A esperança é, de longe, o sentimento mais motivador entre todos os que podem ser experimentados. É uma sensação que somente os seres humanos têm o conhecimento, até onde se sabe. É o impulso que nos movimenta, que faz se crer no improvável. Pode se dizer que é semelhante à fé. A esperança é como se fosse uma voz calma e confiante nos dizendo que, independente das circunstâncias, as coisas contribuirão para o bem daqueles que mantêm essa confiança. A esperança é uma luz, muito fraca, mas existente e que pode fazer uma grande diferença em uma situação de crise. Entretanto, a luz da esperança, de tão pequena e forte, pode se tornar a maior das frustrações, caso venha a se apagar totalmente. Pode-se perder tudo em qualquer situação, menos a esperança. E quando esta se perde, vem a desolação, vem a profunda depressão e tudo pode ruir em uma questão de segundos.
Tracey Murray veio do Alabama, um lugar extremamente distante para encontrar sua irmã Beatrice e, de fato, conseguiu encontrá-la. No entanto, o cenário que ela carregou em sua mente e o despejou como um balde de água fria no grupo, mesmo sem querer, acabou desanimando o grupo, quase que integralmente. O vírus Orpheu é muito mais rápido e eficiente do que eles imaginavam e sua disseminação precisou de apenas alguns dias para se tornar a pior das pandemias. A infecção se tornou global. Naquele momento, a Terra estava repleta de mortos-vivos. Homens, mulheres, crianças, todos andavam a esmo, isentos da vida de outrora, olhos leitosos vendo um mundo do qual jamais voltariam a fazer parte. Suas cordas vocais não emitiam som algum a não ser o lamento dos condenados, gritos guturais motivados por uma fome diabólica e insaciável. Eles caminharam para sempre e seus corpos iriam se decompor até que eles se transformassem apenas em horríveis esqueletos ambulantes. Definitivamente, a maldade do ser humano ganancioso conseguiu sobrepujar o horror da morte. Tracey não conseguiu segurar as lágrimas ao relatar as coisas que viu no caminho para Westfield.
— Eu... nunca achei que veria algo assim, nem em centenas de anos! As cidades, todas elas... desapareceram! Não há mais água, nem comida. Não há mais comércio e nem civilização. Não há mais vida!
Annchi Zhang se aproximou, temerosa, de Tracey. Seus lábios tremiam e seus olhos piscavam compulsivamente. Alex sentiu um frio na espinha quando ela passou por ele.
— Tracey... você... tem mesmo certeza do que está dizendo? Todos os lugares pelos quais você passou... todos estão infectados?
Tracey sentiu o impacto da história que acabara de contar. Porém, ela sabia que não adiantaria de nada esconder a realidade. Foi a atitude mais correta, mais transparente. Eles iriam descobrir de qualquer forma. Foi melhor assim. Agora todos sabiam da real gravidade da situação.
— Eu... sinto muito, doutora!
Annchi abaixou a cabeça para que seu cabelo escondesse o rosto.
— Obrigada por nos contar, Tracey!
Uma lágrima, que parecia pesar mais de uma tonelada, escorreu pelo rosto de Annchi. Solomon se aproximou um pouco mais do grupo e sugeriu:
— Pessoal... deve estar ficando muito tarde... A jovem Tracey precisa tomar um banho, se alimentar e descansar depois de tudo pelo que passou, assim como todos nós. Vamos voltar ao hospital!
— Solomon... — Annchi continuava de cabeça baixa.
— Sim, minha querida...
— Se importa se eu for um pouco depois?
— De modo algum... não temos tanta pressa! Você tem o tempo que quiser!
— Obrigada... — ela finalmente o olhou com um sorriso, seus olhos estavam marejados de lágrimas.
Solomon aproximou-se de Alex e pousou a mão em seu ombro.
— Está com ela desde o início... não a deixe sozinha agora.
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CODINOME: DELTA
HorrorWestfield é uma grande e importante metrópole. Regida quase que completamente pelo capitalismo, abriga diversas empresas e oferece oportunidades a muitas pessoas, o que a torna uma cidade convidativa e perfeita para se viver. Porém, tudo muda radica...