Capítulo 2

223 24 16
                                    

Inverno de 2023

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Inverno de 2023

Dulce María

Deixei Mariana na escola depois de enchê-la de beijos e ficar surpresa por ela não ter me pedido para parar. Sinal de que realmente estava precisando de carinho.

Antônio nos deixou e eu sabia que ela não estava lidando tão bem com isso, da mesma forma que nunca lidou com lutos. Com razão, afinal, ela nasceu em meio a vários.

Desde que voltamos do Brasil, quando Mariana tinha 1 ano e meio, Antônio foi meu alicerce e minha família. Me estendeu a mão quando mais precisei e me acolheu como se fosse sua filha.

Eu fui embora porque precisava dos meus pais, mas voltei porque precisava estar perto de Christopher de alguma forma e Antônio foi a principal maneira que encontrei.

Incansável. Essa é a palavra que resumiu Antônio nos últimos anos. Mesmo sem respostas, ele seguiu procurando por Christopher até os últimos dias da sua vida. Ele nunca se curou, assim como eu.

Apesar de ter me casado anos depois com Daniel, eu custei a entender que Christopher não voltaria, até porque, ainda hoje, sinto que ele está em algum lugar. É estranho, mas eu apenas sinto.

Mariana foi a peça chave para que eu conseguisse juntar todos os meus pedaços, e seguir com minha vida. A única forma que encontrei de levar Christopher conosco é contando tudo sobre ele para sua filha. Nossa Mariana.

Segui para Licence, a empresa que Mariana havia herdado do avô, que deixou porcentagens divididas entre eu e Christopher, para ficarmos à frente enquanto a menina não completa sua idade maior. Claro, apenas eu assumi essas porcentagens, afinal, só eu estou aqui.

— Bom dia, Matilda! — Cumprimentei minha secretária, que agora ficava bem na entrada do empresa, como uma recepção. — Vou para o meu escritório. Você manda todas as encomendas para lá?

— Bom dia, Dulce. Claro, já levo para você. — Ela disse com um sorriso aberto nos lábios.

— Vou para minha sala. — Falei me despedindo dela e seguindo para meu escritório, que agora ficava no andar de baixo.

Fazia pouco tempo que tínhamos reformulado tudo. Antônio ainda estava vivo, e concordou com a minha ideia de que isso nos torna ainda mais humanos.

E vou confessar viu? Aqui embaixo eu com certeza consigo acompanhar melhor os projetos que estão acontecendo, e tenho um acesso mais fácil aos meus colaboradores.

O andar de cima se tornou uma grande sala de reuniões, nada além disso. Era onde recebíamos nossos clientes e parceiros ou fazíamos reuniões mais sérias e formais.

Sentei na minha cadeira e suspirei profundamente. Eu batalhei muito para entender essa empresa, e tenho certeza que quando Mariana puder assumi-la tudo estará perfeito.

— Dul! — Maite entrou na sala sem bater, chamando a minha atenção. Foi estranho, mas a recebi com um sorriso.

— Maiii, era com você mesmo que eu queria falar. — Disse me levantando de novo. — Convidei Lali e Lila para almoçarem comigo, que tal irmos juntas? — Falei animada e franzi a testa. Maite estava estranha.

— Claro. — Ela disse sem jeito, coçando a testa e franzindo a testa. — Dul, eu preciso contar uma coisa pra você que aconteceu pela manhã e...

— Bom dia! — Uma voz ecoou no salão principal da empresa. — É bom revê-los novamente. — Franzi a testa e senti meu corpo inteiro estremecer.

Engoli em seco. Não pode ser!

— É... — Eu franzi a testa e Maite me olhou com os olhos repletos de lágrimas.

Arregalei os olhos assim que me dei conta do porque ela estava me olhando daquela forma. Era ele.

Coloquei a mão na maçaneta sentindo meu corpo doer e um nó imenso se formar na minha garganta.

Eu precisava ver com meus próprios olhos.

— Dul, espera... — Maite disse, eu parei, mas não a olhei. — Ele não se lembra de nada. — Virei o rosto para olhá-la, franzindo a testa. — Vai com calma, talvez não seja como você espera.

Como eu espero? Eu esperei por esse momento durante anos, imaginando milhões de hipóteses que poderiam acontecer.

Mas em nenhuma delas, ele não se lembrava de mim e muito menos do que havíamos vivido.

Abri a porta, sentindo o vento bater em meus cabelos. Ele estava próximo, mas não o suficiente.

Era ele. Christopher estava vivo e a poucos metros de mim.

Eu não sabia explicar o que meu coração estava sentindo naquele momento. Meus pés pareciam estar grudados no chão, era como se, mesmo com vontade, eu não poderia me mexer.

Ele virou o rosto e nossos olhares se encontraram. Minha visão ficou turva por conta das lágrimas que se acumulavam. Era ele sim, mas seu olhar estava diferente. Tinha algo escuro neles, e eu não sabia explicar o que era.

Juntei toda a força que tinha em meu corpo, e caminhei em sua direção. Meus passos foram quase vacilantes, meus olhos estavam cheios d'água e meus dedos seguravam o tecido do vestido com tanta força que eu poderia rasgá-lo.

Parei em sua frente, olhando e tentando colocar na minha cabeça que ele realmente estava diante de mim, vivo.

— Você está... — Engoli em seco sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. — Eu sabia que você estava vivo. — Eu sorri rapidamente e comprimi os lábios, sentindo o gosto salgado das minhas lágrimas.

Levantei minha mão para tocar seu rosto. Ele ficou parado, e deixou que eu fizesse isso, mas seu olhar continuava estranho, longe, completamente frio.

— Você deve ser Dulce María Saviñon. — Ele colocou a mão em meu braço, levemente tirando minha mão do seu rosto. Como se eu não fosse perceber.

Franzi a testa e funguei, achando estranho sua voz fria e vazia.

"Ele não se lembra de nada". A voz de Maite dizendo essa frase antes de eu abrir a porta do escritório ecoou na minha cabeça.

— Podemos conversar na sua sala? — Ele disse isso sério e eu engoli em seco. O que é que está acontecendo?

— Claro! — Falei passando a mão no rosto rapidamente, secando minhas lágrimas. — Pode ir. — Indiquei com o braço e ele saiu caminhando, passando a pouco metros de distância de mim.

Fechei os olhos. Seu cheiro ainda era o mesmo. Meu Deus! Como pude viver sem ele por tantos anos?

Olhei em volta e vi muitas pessoas abaixando a cabeça, voltando ao seu lugar de trabalho. Obviamente aquilo tinha sido um grande show.

Respirei fundo, tentando me recuperar o máximo que eu podia. Algo dentro de mim dizia que aquela conversa séria muito difícil.

— Mai, você me espera aqui? Cuide pra quando as meninas chegarem, tudo bem? — Comentei baixinho assim que me aproximei dela e de Christopher.

— Claro, Dul. — Ela pegou minha mão e olhou no fundo dos meus olhos. — Eu não vou sair daqui, ok? — Eu assenti e engoli em seco. Eu sabia que ela tinha dito aquilo para me poupar do que viria a seguir.

Christopher entrou em minha sala primeiro e eu entrei logo atrás, imaginando que ele parecia saber o que tinha em mãos.

E aí, vocês acham que essa conversa do reencontro vai ser tranquila? Que as coisas vão ser fáceis? Espero que amem, volto em breve. Besos da Blan ♥

No te olvides ✨Onde histórias criam vida. Descubra agora