Capítulo 48

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O medo que Tracey e Beatrice Murray sentiam naquele momento era o medo impulsionador. Aquele que ativa toda a adrenalina e faz com que o cérebro trabalhe com mais rapidez. É o sentimento que faz com que o ser humano aja sem pensar nos "comos" e "porquês". É o instinto da pura ação, da vontade de realizar o impossível, de resolver um enigma indecifrável e, finalmente, de vencer um inimigo invencível. A vida as reunia novamente, em uma situação onde qualquer reencontro seria improvável. Aquele tipo de coincidência não poderia existir, não naquelas circunstâncias. Havia uma mensagem divina, mesmo no fim do mundo. E foi por essa razão, dentre outras que infindáveis que se poderia descrever, que elas investiram, com toda a confiança, na direção do Kraken. Ele não mais as intimidaria. As irmãs estavam cercadas, mas isso não era uma desvantagem. Tudo dependia delas naquele momento. Em seus corações, uma faísca de esperança ainda reluzia, e essa era toda a motivação de que elas precisavam. Havia uma chance de vencer o caos, e elas não iriam deixar essa oportunidade passar.

Tracey e Beatrice estavam a quase um metro do Kraken quando este tentou golpeá-las com seus quatro braços. As duas garotas deslizaram pelo chão do hospital, passando ao lado do gigante, que esmurrou o nada. Tracey levantou-se atrás do Kraken e se agarrou em seu pescoço. A criatura se debatia, enlouquecida, tentando agarrar a garota. Beatrice saltou e, com um poderoso movimento de perna direita, chutou o focinho do gigante, atingindo-o em cheio. Atordoado pelo forte chute, o Kraken cambaleou para trás e foi ao chão. As irmãs tentaram aproveitar a desvantagem do monstro para inserir o sedativo em seu pescoço, mas ele rapidamente se recuperou e seus braços reagiram de imediato. Tracey e Beatrice saltaram para fora do alcance do monstro, que levantou-se quase instantaneamente. Ainda mais enfurecido, ele voltou a perseguir as irmãs. Ele iria matá-las, custasse o que custasse. Beatrice olhou para a irmã, que corria ao seu lado.

— Tracey, consegue distraí-lo por uns vinte segundos?

— Tá brincando? Posso ficar até uma hora deixando esse cara maluco!

Beatrice sorriu, contagiada pelo entusiasmo da irmã.

— Só preciso de vinte segundos!

Beatrice atirou-se para o lado direito e correu na direção de um corredor paralelo, enquanto Tracey assobiava e provocava o Kraken.

— Vem me pegar, seu moloide! Vai precisar de mais do que isso se quiser me devorar! Vamos, eu tô bem aqui!

O Kraken rugiu assustadoramente outra vez e correu repleto de ira na direção de Tracey. Nesse ínterim, Beatrice se dirigiu até um extintor de incêndio que estava fixo na parede no lado direito do corredor. Rapidamente, ela tirou o aparelho de pó químico do gancho e correu de volta para o gigante. O Kraken tentava golpear Tracey de todas as formas, mas esta conseguia se esquivar eficazmente de todos os seus ataques, rolando em cambalhotas e atacando o monstro quando lhe era possível. Beatrice finalmente parou e segurou o extintor firmemente em seus braços. Ela então assobiou e gritou:

— DYLAN! OLHA PRA MIM!

O gigante virou-se repentinamente na direção de Beatrice, que ativou o extintor de incêndio, fazendo com que ele liberasse toda a pressão que estava comprimida e agisse como um míssil, voando na direção do rosto do Kraken. O impacto fez com que a criatura caísse mais uma vez. Tracey comemorou com um salto e exclamou:

— Essa é minha garota!

— Maravilha! As seringas, Tracey!

Novamente, as irmãs correram para aplicar os sedativos no monstro. Contudo, mesmo o golpe do extintor não foi suficiente para enfraquecê-lo de modo que elas pudessem tirar o Kraken de combate. Novamente, seus braços, que pareciam ter vida própria, acertaram as duas simultaneamente, lançando-as a quatro três metros de distância. Elas bateram com força as costas na parede e perderam quase todas as forças. Ajoelharam, sentindo fortes dores nas costas e na nuca. Tracey olhou para a irmã.

— Bea... Você tá bem?

— Minhas costas não são mais as mesmas, mas tirando isso... Tá tudo bem! E com você?

— Já levei pancadas piores! Não será um monstro de quatro braços que vai me derrubar!

— É preciso de muito mais que isso para tirar a sua teimosia, não é? — comentou Beatrice, rindo com dificuldade.

— Olha só quem fala... você tá longe de ser a pessoa mais prudente do mundo!

— Acho que é por isso que conseguimos nos encontrar de novo, não é? A gente se recusa teimosamente a desistir dos nossos sonhos!

— Nossos sonhos são tudo o que temos, Bea... Não tem como desistir deles!

Nesse momento, o gigante se ergueu novamente, porém estava temporariamente sem visão. O pó químico, expelido pelo extintor de incêndio, atingiu seus dois olhos, deixando-o cego por um curto período de tempo. O monstro andava trôpego, sem rumo, atacando o vento, tropeçando a esmo pelo piso.

— Olha pra aquilo, Bea... parece que a sorte sorriu para nós mais uma vez!

— Essa é a nossa chance. Dylan conta conosco!

— Ainda acha que ele está vivo?

— Não somente acho, como sinto a vida dele. Seus olhos, sua alma... ainda estão lá, embaixo de toda aquela aberração!

Ainda olhando para o Kraken, que tateava o corredor, totalmente confuso, Tracey comentou:

— O garoto Dylan está caminhando pela escuridão nesse momento, e nós somos a única chance que ele tem, não é?

— É exatamente isso! Mesmo a mais fraca luz pode se destacar facilmente na mais densa escuridão.

— Palavras da Mamãe... Sinto tanta falta dela...

— Vamos encontrá-la, Tracey... isso faz parte do nosso sonho.

— Então, assim como ela mesmo diria, só há uma maneira de dissipar toda e qualquer escuridão.

As irmãs ergueram as seringas em suas mãos e olharam uma nos olhos da outra, dizendo ao mesmo tempo, em voz alta:

— SEJA LUZ!

E finalmente, elas correram, lado a lado, o medo se transformou em força, a luz estava prestes a varrer a escuridão. Aproximaram-se do Kraken, saltaram ao mesmo tempo e injetaram, ao mesmo tempo, duas seringas, uma em cada lado do pescoço do monstro. As agulhas entraram direto na carne e o líquido enfim fez o efeito desejado.

CODINOME: DELTAOnde histórias criam vida. Descubra agora