e Annchi arriscaram suas vidas para salvá-la. Não havia a menor possibilidade da essência deles ser ruim. Ao contrário do que ela pensava do criador de toda aquele pesadelo.

- Então esse doutor Davis ou doutor Delta... Ele disse a você que desenvolveu um antivírus?

- Sim, foi o que ele me disse quando estávamos no laboratório - respondeu Annchi - Porém, ele também disse que jamais iria precisar usá-lo, já que a tendência era comercializar o Orpheu em massa.

- Se ele criou um antivírus, significa que ele tem medo de que algo possa dar errado! - comentou Alex ao volante - E se ele tem esse medo, com certeza criou um estoque de segurança.

- Mesmo que você esteja certo, o laboratório foi destruído! Pode ser que tanto as amostras quanto o projeto podem ter se perdido!

- Não se ele deseja vender isso ao mundo inteiro! - respondeu Alex - Se é um projeto de enormes proporções e extremamente lucrativo, seria muito infantil da parte de um gênio armazenar o projeto na gaveta de um escritório.

- Pode ser que ele tenha salvo o mapa do Orpheu, assim como o antivírus em uma pasta pública na nuvem, para acessar de onde quer que ele esteja! - comentou Beatrice - Se ele for mesmo uma pessoa extremamente gananciosa, com certeza irá se precaver!

Annchi olhou para trás e perguntou.

- O que quer dizer? Se precaver do que?

Beatrice deu-lhe uma piscadela e respondeu com um sorriso.

- É simples! Se precaver de outras pessoas gananciosas! Ele não iria arriscar ter o projeto de sua vida em mãos erradas e não ter um truque na manga para conter qualquer tipo de ameaça!

- A Ômega tem outras duas filiais, uma em Londres e a outra em Paris! - comentou Annchi - Se existe uma forma de rastrear o projeto do vírus, seria em uma dessas unidades!

- Posso tentar contato com a Interpol! - comentou Alex - Não preciso de provas, é só olhar o que está acontecendo aqui! A essa altura, os notociários não devem estar falando de outra coisa!

Estavam quase saindo do centro da cidade e indo em direção à zona de perímetro urbano quando uma nova horda de mortos-vivos bloqueou a passagem. Parecia haver centenas de criaturas, de todas as idades, classes sociais e profissões.

- Mas que droga! - praguejou Alex - Eles só andam em bando!

- Podemos avançar contra eles? - questionou Annchi, já sabendo a resposta.

- Seria arriscado demais! - respondeu Alex, sacudindo a cabeça - O que sobrou do para-brisa não vai aguentar outro impacto. Essas coisas vão entrar no carro e nos devorar!

Beatrice chegou um pouco mais perto do banco do motorista e do carona e apoio suas duas mãos nos encostos de cabeça.

- Eu poso estar enganada, mas... eles são fortemente atraídos pelo som!

- Você está certa! - respondeu Alex - Quando estávamos no bosque atirando contra a primeira horda, o segundo grupo veio até nós, atraídos pelos disparos!

- Perfeito, é o que eu queria ouvir! Pode parar o carro, por favor?

- Parar? Mas é claro que não! Eles já estão chegando! Em menos de dois minutos estarão aqui!

- Dois minutos é mais do que eu preciso! Eu sei o que fazer!

- Beatrice, eu sei que você não tem medo dessas coisas e já lutou contra um bando deles, mas isso é totalmente diferente! Olha, eles são muitos!

Annchi olhou ao redor da estrada e percebeu o plano de Beatrice. Então, com toda a delicadeza que conseguia, pousou sua mão no braço de Alex.

- Podemos confiar nela... pare o carro!

Totalmente receoso, Alex não parou o veículo e se virou para Beatrice.

- Leve minha arma! Vou te ensinar rapidamente como se faz...

- Não vou precisar! - respondeu a jovem com um sorriso - Acredite em mim, isso será muito rápido e eu estarei de volta antes que percebam!

Alex destravou a porta traseira e rogou aos céus para que não estivesse cometendo uma loucura. Beatrice saltou rapidamente do veículo e disse, já se dirigindo à frota de carros batidos que estava do outro lado da avenida.

- Só me dê cobertura, Alex!

Ela correu agachada pela avenida. A horda ainda estava longe da Dodge Ram, mas ela precisava ser rápida. Procurou pelo veículo ideal. Quase toda estavam gravemente danificados e alguns já carbonizados. Foi então que ela encontrou três veículos mais ao fundo da fileira. Eles pareciam estar mais inteiros e estavam posicionados em um ponto estratégico perfeito. Para sua sorte, os três estavam abertos e as baterias ainda funcionavam. Foi então que ela ligou o aparelho de som do primeiro veículo e aumentou o volume até o limite. Fez o mesmo com os outros dois que estavam próximos. Três músicas diferentes tocavam simultaneamente no volume máximo. Nada naquele momento poderia fazer mais escândalo do que aquilo.

Beatrice correu de volta para a Dodge Ram e conforme prometido, a ação não durou mais do que dois minutos. Alex e Annchi observavam enquanto a horda mudava totalmente o rumo, caminhando agora em direção ao som emitido pelos veículos, deixando a pista livre novamente.

- Como fez isso? - indagou Alex, estupefato.

- Eu ainda não tenho certeza, mas essas coisas parecem ter uma forte sensibilidade por ondas sonoras. É diferente de um disparo, por exemplo, quando eles ouvem uma vez e depois param para tentar identificar de onde está vindo o som. Eu liguei três aparelhos de som e a música intermitente os distrairá completante, fazendo eles esquecerem de que estamos aqui.

- Isso é ótimo! - exclamou Alex, não conseguindo segurar uma gargalhada de satisfação - Belo trabalho!

O Dodge Ram então pôde seguir adiante e o grupo não teve mais problemas durante os próximos dez quilômetros. Foi então que Alex adotou uma expressão séria e evidentemente preocupada ao estacionar em frente a um modesto portão azul e branco no bairro Rainbow Land, que também estava tomado pelo mais absoluto silêncio.

- Chegamos! Esta é a minha casa!

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