Your green eyes

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1° de agosto de 2016, Rio de Janeiro, 4 dias para início da 31° edição dos jogos olímpicos.

— Muito bem, meninas, estão liberadas. Quarta-feira tem mais — disse Zé Roberto, e imediatamente Carolana se virou em direção ao vestiário, logo acompanhada por Gabi.

— Nossa, o treino de hoje me cansou! Estou doida para tomar um banho e comer alguma coisa — comentou Gabi, fazendo Carol soltar um leve riso.

— Para com isso, Gabriela! — respondeu Carol, dando uma leve empurrada na amiga.

Assim, as duas foram andando até a vila olímpica, conversando sobre a ansiedade de estrear nas Olimpíadas e sobre possíveis relacionamentos que poderiam surgir durante os jogos. Falaram de tantas coisas que, quando perceberam, já estavam na porta do alojamento. Carol entrou, colocando sua mochila em cima da mesinha próxima à porta, enquanto Gabi ligou o ar-condicionado e se despediu da blusa, jogando-a em cima do sofá.

— Ei... — disse Carol, fazendo uma careta de nojo ao pegar a blusa pela ponta dos dedos e jogá-la em cima da amiga, que estava rindo muito. — É sério? Você sabe que eu não suporto desorganização...

— Calma, Carolzinha! — Gabi respondeu, indo colocar a blusa na máquina de lavar. — Melhorou? — perguntou, e Carol balançou a cabeça em sinal de positivo. — Vou precisar da sua ajuda para uma missão...

— Qual é a besteira que você está planejando? — perguntou a morena, indo em direção à geladeira para pegar uma garrafa d'água.

— Você sabe que estamos no alojamento perto das holandesas, né? — Gabi disse, sem esperar pela resposta da amiga. — A Thaisa está com uma peguete nova e me chamou para sair com ela, a tal menina e umas companheiras de time. A Thai pediu para eu levar você também... Vamos?

— Olha, eu até posso ir, mas vou ficar quieta — respondeu Carol, fazendo Gabi a olhar com o cenho franzido. Afinal, Carol era a pessoa mais comunicativa que conhecia. — Não sei falar nada além do português... mas isso não é um problema. Que horas vamos sair?

— Às 23:00 — informou Gabi. Carol sorriu e assentiu, indo em direção ao quarto.

Aproximadamente 10 minutos se passaram desde que chegaram ao alojamento, e agora estavam devidamente de banho tomado e arrumadas para irem ao refeitório almoçar.

Do outro lado do corredor.

Anne saiu correndo de seu quarto para atender à nona ligação do dia de seus pais. Aquela insistência a fez reviver sentimentos de quando tinha apenas 13 anos, no início de sua carreira, quando a presença constante de críticas pouco construtivas a deixava nervosa. A holandesa deixou seu apartamento tão rapidamente que não percebeu a presença de duas jogadoras da seleção brasileira, que estavam ali rindo e brincando entre si. Sem querer, esbarrou em uma mulher de pele morena e cabelos levemente ondulados, ainda molhados, indicando que acabara de lavá-los.

Sorry — exclamou Anne ao perceber o ocorrido, sua voz carregada de pressa.

Carolana, abriu a boca para responder, acompanhada de um sorriso simpático, mas já era tarde. A mulher que estava utilizando um casaco da seleção holandesa, com seus olhos verdes intensos e cabelos levemente loiros, havia se afastado tão rápido que a resposta nunca chegou a ser pronunciada. Carol, ficou parada por um momento, sentindo um misto de surpresa e curiosidade. Havia algo na pressa de Anne que despertou uma dúvida em seu coração: o que teria feito aquela mulher agir de forma tão apressada? A intensidade dos olhos verdes da holandesa a intrigava de uma maneira que ela não esperava. Eram como um farol em meio à neblina, e a brasileira não pôde evitar a sensação de que havia algo mais por trás daquela corrida frenética.

Por um instante, o riso leve que a rodeava pareceu se dissipar, dando lugar a uma inquietação sutil. Ela não conseguia desviar o olhar do ponto onde Anne havia desaparecido, sentindo um impulso inexplicável de saber mais sobre ela. Seria apenas a preocupação de uma estranha, ou um indício do início de algo mais profundo? Os olhos castanhos de Carolana brilharam com a ideia, enquanto sua mente se enchia de perguntas sobre a vida da holandesa. Uma conexão se formava no ar, leve e delicada, como um fio invisível que as unia, mesmo que brevemente.

  - Carol tá tudo bem? - Gabi perguntou trazendo novamente sua atenção com um suspiro, tentou retomar o foco na conversa com sua companheira, mas a imagem de Anne ainda dançava em sua mente, a pergunta permanecendo: quem era aquela mulher que, mesmo em um momento tão breve, havia conseguido chamar sua atenção de forma tão intensa?

Anne, por outro lado, já se encontrava no pátio da vila olímpica. Ao atender o celular, seu coração se acalmou ao ouvir a voz de seus dois irmãos mais novos: Luke, que tinha 16 anos, e Joe, de apenas 6. Para ela, eles eram mais do que irmãos; eram seu alicerce, sua fonte de motivação e apoio incondicional.

— Oi, Anne! — exclamou Luke, sua voz cheia de entusiasmo. — Como estão as coisas por aí? Você já ganhou a partida?

— Estou me preparando, ainda não joguei — respondeu Anne, tentando esconder a tensão na sua voz. — E vocês? Como estão as coisas em casa?

— Bem, eu estou me dedicando aos treinos de vôlei também! — Luke respondeu, com um toque de orgulho. — Acredito que vou ser tão bom quanto você!

— Você já é incrível, Luke! — disse Anne, sorrindo ao imaginar seu irmão mais novo em quadra. — E o Joe, como está?

Joe, ouvindo a conversa, gritou ao fundo: — Eu quero jogar também, Anne! Quando você voltar, podemos treinar juntos!

— Claro, pequeno! — respondeu ela, a alegria tomando conta. — Você vai ser um campeão, eu tenho certeza!

— A gente pode fazer um torneio no quintal! — sugeriu Luke. — E vou ganhar de vocês!

— Isso é só se eu deixar, viu? — brincou Anne, lembrando-se das inúmeras vezes em que os três jogaram juntos no quintal. A competitividade saudável sempre foi uma parte fundamental de suas interações.

Os irmãos representavam uma parte essencial da vida de Anne, especialmente em momentos de pressão. Eles eram seu suporte emocional, sempre prontos para animá-la e lembrá-la de sua força. Luke, com sua determinação crescente, inspirava Anne a ser melhor, enquanto Joe, com sua inocência, trazia leveza e alegria a cada conversa.

— Eu sempre penso em vocês durante os jogos, sabia? — compartilhou Anne, tocada. — Vocês me dão forças para continuar.

— Estamos torcendo por você! — disse Luke, cheio de entusiasmo. — Lembre-se de que somos seus maiores fãs!

— E quando você voltar, eu quero ser seu parceiro de vôlei! — completou Joe, com uma voz cheia de expectativa.

— Combinado! — Anne respondeu, o coração aquecido pelo amor e apoio que sentia. — Depois da competição, teremos um grande torneio em família.

Ela desligou o telefone com um sorriso, sentindo-se mais forte e confiante. Seus irmãos eram a razão pela qual ela lutava com tanto afinco, e sabia que, independentemente dos desafios, eles estariam sempre ao seu lado, torcendo por sua vitória.

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