Capítulo 40

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A cada dia que passava, era mais evidente o fato de a grande metrópole Westfield ter se tornado parte de um passado de honra e prosperidade. As ruas, antes extremamente movimentadas e ruidosas, naquele momento eram um grotesco deserto, em que imperava o silêncio e a sensação de abandono. Seus habitantes, já sem vida há muito, caminhavam a esmo, tropeçando em guias de calçada, olhando para restaurantes onde jamais irão jantar, sentindo o cheiro de mofo e morte. Seus ouvidos aguçados ouviam somente os lamentos dos cadáveres companheiros, que chegavam em hordas cada vez maiores. Homens, mulheres e também crianças vagavam pelos quarteirões inóspitos e pareciam não se importar com suas peles e órgãos sendo expelidos de seus corpos em decorrência da decomposição.

No entanto, alguns Carnívoros hospedeiros da variante do Orpheu, aparentavam maior agilidade e atenção, além de uma pequenina, porém existente porção de raciocínio. Também caminhavam sem destino, mas seus rostos eram voltados para cima, suas narinas tentando captar qualquer cheiro que pudesse denunciar a presença de um ser vivo. Em dado momento, suas cordas vocais paravam de emitir lamentos e eles miravam seu olhar em um ponto, como se tivessem identificado uma presa, como acontece geralmente com as aves de rapina. Na maioria das vezes, eram alarmes falsos. Um réptil que passava correndo ou então odores que eram emanados das próprias criaturas em decomposição. Porém, naquele final de tarde, as coisas eram diferentes em Westfield.

O monstro mais alto e corpulento, um ex-policial, ainda de cap e farda, sentiu um cheiro que há muito tempo, se é que ele ainda pudesse ter alguma noção de passado e presente, não sentia. Era cheiro de combustível, asfalto quente e óleo queimando. A criatura também captou um som de motor, vindo a uma curta distância. O ser vivo não era da cidade, vinha em alta velocidade e estava ficando sem gasolina. Pelos instintos obtidos pela variante do Orpheu, os monstros deduziram que o banquete estava há menos de quatro quilômetros de distância. E não havia dúvidas. Era carne fresca. Talvez outros vivos vieram junto. Não havia tempo a perder. O bando dos Carnívoros evoluídos correu, de forma bizarra, na direção em que seus instintos apontavam.

Após uma jornada que iniciou em Phoenix, a Scooter havia ficado sem combustível e parou em meio à avenida de uma cidade grande, totalmente deserta às seis da tarde. A jovem tirou seu capacete e olhou ao redor, espantada com a situação da cidade. No caminho, ela havia se deparado com veículos tombados, prédios destruídos, postos de gasolina vazios, todos eles, alguns com sinais de incêndio e explosões. Desde que chegou a Westfield, ela não ouviu som algum e nenhum ser vivo, salvo uma quantidade absurda de abutres margeando o céu, e também pelos arredores em mórbidas celebrações e banquetes.

O que aconteceu aqui?

Seu temor aumentava a cada minuto. Ela se deu conta de que havia algo muito errado em Westfield. Uma tristeza enorme tomou conta do seu coração. A pessoa que ela procurava, por não ter mais notícias, poderia estar em sérios apuros, ou então...

A moto! Preciso de combustível!

Sem saber por onde começar, a jovem caminhava estrada àfrente, em busca de um posto de combustível que estivesse funcionando. A cada passo, ela tinha cada vez mais certeza de que era uma possibilidade nula de sucesso. Ela não viu uma alma viva em quilômetros. Viu fileiras de carros abandonados pelas ruas, sem nenhum motorista ou passageiro. Ela olhava para o céu, como se buscasse a resposta em alguma divindade. Ela tinha sede. Havia bebido o último gole de água há quase três horas. Foi então que ela viu um lampejo de esperança. Alguém vinha pelo horizonte. Ela divisou um homem, um policial. Estava sozinho, a pé. Era estranho, claro, mas àquela altura, o que não era estranho, afinal?

A jovem deixou escapar uma breve gargalhada de alívio e caminhou em direção ao policial.

- Oi! Eu fiquei sem combustível! Sabe me dizer onde posso encontrar gasolina por aqui? E um pouco de água!

CODINOME: DELTAOnde histórias criam vida. Descubra agora