Entre beijos, tesão e tempestades

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Carol finalmente havia despertado. A toalha que antes cobria seu corpo agora apenas protegia sua bunda e parte da coxa esquerda. Ainda deitada de bruços, os cabelos levemente úmidos, ela olhou para o relógio e viu que eram 2h47 da manhã. Estranhou o fato de Anne não estar ao seu lado na cama, como de costume. A mente de Carol logo voltou para a discussão que tiveram mais cedo. Ela sabia que havia descontado muita coisa em Anne, e, embora a namorada não tivesse culpa pelo seu passado ou pelas falsas promessas que já tinha ouvido, a dor a tinha levado a reagir de forma impulsiva.

Refletindo sobre o que havia acontecido, Carol se levantou lentamente, sentindo o peso emocional no corpo. Quando a toalha caiu ao chão, ela a ignorou e pegou o roupão de cetim preto, cobrindo-se sem muita pressa. Caminhou até o banheiro, lavou o rosto na pia, sentindo a água fria como um despertar para a realidade, e prendeu o cabelo em um coque frouxo. Ao olhar no espelho, ela viu o reflexo de seu próprio cansaço, as marcas da discussão ainda visíveis em seus olhos.

Respirou fundo, tentando aliviar a tensão no peito, e saiu do banheiro. Na cozinha, viu um post-it colado na geladeira, escrito com o português simples de Anne: "Seu açaí está aí dentro, não sei se você vai querer. Te amo, sua Anne." Carol não pôde evitar um sorriso ao ver o bilhete. Sabia o esforço que Anne fazia para escrever em português, e aquilo lhe tocou profundamente. Mesmo depois da briga, Anne ainda queria cuidar dela.

Sem pensar duas vezes, Carol abriu a geladeira, pegou o copo de açaí e se apoiou no balcão da cozinha. De lá, tinha uma visão da sala e viu Anne dormindo no sofá, com a televisão ainda ligada, iluminando o rosto da namorada com cores fracas e intermitentes. Sentiu um aperto no coração. Ela havia magoado Anne sem motivo justo. Sabia que precisava se desculpar.

Caminhou até Anne, seu açaí na mão, e ajoelhou-se ao lado do sofá. Com carinho, passou a mão suavemente pelo braço da namorada, tentando acordá-la de forma delicada.

Anne, que estava em um sono leve e agitado, acordou assustada com o toque repentino. Seu corpo reagiu involuntariamente, e, sem querer, ela acabou acertando um tapa no braço de Carol enquanto se virava rapidamente.

— Ai! — Carol exclamou, surpresa e um pouco dolorida.

Anne abriu os olhos num pulo, o coração disparado. Ao perceber o que tinha acontecido, o choque e o constrangimento tomaram conta dela.

— Meu Deus, Carol, me desculpa! — disse Anne, sentando-se rapidamente no sofá, com a expressão aflita. — Eu não percebi... me assustei, foi sem querer!

Carol, apesar da dor momentânea, não pôde deixar de ver o lado cômico da situação. Anne, desesperada e claramente arrependida, estava com os olhos arregalados, como se tivesse cometido um crime imperdoável.

— Tá tudo bem — Carol disse, com um sorriso pequeno e genuíno. — Eu devia ter te acordado com mais cuidado.

Anne, ainda nervosa, segurou a mão de Carol, esfregando o local onde a tinha acertado.

— Eu realmente sinto muito — Anne insistiu, a culpa estampada em seu rosto. — Eu estava tendo um sonho esquisito... nem vi que era você.

Carol suspirou, sentindo o peso da culpa por algo muito maior do que o tapa. Ela se sentou ao lado de Anne no sofá, o copo de açaí ainda na mão.

— Não se preocupa com isso — começou Carol, olhando para o chão. — Na verdade... eu é que preciso me desculpar. Fui muito injusta com você mais cedo.

Anne observou Carol com cuidado, percebendo o arrependimento sincero na voz da namorada. Ela sabia que aquela insegurança não era só sobre o presente, mas também sobre o passado de Carol, que ainda a assombrava.

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