Outono de 2023
Christopher
Ver os olhos de Mariana se encherem de lágrimas assim que ela escutou o que havia sido dito, fez meu coração apertar de uma forma absurda e a única coisa que eu queria era abraçá-la e arrancar toda a dor que ela estava sentindo.
— Porque ficaram quietos? — Ela perguntou e Peter apareceu logo atrás dela, franzindo a testa e tentando entender o que está acontecendo. — Que história é essa de que o tio Dan roubou minha chance de ter um pai? — Olhei para Dulce e vi sua garganta oscilar, e as lágrimas continuavam a escorrer pelo seu rosto.
— Filha, nós podemos conversar. — Dulce disse soluçando e tentando manter a calma, mas eu sabia que ela não estava conseguindo processar nem o que estava acontecendo com ela. É difícil descobrir a traição de alguém que você confiava de olhos fechados.
— Daniel sabia que eu estava vivo desde a morte da sua avó e não contou nada. — Mariana me olhou com os olhos levemente arregalados, logo voltando seu olhar para Dan.
— Que? — Peter disse tão incrédulo quanto Mariana.
Foram segundos de silêncio que pareciam uma eternidade. A única coisa que soava pelo ambiente era o choro incessante de Dulce, que não parava de soluçar por nada, tentando recuperar o fôlego.
Quando pensei em me aproximar dela e perguntar se estava bem, Mariana passou por nós dois como um furacão parando na frente de Daniel.
— Como você conseguiu? — Ela perguntou com a voz trêmula, como se tivesse um nó apertando sua garganta. — Como você conseguiu me ver crescer todos esses anos sabendo que ele estava vivo? Que tipo de pessoa faz esse tipo de maldade com uma criança pequena?
— Mariana, você não deveria falar comigo nesse tom. — Ele disse com a voz embargada, mas se mantendo sério. — Nós sempre nos respeitamos.
— Naquelas, não é? Você odeia o fato de que eu sou filha dele. — Ela disse apontando pra mim e meu coração se apertou no mesmo instante. — Acha que não sei? Você nunca sequer tentou se aproximar de outra forma que não fosse uma conhecida. Sempre achava uma desculpa para não ficar comigo ou brincar comigo. Você nunca tentou uma proximidade que fosse, tudo isso porque eu te lembro do amor deles. — Sua voz falhou por alguns segundos e as lágrimas escorriam sem parar do seu rosto.
— Sim. — Daniel respondeu sério e até mesmo frio. — Eu não conseguia gostar de você porque você me lembra dele. Me lembra que ele roubou a chance de viver com Dulce o que ele viveu. Eu apenas a peguei de volta. — Mariana balançou a cabeça, dando passos para trás. — Você só foi alguém que apareceu para piorar as coisas.
— Pai! — Peter disse se aproximando, mas Mariana saiu correndo escada acima, antes que ele pudesse alcançá-la. — Que porra você está fazendo? Que tipo de pessoa você se tornou por puro egoísmo? — A decepção era nítida na voz de Peter.
— Isso não tem nada a ver com você, filho. — Daniel disse abaixando a cabeça.
— Ah, tem sim. — Ele disse apontando para a escada. — Qualquer coisa que tenha a ver com ela, tem a ver comigo. — Apontou para si mesmo. — Converso com você depois. — Peter disse correndo para as escadas também.
— Faça o favor de recolher as suas coisas e sair da minha casa ainda hoje. — Dulce disse secando suas lágrimas com as mãos, mais calma, mas ainda com muita raiva em seu tom de voz.
— Você não pode fazer isso. — Daniel disse se aproximando dela de novo. Dessa vez, Dulce apenas levantou a mão o fazendo parar onde estava.
— Ah, eu posso sim. — Seu tom agora tinha um pouco de sarcasmo. — E pense pelo lado positivo, Daniel, não teremos que sofrer com a burocracia de um divórcio. — Ela riu pelo nariz e ele abaixou a cabeça, certamente chateado com o que ela tinha acabado de dizer. — Vou subir para que você arrume suas coisas.
— Eu vou atrás de Mariana! — Dulce apenas assentiu, e apesar de estar preocupado com ela, sabia que ela ficaria bem por enquanto.
