CODINOME: DELTA

Capítulo 51

O pequeno Matthew Winslet, de nove anos de idade, enfim deu seu último suspiro em seu leito, no interior do setor de pesquisas específicas da Organização Ômega. Assim que ele fechou os olhos, uma última lágrima escorreu por seu rosto. Enquanto Kassandra permanecia congelada, olhando para o leito, a doutora Annchi Zhang e o professor Rodrick Winslet tentavam reanimar o menino. Como já era de se prever, não lograram sucesso na ressuscitação, visto que houve uma contaminação celular em massa no organismo de Matthew. O monitor cardíaco, que minutos atrás, mostrava 299 batimentos por minuto, agora exibia uma linha contínua e o som agudo da máquina, que evidenciava o pior. Rodrick, inconsolável, segurou nos ombros de sua esposa e exclamou, aos soluços.

— Nós o perdemos... nós o perdemos, Kassandra!

Ela ainda estava em transe. Sequer piscava. Seus olhos ainda estavam fixos no filho, sem vida. Annchi não suportou a dor e abraçava Matthew, sem se importar com o que a mãe pensaria.

— Eu sinto muito, Matt... eu sinto muito! Me perdoe...

Kassandra se aproximou lentamente do leito e, com uma voz rouca e áspera, olhou para Annchi e declarou:

— Você o matou!

Embora as palavras tenham atingido Annchi como a mais afiada das facas, ela pediu que a mulher as repetisse.

— O que você disse?

— Você matou meu filho!

Rodrick entrou na conversa, também extremamente abalado, mas muito mais razoável.

— Kassie, não diga besteiras... a culpa não foi...

— Cale-se! — ela se virou para o marido com uma expressão extremamente ameaçadora — Faltava pouco para Matthew absorver o antígeno e seus anticorpos combaterem a infecção. Essa desgraçada interrompeu o procedimento e matou o nosso filho!

Annchi se recompôs e voltou a adotar a postura de virologista que era.

— É melhor medir suas palavras, Kassie... eu amo Matthew assim como vocês dois! Fui eu quem fez o seu parto! Como pode pensar que eu o mataria? Ele estava sofrendo, por acaso não percebeu?

— Cale essa boca! — Kassandra estava totalmente fora de si. O ódio já havia contaminado por completo o seu coração — Não quero ouvir nunca mais o nome do meu filho saindo dessa sua boca imunda!

Rodrick se aproximou e a segurou pelos ombros.

— Querida, não é assim que nós vamos resolver as coisas...

— ME SOLTE! — esbravejou Kassandra, se dirigindo alucinada para a mesa de instrumentos no lado oposto da sala. Ela pegou a primeira tesoura cirúrgica que estava ao seu alcance e segurou de maneira firme e ameaçadora.

— Uma vida por outra, Annchi... você tirou meu filho de mim! Agora eu vou acabar com a sua vida!

Rodrick se posicionou entre a esposa e Annchi. Ele levantou as mãos, gesticulando para que ela se controlasse.

— Kassandra... você não está pensando direito! Annchi não é a culpada pelo que aconteceu. Nós sabíamos dos riscos. Matt sabia...

— Sai da minha frente, Rodrick! Nem mesmo você poderá me impedir de vingar nosso filho! Essa mulher não vai sair dessa sala com vida! Essa vadia não merece viver!

— Está fora de si, Kassandra! — exclamou Annchi, se posicionando na frente de Matthew, como se quisesse proteger o corpo do menino — Guarde essa tesoura, não há... não há nada mais que possamos fazer! Vamos tirar o corpo de Matthew daqui. Você está à beira da loucura, será que não percebe?

— Loucura foi ter confiado a vida do meu filho a você, sua vagabunda!

Ela correu até Annchi e se preparou para acertá-la com a tesoura cirúrgica sem hesitar. Percebendo o que iria acontecer, Rodrick correu até a esposa e a segurou por trás.

— Já chega, Kassie! Isso tem que parar! Acabou, nós falhamos! Vamos, precisarmos tirar Matt daqui!

