Stalker

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A noite não havia acabado, apenas o nosso expediente, finalizamos as gravações e perguntei se ela queria que eu a levasse para casa, mas novamente ela falou que a Ice a levaria, fiquei um pouco triste porque queria passar mais momentos com ela, mas ok, não iria forçar, seria melhor assim.

Seria estranho eu perguntar se eu poderia buscá-la na volta? Acredito que sim.
Para isso eu teria que atravessar a cidade toda, eu não me importava, mas ela acharia no mínimo estranho.

Fui para casa, e segui com a minha rotina noturna normal, ultimamente eu estava me sentindo muito sozinha depois do trabalho, ela ficava algumas horas sem me enviar nenhuma mensagem e sumida das redes sociais por conta das aulas.
Eu ficava vagando em suas fotos e reparando nos mínimos detalhes do seu rosto angelical.
Só queria poder ficar perto dela, vê-la sorrir, sentir seu cheiro.
Meu Passa-Tempo favorito ultimamente estava sendo provocá-la.

Eu não teria nada para fazer em casa, então tive a brilhante ideia de segui-la, se eu não poderia estar por perto, eu apenas observaria de longe.

O horário que ela saia era bem tarde e ela pegava ônibus, então decidi que iria lá em frente a faculdade para poder acompanhá-la voltar para casa, ela não poderia me ver, até porque, o que eu diria? Que eu estava a seguindo?
Eu poderia parecer uma stalker, mas só queria protegê-la, mesmo que de longe e do meu modo.

Parei o carro na esquina e estava quase perto do horário que geralmente ela saia, esperei um tempo por ali e vários estudantes haviam saído, menos ela.
Estava quase desistindo quando eu a vi sair saltitando com a mochila nas costas acompanhada de duas amigas e um menino.

Eles foram caminhando na calçada contrária e pararam em frente a um bar, pensei comigo, o que ela estava fazendo uma hora daquelas e em um bar? Ela teria que trabalhar amanhã cedo e ela nem bebia.
Notei que eles estavam rindo muito, mas do lugar que eu estava, ficou um pouco longe para que eu pudesse perceber algo a mais, ou quem mais estava no bar, então saí com o carro um pouco mais para frente.
Ela estava bem-falante, ela costumava ser bem comunicativa com quem ela conhecia, acredito que a turma que ela esteja sejam amigos de muitos anos.
O garoto se sentou ao lado dela e passou o braço pelo seu pescoço, como se a tivesse a abraçando, e ela não recuou.
As meninas estavam gargalhando de algo que o garoto havia dito, e o garçom veio atendê-los.

Senti meus punhos fecharem, meu maxilar congelou e meus olhos saltaram, colei no vidro do carro e quando ela olhou nessa direção eu me escondi, deslizei para baixo no banco para que ela não me visse.
Meu coração estava na boca, nunca senti tantos sentimentos ao mesmo tempo, medo, nervoso, irritação.

O que aquele garoto estava pensando? Que intimidade era aquela? Meus pensamentos eram uma mistura de obsessão e medo, eu já não raciocinava direito.
Quem criou o ditado, escondido é bem melhor, é perigoso e divertido, não tinha um coração saudável.

Iria ficar ali observando até acabar o desenrolar daquela história estranha.
As duas meninas pareciam bem héteros, notei que alguns rapazes se aproximavam das mesas e elas faziam os típicos traços de garotas interessadas, a Yoko estava prestando atenção apenas na conversa do garoto, eu imaginei que o círculo de amizade dela fosse realmente hétero, pelo fato dela nunca ter tido uma experiência e não saber de mutas coisas, inclusive as gírias que utilizávamos.

Uma das amigas após tomar uma cerveja e comer algo foi embora, restou apenas a outra garota e o menino que continuava ao lado da Yoko, mas não mais com os braços ao redor dela.
Eu precisava estar pronta para o que quer que eu visse, poderia muito bem ser algum ficante, ou namorado.
Já fazia alguns meses que aquilo havia ocorrido conosco, e talvez ela tinha realmente seguido em frente, entendo que somos pessoas que trabalham juntas e que temos carinho uma pela outra agora.
No som do carro tocava uma música melancólica, não reparei muito na letra, pois meus olhos estavam vidrados a qualquer movimento que tanto ela, quanto o garoto fizesse.
Levei um susto com meu celular librando freneticamente, meu coração estava acelerado, baixei mais ainda no banco e atendi, antes que alguém ouvisse.
Escutei uma voz similar do outro lado da linha.

- Diga!


Tanya
- Onde você está?

- Aaah, uuuuh, éhh....


Tanya
- Que isso? Tá fazendo alguma coisa errada?


Sim, eu estava fazendo algo extremamente errado. Se eu falasse para a Tanya ela iria me julgar, ou realmente acharia que eu estava ficando louca, até porque eu estava mesmo!

Tanya
- Está me escutando?


- É, Eh que, na verdade, eu estou em frente a Stanford.

Tanya
- Você não está muito velha para ir para faculdade? Aaaah espera, você está com a Yoko aí?

- Huum, é, éh, na verdade, é que...

Eu estava tendo dificuldades para contar, então tentei mudar de assunto.


- O que você precisa?


Tanya
- Estamos indo jantar, eu e as meninas do salão, chama a Yoko também.

- Por que eu chamaria a Yoko?

Tanya
- Ué, você não está com ela em Stanford?

- A, ah, é que...


Tenho um sério problema de não conseguir mentir e a Tanya me conhece muito bem, até deslizei no banco do carro de vergonha do que eu iria dizer.

- Ela não está comigo, eu só estou aqui na frente a observando.

Tanya
- FAAAAAYE, VOCÊ É LOUCA?


- Não sei, acho que estou ficando.

Por mais que eu não quisesse pensar sobre isso, ultimamente eu estava extremamente fora de mim, estava perseguindo uma garota, e a garota que me feriu, que mesmo sendo difícil, expus todas as minhas camadas e mesmo assim preferiu me machucar.


Tanya
- Não deixa ela te ver pelo menos, se é para ser louca, seja uma louca discreta.


E ela começou a rir do outro lado da linha, eu acabei de contar que eu estava cometendo um crime e ela riu da minha cara.
Desliguei o celular e sai bem devagar com o carro para que eu pudesse observar melhor, quando ela virou para o lado para observar o carro saindo vi, me joguei para frente do volante a abaixei.
Eu realmente estava parecendo um stalker, esses pensamentos intrusivos de obsessão estavam acabando comigo.

Fui para casa pensativa, mesmo chegando em casa e relaxando eu ainda fiquei pensando, quem será aquele garoto? O que daria aquilo? Será que ela estava namorando alguém? Por que recusou duas vezes a minha carona?
Adormeci na esperança de poder pelo menos conversar com ela sobre o assunto amanhã.

Faye e Yoko - Blank The Series - GLOnde histórias criam vida. Descubra agora