O medo, apesar de ser um sentimento fácil de ser identificado, possui ramificações que podem variar de acordo com as circunstâncias. Existe o medo inibidor, aquele que paralisa todos os sentidos e bloqueia todos os impulsos, fazendo com que a pessoa fique totalmente sem ação face a um desafio ou um fator ameaçador. Esse é o medo que a maioria das pessoas experimenta, e que pode ser facilmente confundido com a ansiedade. Trata-se do alerta que é emitido pelo cérebro, que se comunica imediatamente com o resto do corpo, dizendo que algo está errado e que todo o cuidado é pouco. Tal comando cerebral é tão eficaz em sua comunicação que os estímulos são praticamente imediatos. A palpitação, a sudorese e o tremor passam a um estágio incontrolável e a liderança do cérebro se torna tão patente e absoluta que o próprio dono do corpo passa a não possuir mais o controle sobre o organismo. Daí vem a paralisia e a falta de ação.
Entretanto, uma pequena parcela da humanidade aprende, seja em carreiras militares, como soldados, policiais ou bombeiros, seja na carreira clínica, como médicos e cirurgiões ou até mesmo um palestrante que domina o seu medo de falar em público. A essas pessoas, o medo passa de inibidor para impulsionador, onde o cérebro passa a trabalhar em conjunto com o organismo e o ser ao qual o organismo compõe. O medo passa a passar as coordenadas, gerando uma grande carga de adrenalina e consequentemente contribui para a elaboração de estratégias para a resolução das mais variadas adversidades.
E foi exatamente esse medo que tomou conta do grupo que travava um embate contra os Carnívoros em frente ao hospital de Westfield. A imagem dos mortos-vivos avançando de maneira frenética e sedentos por carne humana era de longe a imagem mais perturbadora e aterrorizante que todos os membros do grupo haviam visto até então. O coral de rugidos dos monstros invadia os ouvidos dos sobreviventes e causava uma agonia tal que eles quase não podiam suportar. O terror coletivo foi momentaneamente interrompido pelo ruído molhado de um crânio explodindo pelo disparo do rifle de precisão de Solomon Locke, que atacava da janela do andar de cima do hospital. Tanto o seu disparo quanto o seu assovio de urgência serviu para despertar Alex, Sahyd e os outros para a cruel realidade que se aproximava, voraz e com uma fúria sem precedentes. Kai Yagami foi o primeiro a avançar ao encontro da horda. Segurando o cabo de sua espada com as duas mãos, transformou seu espanto em ira. Aqueles monstros tinham que pagar pelo que fizeram aos seus pais. Embora soubesse que os Carnívoros não eram mais capazes de sentir dor, Kai desejava mais do que qualquer coisa derramar cada gota do sangue dos monstros naquele chão que estava embaixo de tanta maldade. Ele não iria ficar em paz enquanto todas as cabeças não fossem decepadas por sua lâmina.
Kai avançou em direção ao primeiro monstro, um homem de aproximadamente cinquenta anos, calvo, com o rosto em estado inicial de decomposição. Sua barba estava empoçada com a bile negra que não parava de descer de sua boca. Seus olhos eram duas órbitas opacas e sem foco. Pesava cerca de cento e dez quilos, mas se movimentava como um jovem de dezoito anos e no auge dos seus setenta quilos. A variante do vírus Orpheu era mortal e assustadora para dizer o mínimo. Contudo, nenhum dos contrastes bizarros foi capaz de deter a fúria de Kai, que sem nenhuma hesitação, arrancou a cabeça do monstro com apenas um movimento de sua espada. Em uma cena apavorante, o corpo sem cabeça ainda conseguiu dar sete passos desajeitados antes de ir ao chão para sempre. Ao que parecia, o som da queda do companheiro pareceu ter atiçado ainda mais a horda e atraído toda a sua mórbida atenção para o espadachim. Ele teve a certeza absoluta de ter visto todos os rostos mortos se virarem para ele ao mesmo tempo, lentamente, e o que sobrou dos olhos dos monstros encará-lo fixamente, todos ao mesmo tempo. Kai deu um sobressalto, se assustou e hesitou. O milésimo de segundo no qual o homem voltou a ser um garoto amedrontado foi o suficiente para que os Carnívoros rugissem ferozmente e corressem todos em sua direção. O menino amedrontado novamente deu lugar ao homem implacável e a espada de Kai retomou a sua dança da morte. Cabeças eram decepadas, olhos eram perfurados e pouco a pouco, o jardim do hospital de Westfield tornava-se uma gigante e macabra poça de sangue. Lancelot Miller também havia se aproximado da horda e seu taco de baseball esmagava os crânios das criaturas que surgiram dos confins do bosque que margeava os arredores do prédio. Como uma matilha de lobos, os outros monstros eram atraídos pelos silvos, gritos e lamentos dos mortos infectados.
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CODINOME: DELTA
TerrorWestfield é uma grande e importante metrópole. Regida quase que completamente pelo capitalismo, abriga diversas empresas e oferece oportunidades a muitas pessoas, o que a torna uma cidade convidativa e perfeita para se viver. Porém, tudo muda radica...