In this world, it's just us

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Pov's Carolana

Após a final do vôlei, o clima era de despedida. A maioria das jogadoras da Holanda já estava de malas prontas, voltando para o seu país. No lado brasileiro, muitas das minhas companheiras estavam ansiosas para rever as famílias. Não era diferente para mim e para Anne. Ambas estávamos no meio desse turbilhão de emoções, arrumando as malas para deixar a Vila Olímpica.

Terminei de fechar a minha mala, mas uma parte de mim estava inquieta. Eu sabia que ainda faltava algo. Não era só o fato de ir embora da Vila — já tinha feito isso antes, era a rotina de ser atleta. Mas Anne... essa era a parte difícil. Decidi ir até o alojamento dela para me despedir.

Quando entrei, me deparei com Anne sozinha, tentando arrumar a mala dela. Suas companheiras de time já haviam partido. Ela estava lutando com o zíper, o rosto levemente vermelho de esforço. Era engraçado, mas também me deu um aperto no peito. Sabia que o que estava me aguardando do outro lado da porta era uma saudade enorme dela.

— Amor, você quer ajuda? — perguntei, me aproximando.

Ela me olhou, um misto de alívio e teimosia no rosto, mas deixou que eu me sentasse ao lado dela. Peguei um dos casacos que estava fora da mala e, quase sem pensar, levei até o nariz. O cheiro era inconfundível, uma mistura única de perfume e algo que só pertencia a ela.

Já sentia saudades antes mesmo de ir embora. Senti um nó se formar no meu peito. Sabia que, mesmo que nos falássemos por mensagens e chamadas, nada substituiria tê-la ali, ao meu lado. O silêncio entre nós não era desconfortável, mas sim carregado de sentimentos não ditos, como se o tempo estivesse passando rápido demais para os dois corações que só queriam mais um momento juntos.

Continuei ali, sentada ao lado dela, dobrando algumas peças de roupa e ajudando como podia, mas a verdade é que meu coração estava pesado. Cada movimento parecia um lembrete de que, em poucas horas, não a veria mais tão cedo. Por mais que estivéssemos acostumadas com as despedidas no mundo dos esportes, essa parecia diferente. Talvez fosse o fato de que, dessa vez, não sabíamos quando nos veríamos novamente.

Anne, por sua vez, estava concentrada em encaixar as coisas na mala, mas eu percebia o jeito como ela mordia levemente o lábio inferior, um sinal claro de que também estava tentando lidar com tudo aquilo. O silêncio entre nós não era desconfortável, mas era cheio de coisas que queríamos dizer e não dizíamos.

— Você vai voltar logo para cá? — arrisquei perguntar, tentando manter a voz neutra, como se a resposta não fosse importante. Mas era. Cada palavra dela significava muito mais para mim do que eu estava disposta a admitir.

Ela parou por um momento, olhou para mim e deu um sorriso pequeno, um pouco triste.

— Não sei, Carol. Acho que vai depender de muita coisa. Tenho compromissos na Europa... e você também tem suas responsabilidades aqui.

Eu sabia que ela estava certa, e é claro que os calendários dos campeonatos e a distância não ajudavam em nada. Mesmo assim, ouvir aquilo fez com que uma pequena parte de mim quisesse lutar contra essa realidade, como se houvesse algum jeito de fazer o tempo parar, de não deixar essa despedida acontecer.

Terminei de dobrar mais uma peça e estiquei o braço para tocar na mão dela, ainda apoiada na mala. Ela entrelaçou os dedos nos meus, apertando de leve. Era um gesto simples, mas carregado de significado. Ficamos assim por um tempo, sem precisar de palavras.

— Vai ficar tudo bem, né? — murmurei, quase mais para mim do que para ela.

Anne apertou minha mão um pouco mais forte e olhou nos meus olhos.

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