Despedida

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Era madrugada, e Carol estava sozinha em casa enquanto Anne acompanhava Joe no hospital. Aquela noite parecia diferente, envolta em um silêncio quase palpável. Faltavam os ruídos familiares que traziam vida ao apartamento — não havia o som de Joe e Anne jogando Uno na sala, nem a cantoria que preenchia a cozinha quando os dois cozinhavam juntos. A casa estava quieta... estranhamente quieta demais.

Carol demorou a dormir. Se revirava de um lado para o outro, como se buscasse algum alento naquele silêncio incômodo. Quando finalmente conseguiu pegar no sono, foi abruptamente despertada por volta das 2h30 da manhã, com o coração acelerado, imaginando, por um breve momento, que fosse Joe entrando em seu quarto, como fazia quando estava com medo. Ao sentir o vazio, Carol se deu conta do quanto o pequeno havia se tornado parte essencial do seu dia a dia, enchendo os espaços com sua presença alegre e inocente.

Levantou-se devagar e foi até o quarto de Joe. As paredes estavam adornadas com moldes de dinossauros, iluminadas pelas luzes de LED que ele tanto adorava. No criado-mudo, fotos de momentos felizes com Anne e Joe sorriam para ela, capturando uma felicidade que, de repente, parecia distante. Na cama, repousava Dino, a pelúcia preferida de Joe, que ele sempre levava consigo — mas, dessa vez, havia ficado para trás, como se algo estivesse errado.

Os pensamentos de Carol foram interrompidos pelo toque insistente do celular vindo de seu quarto. Ao atender, viu mensagens de Anne.

— Alô? — atendeu, a voz trêmula.

Do outro lado da linha, Anne falava em um sussurro quebrado, embargado pela dor.

— Carol... o Joe... ele... se foi. — A voz de Anne tremia ao tentar conter o choro. — Ele teve um pico de pressão durante a madrugada... e não resistiu.

O mundo de Carol pareceu congelar. Tentou formular palavras de consolo, mas foi vencida pelas próprias lágrimas, que escaparam sem controle.

— Eu... tô indo pra aí — murmurou, a voz falhando. Num gesto automático, pegou um casaco, os documentos e as chaves, sentindo o peso de cada passo enquanto se dirigia ao hospital, com o coração apertado, pensando em Anne e na perda irreparável que eles agora compartilhavam.

A ausência de Joe parecia pairar em cada canto da casa, e Carol sabia que nada mais seria igual.

Ao chegar ao hospital, Carol sentia o peso do cansaço e da dor nas pernas, mas algo maior a movia, impulsionando seus passos até Anne. O corredor do hospital estava quase vazio, e o silêncio ali era tão denso quanto o que preenchia sua casa naquela noite. Quando virou o último corredor, encontrou Anne sentada em uma das cadeiras da sala de espera, com o rosto cansado e os olhos fixos no chão.

Ao lado de Anne, Luke, o irmão do meio, estava cabisbaixo, com os ombros caídos e os olhos marejados. Anne segurava a mão dele firmemente, tentando ser uma presença de força, mas Carol percebeu o quanto ela estava se segurando para não desabar. Ela sabia o quanto Anne sempre cuidava dos irmãos, a responsabilidade que carregava, e sentiu o coração apertar ao vê-la tentando, mais uma vez, ser o alicerce de Luke naquele momento.

Quando Carol entrou na sala, os olhos de Anne a encontraram imediatamente. Sem dizer uma palavra, Anne soltou a mão de Luke e se levantou, atravessando o pequeno espaço que as separava. Quando chegou perto o suficiente, Carol a envolveu em um abraço apertado. Foi então que a barragem finalmente cedeu.

— Carol... — murmurou Anne, a voz sufocada pelas lágrimas que agora desciam livremente. Ela se permitiu chorar, tremendo em meio aos braços de Carol, como se todo o peso da perda estivesse caindo sobre ela de uma só vez.

Carol a segurava com toda a força, tentando transmitir qualquer conforto que pudesse, enquanto acariciava seus cabelos. Sentiu as lágrimas de Anne molhando seu ombro, e em silêncio, ela também chorava, compartilhando daquela dor indescritível.

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