A noite abraça a metrópole de Westfield após mais um longo dia de solidão e agonia. O odor de morte circula por cada metro quadrado da cidade e, embora as ruas estivessem desertas, tornou-se impossível percorrê-las, face ao medo e a sensação de viver um pesadelo sem fim. Prédios pegavam fogo em cantos isolados, incontáveis veículos podiam ser vistos abandonados nas avenidas e calçadas. Alguns colidiram contra postes e despencaram em córregos. Caminhões estavam tombados, alguns com líquido inflamável escorrendo pelo caminho. O ambiente era de completa destruição, porém não havia cadáveres em nenhuma das circunstâncias. Aqueles que perderam suas vidas a recuperaram. Os mortos acordaram, repletos de fome e sedentos por morte e sangue. A cada dia, o vírus Orpheu fazia o papel para o qual foi desempenhado. Suas mutações e variações estavam por todo lugar. Mesmo os abutres, que se alimentaram da abundância de carne morta que se estendia por Westfield, tornaram-se criaturas horrendas, monstros condenados por uma fome insaciável. Os cães contaminados se amontoavam em bandos, buscando a todo o tempo por refeições. Estava cada vez mais difícil, pois não havia ninguém vivo em Westfield, com exceção do grupo que havia acabado de emergir dos esgotos, após a terrível batalha contra um crocodilo mutante.
O grupo estava esgotado. Kai Yagami estava gravemente ferido devido ao impacto causado pelo réptil gigante, mas perseverava, se mantendo em pé. Estava escuro e a atenção a partir daquele momento precisava ser redobrada. Alex tomou a frente e observou o perímetro ao redor. Por enquanto, sem ameaças. A noite também trazia a vantagem de ser silenciosa; o menor ruído merecia a atenção do grupo. Sahyd aproveitou a oportunidade para recarregar as armas. Annchi se sentou no asfalto e Alex percebeu algo em seu olhar. Foi a primeira vez que ele a viu com a expressão distante, desatenta e isso e modo algum seria comum em alguém que estivesse vivendo o que eles estavam vivendo.
— Annchi... está tudo bem?
Ela não respondeu. Não ouviu a pergunta de Alex. Estava fora daquele lugar, e ele arriscou pensar que a mente dela ainda estava nos esgotos. Ele se agachou para ficar próximo do seu rosto. Alex a chamou mais uma vez.
— Annchi...?
Só então ela saiu do transe. Olhou para Alex e os outros como se estivesse inconsciente e acabado de despertar.
— O... o quê?
— Está tudo bem? Aconteceu algo lá embaixo?
Naquele momento, as atenções de todos já estavam sobre a virologista.
— Não, é só que... eu pensei ter ouvido alguma coisa... talvez minha mente esteja me pregando peças.
Solomon colocou o fuzil em suas costas e se aproximou.
— Devemos estar atentos aos alertas de nossa mente, doutora Annchi! Gostaria de compartilhar conosco? Talvez possamos ajudar.
Pela primeira vez desde que a Transformação começou, Annchi notou que não havia mais olhares de julgamento nas pessoas que a cercavam. Embora estivesse escuro, ela conseguiu perceber a preocupação nos olhares de seus companheiros. Naquele momento ela não era mais a renomada virologista doutora Annchi Zhang. Era somente Annchi, uma mulher que sobrevivia à maior crise enfrentada na história e estava em busca de uma solução. Todos ali tinham uma origem, uma história. Cada um tinha pelo que lutar e uma esperança de poder reconstruir suas vidas do zero. E por falar em origem, ela reconheceu a voz que a alertou e também a salvou de um golpe fatal do crocodilo. Não havia engano. A voz da sua mãe ecoou em sua mente e, por um breve momento, a fez esquecer de todo o pesadelo e voltar à Pequim para visitar a pequena Annchi, de nove anos de idade. Ela não podia mais esconder sua humanidade, seus sentimentos. Alex lhe fez uma pergunta e sua resposta poderia mudar o rumo de sua vida naquele momento.
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CODINOME: DELTA
HorrorWestfield é uma grande e importante metrópole. Regida quase que completamente pelo capitalismo, abriga diversas empresas e oferece oportunidades a muitas pessoas, o que a torna uma cidade convidativa e perfeita para se viver. Porém, tudo muda radica...