Subi as escadas na frente deles, rápido até chegar na porta do quarto da minha filha e ver Peter batendo na porta sem parar.
— Petisa, por favor, me deixe entrar. — Ele disse implorando, me olhando assim que me aproximei. — Ela não abre a porta por nada e não me responde. — Ele suspira, muito preocupado.
— Deixa comigo! — Falei assentindo. — Dulce e seu pai estão subindo. — Peter assentiu e eu bati na porta.
— Filha, sou eu. — Escutei um barulho dentro do quarto e logo a porta se abriu, e uma menina com os olhos cheios de lágrimas, me olhando com uma criança que acabou de machucar o joelho me olhou.
— Papai, eu sinto muito. — Sua voz saiu chorosa e eu não resisti, a envolvendo em meus braços e deixando minhas lágrimas escorrerem pelo meu rosto, enquanto a mesma afundava o seu em meu peito. — Eu não consigo acreditar que perdemos 18 anos por causa de alguém, eu não... — Ela soluçou.
— Shhh, princesa. Por favor, não pense mais nisso, ok? — Falei me afastando dela e segurando seu rosto com as mãos. — Eu sei o quanto isso é horrível, estou tentando assimilar também, mas pense que nós agora temos todo o tempo do mundo para estarmos juntos.
— Mas não é justo, pai. — Ela disse soluçando. — Não é justo que por causa disso eu tenha crescido sem você, que por causa de alguém você tenha perdido todas as fases da minha vida até agora.
— Eu sei, filha, eu sei. — Eu disse acariciando seus cabelos.
— Vocês descobriram isso como? — Ela franziu a testa. — Você achava que a minha mãe tinha atendido o telefonema? — Eu assenti.
— Sim, por isso cheguei daquela forma aqui no México. Eu achava que sua mãe tinha me dispensado.
— Minha mãe nunca faria algo assim. — Ela disse balançando a cabeça.
— Agora eu sei disso. — Falei sorrindo sem mostrar os dentes. — Você precisa se acalmar. Não quero mais ver lágrimas suas por causa disso. — Ela assentiu, abaixando o olhar. — Eu prometo, Lali, que vou fazer de tudo para que a gente possa recuperar todo o tempo que nos foi roubado, nem que para isso eu precise ficar. — Ela voltou a me olhar.
— Você está pensando em ficar? — Eu apenas assenti. — Eu ficaria muito feliz se isso acontecesse. — Ela abriu um sorriso em meio às suas lágrimas.
Beijei sua testa e voltei a abraçá-la, esperando que ela se acalmasse totalmente. Queria que ela se sentisse protegida, e entendesse que não vou mais sair de perto dela, nem que para isso eu precise abrir mão de alguma coisa.
Tentei não transparecer o quão irritado que eu estava com toda aquela situação. Assim como ela, era difícil tirar da cabeça o fato de que a atitude de outras pessoas pudesse me fazer perder anos da vida da minha filha ou a chance de viver tudo de novo ao lado de quem me amava.
A pior parte disso tudo é que todos esses anos, pensei que tudo isso que aconteceu tinha sido culpa de Dulce e que ela havia me abandonado, quando na verdade, realmente nunca soube que eu estava vivo. Enquanto isso, eu estava me aventurando em algum lugar do mundo.
Acredito que seja por isso que me senti confuso o tempo todo em relação a ela. Eu via em seus olhos sua sinceridade, mas ao mesmo tempo aquela lembrança do médico me falando o nome dela e o que tinha sido dito na ligação vinha na minha mente, o suficiente para me deixar em meio uma confusão difícil de sair.
E mesmo assim, mesmo com toda essa confusão, eu acabei me apaixonando por ela. De novo.
♥
Oiii gente! Trazendo a continuação do último capítulo pra vocês, em breve encerrando mais uma parte da fanfic, indo apenas pro restante do desenrolar. Preparados? Volto em breve. Besos da Blan ♥
VOCÊ ESTÁ LENDO
No te olvides ✨
RomanceQuase 18 anos depois do desaparecimento de Christopher, seu pai acaba falecendo e deixando a empresa para sua única neta, Mariana. Dulce por ser a responsável pela menor, acaba tomando as rédeas da situação. Mas, ela não esperava que tudo isso trari...