CODINOME: DELTA

Capítulo 52

O doutor Brandon Davis olhava para a cena ao seu redor com a máxima repulsa que um homem seria capaz de sentir. O ambiente de morte o atingiu como um impacto diretamente no rosto. Ele não conseguiu pensar em outra ação a não ser exigir uma explicação.

- Doutora Winslet... mas que diabos aconteceu aqui?

Naquele momento, Kassandra não sabia o que sentir. Acabara de perder a sua família por causa de um experimento insano que não deu certo. E ao que tudo indicava, também estava prestes a perder sua carreira. Não havia mais o que fazer. Ela teria tempo para lamentar depois. Por ora, teria que explicar toda aquela loucura ao seu superior.

- Doutor Davis... eu desenvolvi um antígeno que descobri ser capaz de curar Matthew de sua paralisia. Ocorre que é um agente extremamente poderoso e - Ela fechou os olhos e engoliu seco - os riscos são enormes.

Brendon olhou para o corpo de Rodrick Winslet e depois para a tesoura ensanguentada, que ainda estava na mão de Kassandra. Ele olhou para ela, que estava trêmula e abriu seu sorriso sinistro, que já lhe era característico.

- Imagino que o plano incluía investir o seguro de vida de Rodrick para dar início à sua... nova vida?

O ódio, que já não estava em baixa quantidade, tomou conta dos olhos de Kassandra, que olhou de maneira demoníaca para o doutor Davis.

- Repita o que disse, canalha!

Brendon fingiu estar com medo da mulher, que segurava a tesoura cirúrgica com ainda mais força. Ele colocou as duas mãos à frente do corpo, insinuando uma rendição.

- Acalme-se, doutora Winslet... ninguém precisa saber disso, não é? Mesmo porque uma coisa tão horrível aconteceu nas dependências do meu laboratório - o sorriso voltou ao seu rosto - e sem o meu conhecimento. E olhe para isso... como poderei explicar dois cadáveres no consultório de pesquisas específicas? E sob circunstâncias tão... violentas?

— Você nunca iria entender! — Kassandra esbravejava, se aproximando, de maneira ameaçadora — Não é capaz de compreender o desespero de uma mãe que deseja mais que tudo salvar o seu filho! Um homem sem coração como você... não consegue compreender esse tipo de coisa!

— Você está certa, doutora Winslet... de fato, eu não consigo entender o que se passa em sua cabeça! Matthew era um bom garoto, inteligente, com um grande futuro à frente, além de ter uma bondade admirável. E a única coisa que você conseguia enxergar em seu filho era a paralisia. Definitivamente, eu não queria estar em sua pele, doutora!

As palavras do doutor Davis chegaram aos ouvidos de Kassandra com um poder devastador. Sua frieza em dizer aquilo a uma mãe que acabara de perder o filho era no mínimo desumano. Aquele homem era a personificação da maldade e do egoísmo. Kassandra perdeu todas as forças. Ela caiu de joelhos e a tesoura cirúrgica se soltou de sua mão. Então, a fúria insana deu lugar à tristeza e ao desespero. Ela apoiou a testa no chão frio do consultório e se derramou em lágrimas.

— Eu sinto muito, Matt... eu queria te dar uma vida melhor e falhei! Eu sinto muito, muito... me perdoe!

Annchi olhava para a mulher com piedade, mas não ousou se aproximar dela. Ela estava enfrentando um turbilhão de emoções. Em sua imaginação, Annchi foi a culpada pela morte de Matthew e se ela não tivesse destruído o aparelho intensificador, com certeza Matthew suportaria a dor por alguns minutos e ele enfim estaria curado. Matthew sempre fora um guerreiro, que enfrentaria qualquer tipo de adversidade para conquistar a vitória de poder andar como as outras crianças e ganhar a sua independência. E Annchi destruíra não somente o sonho de Matt, mas também o de Kassandra. Ela permanecia ajoelhada, soluçando e amaldiçoando a própria sorte. O doutor Davis olhava para a mulher visivelmente com falsa compaixão.