Capítulo 28

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Annchi estava prestes a concluir a sua explicação a respeito das possíveis mutações do vírus Orpheu quando sentiu repentinamente uma dor terrivelmente intensa em sua perna ferida na ocasião da queda do helicóptero. A dor veio com uma intensidade que ela não sentira até então. Annchi deu um grito estridente de agonia, o que espantou todo o grupo. Alex correu ao seu encontro e a amparou, pousando a mão esquerda em suas costas.

- Annchi, o que aconteceu? A sua perna está...

Rapidamente, porém com cuidado, Alex levantou um pouco a perna da calça de Annchi e o que ele viu causou-lhe grande pavor. O ferimento estava gravemente infeccionado e voltou a sangrar. Como não havia sido tratado anteriormente, uma bactéria se alojou no ferimento, causando um espalhamento da infecção em toda a perna da virologista, espalhando-se até chegar próximo à sua virilha. Solomon Locke também se aproximou da jovem e analisou o ferimento. Seu olhar era técnico e a sua expressão não era de modo algum animadora.

- Há quanto tempo isso aconteceu, minha jovem?

- Eu não sei ao certo - respondeu Annchi, ainda com muita dor - Tem uns cinco dias, mais ou menos. Foi quando o prédio da Ômega foi destruído.

- Estávamos vindo para o hospital desde então, mas... houve muitos obstáculos pelo caminho - Alex respondeu, aparentemente se sentindo culpado.

- Mesmo se chegassem até aqui no dia do ocorrido, nada iria mudar - comentou Solomon, olhando para Alex - O medicamento apropriado para combater esse tipo de ferimento nós não temos aqui no hospital.

- O que disse? - indagou Alex - Tem certeza disso? Esse hospital é enorme. Como não podem ter um antibiótico aqui?

- Acontece que não é qualquer antibiótico - interveio Sahyd - O remédio que tem as propriedades certas para combater a bactéria que se alojou na perna da doutora precisa ser mantido a uma temperatura extremamente baixa e, infelizmente o gerador que temos aqui não é capaz de passar energia suficiente ao refrigerador para que ele possa manter essa temperatura. Medicamentos assim nós costumamos manter em um frigorífico que fica a três quarteirões daqui. Vamos precisar ir buscá-lo imediatamente ou a infecção irá se espalhar até se tornar irreversível.

- Eu vou agora mesmo! - afirmou Alex - Sahyd, você pode me mostrar o caminho?

- Claro que sim, mesmo porque não sabemos quantos daqueles monstros podem estar aí fora. Quanto você tem de munição?

- Acho que o suficiente, eu só preciso atirar com prudência.

- Temos um arsenal próximo ao saguão de ortopedia. É melhor que todos nós estejamos recarregados!

O grandalhão Lancelot também se prontificou.

- Ei policial, pode recarregar, mas nem vai precisar usar suas balas. Esse meu taco é poderoso e pode facilmente substituir as suas armas - Lancelot bateu de leve o seu taco de baseball na outra mão.

- Tem certeza disso? - questionou Alex - Não acha melhor levar uma arma de fogo?

- Não precisa se preocupar! - exclamou Sahyd - Lance é muito bom em combate, e pode acreditar em mim quando digo que esse taco que ele tem na mão pode ser muito mais poderoso do que qualquer uma de nossas armas se usado corretamente.

- Essa maravilha esmaga cérebros perfeitamente - comentou Lancelot - Vai ver quando estivermos lá fora.

- Eu também vou! - interveio Beatrice, falando com segurança, segurando a faca de combate. Alex voltou-se para ela e respondeu:

- Acho melhor você ficar com Annchi e Solomon, Beatrice. Nós já encontramos um lugar seguro e eu não gostaria de perder mais ninguém.

- Eu não posso ficar aqui enquanto vocês se arriscam lá fora! Annchi não precisa de mim aqui e acho que Solomon consegue cuidar dela sozinho!

- Nós não sabemos quantos monstros podem estar perambulando do lado de fora, isso sem contar os que estão contaminados pela variante - debateu Alex - Você não tem experiência em combate e não podemos correr o risco de sermos encurralados ou mordidos.

Beatrice prendeu a faca de combate em sua cintura. A arma, antes usada por Annchi, fora adotada agora pela jovem. Ela decidira, após integrar o grupo de sobrevivência, que não iria mais se esconder dos inimigos e dos pesadelos que naquele momento eram assustadoramente reais. Beatrice conseguiu impedir que uma lágrima caísse de seus olhos, olhou para Alex e respondeu:

- Eu não vou fugir da minha responsabilidade, Alex! Você e Annchi salvaram a minha vida. Não serei egoísta a ponto de manter em segurança enquanto você se arrisca mais uma vez. Sei que você é um policial experiente, mas eu... eu também já cuidei de pessoas, de crianças... E fiz isso sozinha! Se eu estou viva nesse momento, Alex, é porque você e Annchi tomaram uma decisão. Vocês poderiam ter seguido com o carro e me ignorado quando eu estava em perigo, mas não foi isso o que fizeram. Então nesse momento eu peço a você. Me deixe tomar essa decisão! Por favor... Por Annchi...

Assim como Alex, naquele momento todos os outros permaneceram em silêncio, olhando para Beatrice, ouvindo cada palavra que ela dizia. Palavras que ela proferia com a boca e com o coração. Não eram palavras vazias, um discurso feito, mas era uma promessa de uma mulher valente, que possuía um nobre coração e uma vontade intensa de viver e também, se possível, dar a sua vida pelos outros. Alex sabia identificar alguém com essas virtudes e obviamente as apreciava. Porém, mesmo assim, ele relutava em levar a jovem consigo.

- Mas Beatrice...

- Alex! - interveio Annchi - Deixe-a ir com vocês. Ela é uma de nós... Está vivendo o que estamos vivendo. Beatrice será importantíssima para nossa sobrevivência. Eu sei disso.

Alex olhou para todos os outros membros do grupo como se esperasse algum protesto, mas ninguém parecia ter qualquer tipo de objeção. Ele então se voltou para Beatrice.

- Acho que temos tempo para um rápido treinamento - disse ele, destravando a Magnum - Porém, só vou poder te ensinar uma vez!

- Não precisa se preocupar - retrucou Beatrice, com um sorriso - Tudo o que preciso está bem aqui na minha cintura - Ela apontou para a faca de combate. Já viu o que consigo fazer, então não venha com mais desculpas!

- Bom, sendo assim... não percamos mais tempo. Estamos prontos?

- Com toda a certeza! - afirmou Sahyd - Vocês deram sorte, acabei de abastecer o carro! Mas terão que ter paciência, não posso andar a mais de cinquenta por hora. O ronco do motor em alta velocidade pode atrair muitos monstros.

Visivelmente preocupado, Alex olhou para o ferimento de Annchi e depois para Solomon.

- Quanto tempo acha que temos?

- Não se preocupe, garoto. Eu vou conseguir estancar o ferimento provisoriamente e farei uma bandagem para evitar a entrada de mais bactérias. Terão tempo suficiente, mas precisarão se apressar.

- Obrigado, Solomon! - Alex agradeceu com um aceno de cabeça - Não sei o que faríamos sem a ajuda de vocês!

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