Capítulo 16

8 1 0
                                        

Alex Stevens se viu em pé, sentindo uma brisa tão suave em seu rosto que ele jurava ser capaz de ignorar qualquer dor, independente da intensidade. Naquele momento, o céu não possuía cor. Era um branco semelhante à neve. Não era possível visualizar em que ambiente exatamente ele estava, pois a espessa camada de névoa o cercava por todos os lados. Ele estava sozinho e nunca havia visto aquele lugar antes. Não havia nenhum sinal de concreto ou asfalto. Não existiam ali prédios, construções, veículos e nada que lembrasse uma metrópole. Alex estava envolto pela paz e pelo silêncio.

O chão era forrado de uma grama tão verde que aparentava estar recém banhada pelo sereno. A grama acompanhava o ritmo do vento, que estava longe de ser incômodo ou violento. Era um ar extremamente agradável, que trazia o cheiro de tulipas, rosas e também girassóis. Como se estivesse sendo movido somente pelo instinto, Alex caminhou lentamente por uma trilha de terra que estava ali próximo. Por um breve momento, uma andorinha passou cantando a menos de dez metros de altura. Alex não pôde deixar de erguer a cabeça e contemplar a pequena ave com admiração. Porém, mais do que o voo da andorinha, um outro som chamou ainda mais a atenção de Alex. Uma voz fina, fraca e quase inaudível se não fosse pelo silêncio daquele belo lugar, pôde ser ouvida com clareza.

- Papai!

Os ouvidos e o cérebro de Alex identificaram imediatamente a dona da voz e ele imediatamente correu na direção do som. A pequena Amber gargalhava sem parar. Aparentemente estava brincando com alguém. Foi então que Alex finalmente pôde vê-la. Os cabelos loiros da menina estavam soltos, deixando-se movimentar pelo vento e seu rosto estampava um sorriso que Alex há tempos não conseguia ver. Amber estava feliz. Alex inevitavelmente sorriu de volta e sorriu vendo que a pequenina mão segurava a também delicada mão de Annete, que sorria tranquila, olhando com ternura para o seu esposo. Tanto mãe quanto filha vestiam trajes brancos, semelhantes à névoa que os cercava. Alex não tinha mais ansiedade, pelo contrário. A paz tomava conta do seu coração e ele conseguiu se deixar levar pelo encanto e felicidade por poder reencontrar a sua família.

Porém, algo inusitado ocorreu naquele momento de refrigério. Alex se aproximava a passos lentos de Amber e Annete, porém quando estendeu a mão para as tocar, foi impedido por uma espécie de bloqueio invisível que não permitia que ele tivesse contato com elas. Espantado, ele estendeu a mão uma vez mais e novamente foi obstruído pelo que quer que estivesse ali. Annete continuava a sorrir e Amber gargalhava, como se estivesse achando graça da situação.

- Não contou ao Papai, Mamãe?

Ainda sorrindo, Annete olhou para a filha e depois para Alex.

- Querido, você ainda não pode vir até aqui! Não chegou a sua hora!

- Não posso? Mas o que está dizendo, Annie? E onde é... aqui?

- Aqui é onde Amber e eu esperaremos por você! Garanto a você que não precisa se preocupar. Agora nós estamos muito bem!

- Annie... isso não está certo, eu... estou aqui! Veja, eu já cheguei!

Amber soltou uma outra gargalhada. Annete continuou.

- Alex, você ainda não pode vir até nós. Um grande mal está se espalhando no mundo onde vivemos. Nesse momento, há pessoas que dependem muito da sua coragem e vitalidade!

Alex sacudiu a cabeça, parecendo não aceitar a realidade.

- Não, isso não pode ser verdade! Eu estou aqui, olhando para vocês! Aqueles monstros, eles... eles me mataram!

- Está enganado, querido! Aquela jovem o salvou... e foi ela quem nos libertou do sofrimento. Estávamos presas naquele pesadelo - nesse momento o sorriso de Annete desapareceu - Alex, estava tudo tão frio, escuro e tenebroso. A nossa fome era tão grande e a nossa dor não cessava!