— Me solta, Rodrick! — Kassandra se debatia e lutava para se livrar do abraço do marido, que firmava ainda mais o braço. Rodrick olhou para Annchi e exclamou:

— Annchi, por favor... leve nosso filho! — ele chorava e clamava com a voz embargada pelas lágrimas — Por favor, providencie para que ele tenha um sepultamento digno. É o último favor que irei te pedir, te dou a minha palavra. E não se preocupe quanto ao que vai dizer ao doutor Davis... Pode contar toda a verdade, eu irei assumir a responsabilidade!

Annchi claramente hesitava. Ela ainda protegia o corpo de Matthew, estava trêmula e sem ação.

— Kassandra... ela precisa de ajuda, Rodrick!

— Ela vai ficar bem! — Rodrick tentou forçar um sorriso — Tudo isso está sendo demais para ela! Vá, por favor, Annchi. Leve o meu filho desse lugar!

— Não se atreva! — gritou Kassandra, sacudindo o seu corpo freneticamente para fugir dos braços do marido e avançar na direção de Annchi — Me solta, Rodrick! Ela não vai colocar essas mãos imundas no meu filho!

— Agora chega, Kassie! — Rodrick a agarrava ainda com mais força — Pare com essa loucura! Não vamos a lugar nenhum com essa atitude! Procure se controlar! Nós vamos resolver isso jun...

Repentinamente, Rodrick perdeu todo o seu fôlego. Suas palavras foram interrompidas e sua garganta ardeu. Uma dor lancinante invadiu a região do seu abdômen. No lugar de mais palavras de consolo, o que saiu de sua boca foi um esguicho de sangue. A tesoura com a qual Kassandra desejava matar Annchi Zhang estava totalmente empalada no corpo de Rodrick. Com a agitação descontrolada do seu corpo, Kassandra acidentalmente enfiou a tesoura com toda a força no abdômen do marido. Ele perdeu todas as forças e Kassandra finalmente estava liberta. Contudo, sua ira pareceu ter se aplacado como um passe de mágica e o desespero tomou conta de todo o seu ser. Ela viu Rodrick cair de joelhos e em seguida bater o rosto com força no chão frio da sala de procedimentos incisivos. Esquecendo-se de todo o cenário que a cercava, ela se agachou próximo ao homem.

— Rodrick! Por favor, Rodrick... fale comigo! Respire... por favor! RODRICK!

Annchi correu imediatamente e empurrou Kassandra para longe do marido moribundo.

— Saia! Saia! Rodrick! Consegue me ouvir? — Annchi virou o homem para que ele ficasse com o rosto para cima. Rodrick agora era uma máscara da morte. Seu rosto estava repleto de sangue e a hemorragia se estendia por cada orifício. Annchi se aproximou da boca do homem e conferiu seu pulso. A virologista se virou para Kassandra e esbravejou:

— O que você tá esperando? Ele ainda está vivo! Vai buscar ajuda, rápido!

Totalmente desorientada e inundada pelo desespero, Kassandra correu pela sala, em direção às portas duplas. Porém, a situação parecia ficar pior a cada minuto que se passava. Antes que a mulher pudesse sair pelas portas e gritar enlouquecida pelos corredores da ala oeste do laboratório da Ômega, um homem alto, de jaleco branco, cabelos cuidadosamente penteados e olhos claros entrou tranquilamente na sala e quase esbarrou na mulher eufórica que estava de saída.

— Doutora Kassandra Winslet? O que está fazendo aqui? O que está havendo?

— D-doutor Brandon Davis?

— Meu Deus, você está um horror! — o doutor Davis finalmente olhou pela sala e se deparou com um pequeno cadáver em um leito de cirurgia e outro jazendo ao chão ao lado da doutora Annchi Zhang. O lugar estava revirado, o aparelho intensificador estava destruído e uma grande poça de sangue molhava o chão, ao lado do homem morto. Brandon olhou para tudo aquilo com a mais extrema repulsa e perguntou, embasbacado.

— Mas que... merda aconteceu aqui?