O Jeep Renegade avançava agora a sessenta por hora e o cão infectado, que estava agarrado a um pequeno buraco no vidro quebrado do para-brisa causado pelos constantes golpes de sua pata, permanecia firme em seu propósito de devorar as presas dentro do veículo. Entretanto, Alex Stevens já havia sacado a sua Magnum recém-carregada e olhou pelo retrovisor lateral e pelos arredores da estrada procurando por alguma outra criatura que pudesse surpreendê-lo assim como acontecera com Sahyd. Além de todo o lixo na estrada, não havia mais nada no caminho, portanto Alex se posicionou com firmeza para fora da janela do passageiro e mirou a cabeça do cão. Diferente dos mortos-vivos humanos, o animal se movia muito rápido, o que acabou causando um pouco de dificuldade para Alex conseguir atingir o seu alvo.
Em seu treinamento militar de muitos anos, Alex aprendeu que quanto mais o alvo estivesse agitado, mais ele deveria permanecer calmo e controlar a sua respiração. Normalmente, assaltantes de bancos ou qualquer terrorista que utilizasse um refém, estavam no máximo de sua histeria e a qualquer momento poderiam causar um estrago irreparável sem pensar duas vezes. E assim como o assaltante, o refém também costumava ter um comportamento ansioso e frenético em virtude da situação de perigo ao qual estava exposto. Dessa forma, o sniper ou o policial que estava decidido a neutralizar o bandido, deveria nutrir a calma de três pessoas se quisesse ter sucesso em seu objetivo.
O cão havia conseguido quebrar mais um pedaço do vidro e já estava prestes a colocar o seu focinho no buraco quando uma bala da Magnum atingiu em cheio o seu crânio, fazendo-o explodir em uma pequena chuva escarlate. O resto do corpo do cão, agora sem cabeça, deslizou de modo bizarro pelo capô e caiu violentamente no asfalto.
- Essas coisas parecem estar ficando mais poderosas - comentou Alex, voltando a se recostar no banco, aliviado.
- Então o que Annchi disse é verdade - disse Beatrice, do banco de trás - o vírus já deve ter evoluído para um estágio ainda mais agressivo e as criaturas estão desenvolvendo uma força muito além do compreensível.
- Nesse caso, vamos precisar de muito mais do que munição e rapidez - acrescentou Sahyd - Será necessário bolar estratégias. Temos que estar sempre um passo à frente dos monstros.
Sahyd pegou uma saída à direita e cento e cinquenta metros mais à frente havia um galpão que possuía um aspecto conservado. Ao seu redor, erguia-se uma enorme cerca de arame farpado, evidentemente providenciada para proteção contra qualquer invasor indesejado. Ali era o lugar. Sahyd apontou com o dedo indicador.
- Vejam, ali está o frigorífico. Vou estacionar um pouco mais afastado, mantenham a guarda alta.
Sahyd parou o veículo atrás do galpão e desconectou a bateria, para não correr o risco do alarme ser disparado e atrair mais Carnívoros. Alex, Beatrice e Lancelot também desembarcaram, em silêncio, observando ao redor. Ao que parecia, o caminho estava livre. O galpão era de uma antiga empresa de câmara fria e, por sorte, Sahyd descobriu dias atrás que o gerador de refrigeração ainda estava funcionando perfeitamente. Dessa forma, ele conseguiu armazenar uma grande quantidade de alimentos e também medicamentos que precisavam de baixas temperaturas para conservar as propriedades de tratamento. Além do hospital, o galpão também precisava ser cuidadosamente protegido. Solomon costumava fazer incursões pelo lugar ao menos duas vezes por dia, abatendo Carnívoros que conseguiam passar pelas proteções.
Alex, Sahyd, Beatrice e Lancelot se dirigiram até a entrada do galpão, caminhando com precaução. O percurso foi feito em silêncio e eles evitavam caminhar rapidamente. Quando enfim passaram pelo portão improvisado de arame farpado e chegaram à porta de entrada, Sahyd alertou o grupo.
- É melhor estarem preparados a partir de agora. O frio dentro do galpão é quase insuportável, por causa da câmara fria. Temos que agir rápido.
Mal o grupo entrou no enorme galpão, o clima mudou drasticamente. Se a temperatura ambiente pudesse ser medida naquele momento, estaria cerca de menos dois graus. Sahyd e Alex não sofreram tanto quando Lance e Beatrice. Como eram militares, os dois já eram treinados para suportar adversidades climáticas por um longo período. A bem da verdade, Beatrice foi quem mais sofreu com o frio extremo, pois seu corpo era menor e mais frágil. Lancelot tirou sua jaqueta de moleton e a ofereceu.
