Strength to face challenges

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Estava se aproximando o dia em que Anne e Carol retornariam ao Brasil. O casal já estava há aproximadamente uma semana na casa dos pais de Anne, quando foram surpreendidas com a notícia de que teriam que entrar em lockdown devido à crescente disseminação de uma nova doença no país, a Covid-19. Além disso, as fronteiras aéreas foram fechadas para voos nacionais e internacionais, deixando-as presas na Holanda.

— Era só o que me faltava... — Carol murmurou, a preocupação visivelmente estampada em seu rosto enquanto andava de um lado para o outro pelo quarto de Anne. — Isso vai acabar com o nosso desempenho na temporada! Vai ter Supercopa, Superliga, Campeonato Mineiro... e a gente não vai ter treinado o suficiente para nada dessas competições. — Sua voz saiu entrecortada, quase trêmula, como se a avalanche de pensamentos estivesse sufocando-a. — E se isso chegar no Brasil, Anne? Meu Deus, minha mãe! Como ela vai lidar com isso sozinha?

Anne, sentada na cama, observava Carol com os olhos preocupados, mas tentava se manter calma. Sabia que precisava ser a âncora naquela situação.

— Carol... — Anne começou, levantando-se devagar e se aproximando da namorada, que continuava a andar sem rumo. — Vamos respirar fundo, ok? São só três semanas de lockdown... — Ela buscava as palavras certas, tentando acalmar a inquietação de Carol. — Eu prometo que, assim que as linhas aéreas reabrirem, eu vou comprar a primeira passagem disponível para o Brasil. Nós vamos voltar, tudo vai dar certo.

— E se demorar mais que isso? E se minha mãe pegar essa doença e eu não puder estar lá? — A voz de Carol estava à beira de um colapso, a ideia de estar tão longe de sua família em um momento tão incerto a atormentava.

Anne segurou as mãos de Carol, apertando-as firmemente.

— Ei, olha pra mim... — pediu, com um olhar firme e reconfortante. — Eu sei que você está com medo, e eu também estou. Mas não vamos nos desesperar por algo que ainda não aconteceu. A gente vai se cuidar aqui, e sua mãe vai se cuidar lá. E assim que for possível, vamos voltar juntas, ok?

Carol assentiu, mas ainda sentia o nó na garganta. O coração apertado, o peso da responsabilidade com sua equipe e a preocupação com Dona Terezinha pareciam esmagá-la. Anne, percebendo isso, envolveu Carol em um abraço apertado, tentando transferir toda a calma que ela mesma lutava para manter.

— Vai ficar tudo bem, meu amor — Anne sussurrou. — Um passo de cada vez.

Carol, embora ainda tensa, se deixou ser reconfortada. A presença de Anne, mesmo naquela casa distante, era o que a fazia se manter firme em meio ao caos.

O silêncio do quarto foi preenchido pelo som dos suspiros tensos de Carol. Mesmo nos braços de Anne, ela sentia o peso do mundo em seus ombros, e a angústia parecia transbordar de dentro de si. Seus olhos estavam fixos em um ponto indefinido, como se procurasse respostas que não viriam. Finalmente, o que ela tentava conter desmoronou.

— Anne... eu não sei se consigo... — murmurou, sua voz frágil e trêmula. — Não consigo parar de pensar na minha mãe, na equipe... em tudo que pode dar errado.

Anne sentiu o corpo de Carol tremer levemente, como se um fio de força tivesse sido cortado. Os soluços começaram a escapar, primeiro baixos e quase contidos, até que Carol desabou completamente, afundando o rosto no ombro de Anne.

— Não aguento isso... — Carol soluçou, a voz abafada pelo choro. — E se as coisas ficarem piores? Se a gente não conseguir voltar? Eu devia estar lá pra ajudar, devia estar perto da minha mãe... E se ela precisar de mim?

Anne a apertou ainda mais contra o peito, tentando ser a fortaleza que Carol precisava. Sabia que, naquele momento, as palavras talvez não resolvessem, mas a presença e o conforto eram tudo o que podia oferecer.

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