Manhã cansativa

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Já era cedo quando as meninas acordaram. No refeitório da Vila Olímpica, o ambiente estava cheio de conversas e brincadeiras, mas a ansiedade pelo início dos treinos ainda pairava no ar. Carol foi uma das últimas a chegar, junto com Gabi. Ambas tinham se perdido no caminho e, para piorar, não entendiam nada do que estava escrito em japonês no elevador.

— Bom dia, amor — disse Gabi, dando um selinho estalado em Sheila, que estava sentada com Thaisa e Fê Garay.

— Ai, meu Deus, que coisa melosa... nem são oito da manhã ainda! — Carol resmungou com um tom de voz carregado de sarcasmo.

O bico quase infantil que se formava em seu rosto era um sinal claro de que sua paciência estava se esgotando. Quem conhecia Carol sabia que, quando ela ficava assim, era por causa da saudade de Anne. No esporte, isso era até bom — Carol despejava toda a irritação na quadra. Mas, no dia a dia, ela se tornava insuportavelmente impaciente.

Rosa, que passava pelo refeitório, não perdeu a chance de alfinetar:

— Tô vendo que alguém tá começando a ficar de mau humor... Será que é saudade de uma pessoa específica?

— Uma holandesa, talvez? — Gabi se juntou à provocação com um sorriso malicioso.

Carol revirou os olhos, claramente irritada, mas a preocupação tomou conta. Será que estava tão óbvio assim?

— Nossa, do jeito que vocês falam, parece que é tão visível... É muito visível? — perguntou, sem conseguir disfarçar o desconforto.

— Sim! — todas responderam em uníssono, rindo da expressão de Carol, que cruzou os braços e fez um bico ainda mais evidente.

Carol bufou, visivelmente ainda mais irritada, cruzando os braços e fazendo aquele bico teimoso que denunciava sua impaciência.

— Ah, claro, porque é tão fácil viver sem paciência com tudo isso acontecendo ao meu redor! — ela reclamou, a voz subindo um pouco enquanto lançava um olhar impaciente para as amigas. — Gabi e Sheila, vocês duas com essa melação logo cedo, como se o mundo fosse cor de rosa! E ainda ficam me provocando como se eu estivesse um livro aberto, pronto para ser lido!

Gabi riu, tentando amenizar a situação.

— Ah, Carolana, você fica muito mais transparente quando tá com saudade... relaxa, é fofo até.

— Fofo? — Carol repetiu, indignada, revirando os olhos dramaticamente. — Fofura não resolve meu problema, Gabi! A gente tá no Japão, eu nem consigo entender nada direito, o treino já vai começar e... — ela suspirou profundamente, os ombros caindo em sinal de frustração. — E eu nem sei quando vou conseguir falar com a Anne de novo. A internet  daqui é péssima!

Thaisa, que até então observava quieta, deu uma risadinha.

— Ué, mas vai jogar, Carol. Desconta na quadra, a gente sabe que é assim que você resolve!

Carol lançou um olhar atravessado para Thaisa.

— Ah, claro, porque tudo se resolve jogando, né? — ironizou. — E vocês duas aí, — apontou para Gabi e Sheila, que tentavam segurar o riso — deviam estar colaborando em vez de ficarem me zoando! Isso não ajuda em nada!

Sheila, com um sorriso contido, colocou a mão no ombro de Carol.

— Tá bom, Carol, a gente só tá brincando. Mas sério, tenta se acalmar... Logo logo você fala com a Anne, e vai ficar tudo bem.

— Vai ficar tudo bem — Carol repetiu com uma imitação exagerada da voz de Sheila, sacudindo a cabeça. — Vocês não entendem! É a Anne! Eu não tô falando de uma simples conversa, eu tô falando da minha sanidade! E com vocês duas aqui se beijando na minha frente... Ah, é muita provocação pro meu estado mental, sério! — Ela bateu as mãos na mesa com força, irritada.

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