- Olha, vai ficar um pouco grande em você, mas enquanto estivermos aqui dentro, vai servir.
- Ora, mas e você? - indagou Beatrice - Está frio demais para qualquer um de nós ficar sem agasalho! Obrigada, mas não posso aceitar.
- Não se preocupe, eu aguento. Já estive em situações piores. Vamos, pode vestir.
- Obrigada, Lance! - Beatrice vestiu o agasalho. De fato, ficou enorme, mas isso era bom, pois assim todo o seu corpo pôde ficar um pouco mais protegido.
Eles caminharam rapidamente pelo corredor principal do galpão. Ao redor, erguiam-se prateleiras de até seis andares, repletas de pacotes de alimentos e laticínios. O lugar estava incrivelmente conservado. Realmente todo o terror daqueles dias não invadira aquele lugar. Embora estivesse um frio extremamente agressivo, parecia o único lugar na face da Terra onde havia um pouco de paz. Ao final do corredor, havia uma porta dupla que dava para um saguão onde havia uma escada em espiral. Sahyd foi à frente, subindo as escadas cuidadosamente, acompanhado pelo grupo. Embora a temperatura estivesse suficientemente baixa, os degraus estavam úmidos pela liquidificação do ar frio. Após subirem os dezesseis degraus, eles se depararam com um corredor pouco iluminado. O silêncio era absoluto e a escuridão que fazia contraste com a forte iluminação do andar de baixo dava um tom um tanto tenebroso ao lugar.
O grupo se apressou em passar pelo corredor até chegar a uma porta no fundo à direita. Sahyd tirou um cartão de acesso do bolso de sua jaqueta e o passou em um leitor óptico, fazendo com que a porta se destrancasse com um clique. A sala para a qual a porta se abriu era relativamente pequena e uma única cúpula de refrigeração encontra-se anexa à parede. Sahyd se dirigiu até a cúpula e a abriu, colocando as mãos em uma válvula e a girando para a direita. O interior da cúpula estava repleto de medicamentos para tratamento de infecções. O remédio que Annchi precisava estava em uma gaveta logo abaixo. Cuidadosamente, Sahyd moveu a gaveta e retirou o frasco do receptáculo. Alex não pôde deixar de se espantar com o engenhoso e cauteloso armazenamento.
- Isso é simplesmente incrível! Como puderam organizar algo assim em meio a... tudo isso?
- O mundo virou de cabeça para baixo, isso é verdade - respondeu Sahyd - Porém, o último sentimento que devemos manter em nós é o desespero. Nós nunca sabemos quando comeremos pela última vez, ou quando será a última vez que beberemos água ou então... até quando podemos beber de uma água que seja saudável. Qualquer recurso que temos, por mais simples que seja, pode ser o último. A pandemia começou a poucos dias, Alex. Imagine quando isso se estender por anos.
Alex nada respondeu. Evidentemente ele concordava com Sahyd, mas até aquele momento, ele não havia tido tempo para refletir sobre a situação na qual se encontravam. Literalmente, o amanhã não existia mais e cada passo poderia ser decisivo para a sobrevivência ou a condenação das pessoas. Antes da tragédia causada pela Ômega, comprar um medicamento era tão simples quanto ir ao supermercado. Na atual situação, para tratar de um ferimento, era necessário atravessar cautelosamente uma pequena distância e se manter atento para não ser infectado ou ter um braço arrancado por um cachorro zumbi.
Sahyd colocou o frasco do medicamento na mão direita de Alex.
- Isso vai ajudar a doutora. Uma pequena quantidade todos os dias e a perna dela vai ficar nova em folha. Basta ter disciplina - Sahyd abriu seu primeiro sorriso desde que sua história se juntou à história de Alex - Mas acho que isso não é problema para vocês.
Alex apertou firme a mão de Sahyd.
- Muito obrigado! Serei eternamente grato... a todos vocês!
- Agora somos uns pelos outros - respondeu Sahyd - Cada um à sua maneira.

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CODINOME: DELTA
TerrorWestfield é uma grande e importante metrópole. Regida quase que completamente pelo capitalismo, abriga diversas empresas e oferece oportunidades a muitas pessoas, o que a torna uma cidade convidativa e perfeita para se viver. Porém, tudo muda radica...