- Eu fiquei com muito medo! - comentou Amber, abraçando a mãe - doeu muito!

- Alex, nós duas agora podemos descansar em paz! Porém, o seu momento ainda não chegou. Você precisa voltar e ajudar as pessoas que ainda estão sofrendo! Você ainda vai passar por muitas dificuldades, querido, eu consigo ver. Vai enfrentar sofrimentos inimagináveis, mas nós duas estaremos com você... para todo o sempre em seu coração!

- Papai... se cuida que eu vou cuidar da Mamãe!

Alex compreendeu o contexto daquele momento e seus olhos se encheram de lágrimas. Ele se aproximou um pouco mais e estendeu a mão, deixando sua palma suspensa no ar, de modo que Amber fez o mesmo gesto e, mesmo sem se tocar, suas mãos se encontraram, como acontecia antes, em vida.

- Te amo para sempre, Papai!

- Eu também te amo, minha princesinha! Cuide bem da Mamãe! O Papai... tem trabalho a fazer!

Annete se agachou e, ficando próxima ao esposo e à sua filha, falou bem baixinho.

- Querido... guarde em seu coração o que irei dizer a você... a vingança é um veneno que nos consome de dentro para fora. Lute com honra e coragem. Seus amigos contarão muito com você a partir de agora!

Alex assentiu com cabeça, sorrindo. Ela agora tinha uma nova fonte de energia e seu coração estava em paz.

- Leve-nos em seu coração, Alex! - concluiu Annete, se levantando - Vá em paz!

Foi então que Alex fechou lentamente os olhos. Quando os abriu novamente, toda a névoa branca havia desaparecido e ele estava em seu quarto, deitado em sua cama. Sentia uma leve dor em sua nuca, causada pela coronhada dada por Annchi Zhang. Ele piscou por duas vezes e se deparou com Beatrice Murray, que estava em ao pé da cama. Passou a noite o vigiando, enquanto Annchi cuidava para que nenhum Carnívoro entrasse pela porta. A virologia estava em pé, com o olhar atento para o lado de fora. A Ruger estava firme e carregada em seu punho. Beatrice olhou para Alex e disse.

- Enfim acordado! Você está bem?

- Estou, só... com um pouco de dor de cabeça. Por quanto tempo eu dormi?

- Por dois dias inteirinhos! - exclamou Beatrice, com um meio sorriso - E nesse tempo a gente... cuidou de tudo.

Beatrice se referia ao fato de ela e Annchi terem providenciado o enterro de Annete e Amber. Felizmente, ela não precisou entrar em detalhes. Alex captou a mensagem e sorriu, agradecido.

- Muito obrigado... a vocês duas!

Nesse momento, Annchi entrou no quarto, olhou para Alex e imediatamente baixou a cabeça. Não tendo mais forças para encará-lo, ela entregou a Ruge para o homem que estava deitado e disse, se posicionando em sua frente:

- Você sabe o que fiz! Estou aqui na sua frente... O que tiver que fazer, faça agora!

Alex ficou em silêncio. A Ruger estava em cima da sua cama, um objeto que determinaria para sempre a sequência dos acontecimentos. O policial então se levantou lentamente da sua cama, continuou olhando para Annchi, caminhou até ela a passos lentos e, juntando o pouco que tinha de suas forças, a abraçou, de modo acolhedor. Annchi Zhang parecia petrificada. Não sabia como reagir. A única pessoa que lhe deu abraço em sua vida foi o seu avô, Lao Zhang, há muitos anos atrás. Foi então que ela olhou para Beatrice e perguntou, em voz baixa.

- O que faço agora?

Beatrice suspiro de alívio e abriu um sorriso, respondendo:

- Ora, é só retribuir! Vai ver como irá se sentir melhor!

Nunca alguém esteve tão certo como Beatrice esteve naquele momento. Ao retribuir o abraço de Alex, Annchi finalmente desabou a chorar. Ela soluçava e não conseguia segurar mais o seu pranto. Após tantos anos de solidão, tristeza e cobranças sem fim, ela finalmente encontrou um abraço, encontrou conforto e encontrou um amigo.

CODINOME: DELTAOnde histórias criam vida. Descubra agora